17.8.05

Eco de uma coincidência

APESAR de Xerazade contar uma história por noite, «As mil e uma noites» não têm 1001 contos - apenas uns trezentos, mas isso agora não interessa.

O que eu gostaria de referir é que, logo no início (na «História do Vizir Castigado»), é referido um determinado livro cujas páginas são difíceis de passar. O vizir, que o quer ler, vai molhando os dedos, lambendo-os, e a certa altur, morre porque as folhas estão impregnadas de veneno.

Agora veja-se a minha surpresa quando, ao ler «O nome da rosa», reparo que uma boa parte do romance gira em torno do mistério de um determinado livro cujas páginas são difíceis de passar e cujos leitores vão morrendo quando o folheiam lambendo os dedos, porque as folhas (vem-se a saber no fim, com GRANDE ESPANTO) estão impregnadas de veneno.

Independentemente da excelência da obra, confesso que, nesse aspecto, o romance foi para mim uma decepção.

2 Comments:

Blogger Helder Mendes said...

Caro Medina Ribeiro: Nada de espantar. Eco, em O Nome da Rosa, faz uma série de homenagens ao mundo da literatura, seja por pastiches ou por outros meios. Para além das Mil e Uma Noites, o escritor italiano utiliza, no seu romance uma figura incontornável: o bibliotecário Jorge, cego e conservador, não é senão Jorge Luís Borges, também ele cego, bibliotecário e conservador.
Outra ainda: Guilherme de Baskerville é uma referência óbvia a Arthur Conan Doyle; o seu discípulo Adso de Melk ainda o reforça mais ("adso" significa "elementar")
Por isso, não percebo o porquê da sua decepção. Veja essas referências como tributos ou homenagens - pois é disso mesmo que se trata.

17 de agosto de 2005 às 15:02  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro Peter of Pan,

Eu sei isso tudo.

Mas, enquanto as "homenagens" que refere estão amplamente documentadas, esta do vizir nem por isso.

Além do mais, essas outras não afectam em nada o "suspense" da história, enquanto aquela a que eu aludo afecta-a totalmente.

17 de agosto de 2005 às 15:33  

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