Como no «Cilindro de Ciro»
Crónica de Joana Amaral Dias
A TERRA DOS ARIANOS
A surpresa das eleições iranianas e a vitória do quase desconhecido e ultraconservador Ahmadinejad, recoloca a questão das relações do Irão com o Ocidente e a reflexão sobre a motivação do povo que o elegeu.
(Texto completo em "Comentário-1")
A TERRA DOS ARIANOS
A surpresa das eleições iranianas e a vitória do quase desconhecido e ultraconservador Ahmadinejad, recoloca a questão das relações do Irão com o Ocidente e a reflexão sobre a motivação do povo que o elegeu.
(Texto completo em "Comentário-1")
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Como no «Cilindro de Ciro»
Cónica de Joana Amaral Dias
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A TERRA DOS ARIANOS
A surpresa das eleições iranianas e a vitória do quase desconhecido e ultraconservador Ahmadinejad, recoloca a questão das relações do Irão com o Ocidente e a reflexão sobre a motivação do povo que o elegeu. Vários receios se alinham no rescaldo das urnas a rigidificação dos costumes (até agora relativamente equilibrados pela dicotomia reformista e ultra-religiosa), o armamento nuclear, a influência extremista sobre o Iraque e sobre o terrorismo.
Esta vitória deve-se, parcialmente, à reactividade aos norte- -americanos que, sobretudo desde Janeiro, e sob o mote das armas de destruição massiva e da "expansão da democracia", endureceram as suas "diligências" com o Irão. O ex--presidente Khatami, embora não tenha cedido completamente, mostrou alguma abertura. Neste sentido, alguns analistas chamam a este voto antiamericano. Contudo, a mobilização dos iranianos passa também pela extrema pobreza em que milhões vivem. Na verdade, contaram com quase uma década de governo reformista que não soube dar resposta a uma economia altamente fragilizada. Ahmadinejad soube lucrar com as duas faces do descontentamento, conduzindo uma campanha eleitoral não apenas antiamericana e fortemente religiosa, mas também populista, prometendo maior equilíbrio nos lucros do petróleo e granjeando apoios entre os mais pobres.
Aqui reside uma importante lição que o Ocidente devia tirar como, aliás, já há muito deveria ter concluído. Não soube aproveitar o período em que o Irão teve um líder relativamente moderado ostracizou-o, insistiu no embargo que dura há 20 anos, aumentou a parada. E porquê? Foram os direitos humanos, a democracia e o garante da paz nuclear as prioridades? Não parece, tendo em conta o embargo e o fiasco da conferência do Tratado de Não Proliferação Nuclear: os EUA exigiram o desarmamento do Irão e da Coreia do Norte, quando nem os próprios EUA o cumprem ou prescrevem iguais critérios para os seus aliados, como a Índia, Israel e Paquistão. A importância geostratégica e a riqueza natural do Irão sobrepuseram-se, como reza a sua história. Referindo apenas a fase mais recente, quando o Irão reconquistou a sua independência das forças britânicas e russas depois da II Guerra Mundial seguiu-se um período relativamente pró-ocidental. Até 1978, o Ocidente pouco o potencializou, até que se dá a Revolução Islâmica, radicalizando indelevelmente o país e agudizando, uma vez mais, as relações.
Agora, de novo a braços com um líder radical, chora-se a oportunidade esbanjada. No entanto, o Irão tem pouco a perder. Há muito que suporta sanções e o petróleo está na sua terra. Teerão tem tempo, muito tempo. Os EUA, confrontados com o abismo da guerra civil no Iraque e com a subida do preço do petróleo, têm urgência. Um paradoxo como o Cilindro de Ciro, considerado a primeira carta de direitos humanos alguma vez escrita, mas tratando da conquista da Babilónia pelo rei persa.
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ANTES QUE SEJA CEDO
Com o petróleo a 60 dólares o barril e no dia seguinte à vitória de Ahmadinejad no Irão, Rumsfeld avisa que a paz no Iraque poderá só ser possível daqui a 12 anos.
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QUEM, EU?!
Há uns dias, os EUA reconheceram abusos a prisioneiros em Guantánamo, no Iraque e no Afeganistão. No domingo, assinalando os 60 anos da ONU, Bush enfatizou o combate à tortura.
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SOPA DE LETRAS
Entre "Os Apanhados" de Carrilho e a extensão contabilística das suas ideias, o forró de Felgueiras e o rufar dos tambores de Amarante por Avelino Torres, a corrida para as autarquias mal começou e já vai torta. Agora é Jorge Coelho que acusa Fernando Seara de gostar mais de comentar bola do que da Câmara de Sintra. Se, a partir daqui, fosse entabulado um diálogo sobre o futebol nos respectivos partidos, não havia caracteres que chegassem.
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VER E SER VISTO
Já tínhamos visto muitas passagens de nível perigosas. Já tínhamos visto muitas sinalizações rodoviárias ausentes ou contraditórias. Já tínhamos visto estradas assassinas. E pelos vistos também já tínhamos visto estradas a atravessar aeródromos. Mas fingimos que não víamos, até nos entrar pelos olhos dentro. E não se esqueçam o colete é obrigatório.
«DN» 28 Jun 05
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