O homem do olho-de-vidro
CERTO dia, um homem muito rico que ficou cego de um olho num acidente de caça, mandou fazer um outro, de vidro, do melhor e mais caro que conseguiu arranjar.
Achava ele que, como tinha gasto nisso uma fortuna, ninguém conseguiria distinguir o olho artificial do verdadeiro. No entanto, para sua grande irritação, ninguém se enganava!
Até que um dia encontrou um sem-abrigo e propôs-se oferecer-lhe algum dinheiro. Pretendia, por força, que alguém lhe dissesse (nem que, para isso, tivesse de pagar!) que ambos os olhos eram iguais ou - melhor ainda! - que o de vidro é que era o verdadeiro.
E foi exactamente isto o que o mendigo lhe disse, mas com o argumento de que o olho-de-vidro era, dos dois, aquele em que conseguia ver alguma piedade...
(Ver «Comentário-1»)
1 Comments:
NOTA: Além dos textos escritos que conhecemos, O.W. criou inúmeras histórias que não quis passar ao papel - e esta é uma delas, registada toscamente por alguém que um dia lha ouviu.
Ele contava-as ao vivo, fazia teatro com elas e - "pior" do que tudo - modificava-as constantemente, havendo várias versões da mesma (às vezes até opostas) - como a de Lázaro ressuscitado e a do eremita arrependido que talvez um dia aqui se venham a contar.
Quando, já no fim da sua vida, se viu atormentado com dificuldades económicas, pagou muitas vezes com histórias como esta as refeições que lhe ofereceram.
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