19.4.06

Manta curta (*)

ENDIVIDADO até ao tutano e refém da banca, o Sporting continua a ter uma manta futebolisticamente curta (um orçamento anual de 17,5 milhões de euros) para atingir os seus objectivos estratégicos (título de campeão ou, pelo menos, o segundo lugar, que dá acesso directo à fase de grupos da Liga dos Campeões). Sendo certo que a estratégia é a arte de distribuir e aplicar os meios disponíveis, é evidente que a escassez desses meios condiciona muito a sua utilização no terreno de jogo, isto é, o dispositivo táctico.

O que Paulo Bento tentou, e bem, foi adequar o dispositivo táctico aos meios de que o futebol do Sporting dispõe, procurando tirar deles o máximo rendimento possível. Se tivesse tomado conta do comboio logo na estação de partida, em vez de o apanhar já em andamento, como sucedeu, o Sporting estaria agora, porventura, a caminho do título, disfarçando a escassez de meios, tal como o fez, por exemplo, Giovanni Trapattoni com o Benfica, na época passada. Apesar de o FCP estar muito melhor, nesta época. O treinador do Sporting deve ter perfeita consciência das limitações de meios ao seu dispor. Se a sua equipa jogar muito aberta, em ataque continuado, arrisca-se a sofrer golos (como sucedia com José Peseiro). Se jogar muito fechada, privilegiando a solidez defensiva, arrisca-se a não criar as oportunidades suficientes para marcar golos.
Ou seja, a manta é curta: faltam mais jogadores de categoria, no meio-campo e à frente, para que esta equipa do Sporting pratique um futebol mais amplo e ofensivo, que não prejudique o equilíbrio entre defesa e ataque. O certo é que nem Deivid, nem Koke se têm revelado como parceiros à altura de Liedson, que continua muito desamparado lá à fren- te e se vai esgotando a olhos vistos na sua quase solitária missão atacante.
Este Sporting pratica um futebol à italiana, já o disse várias vezes. Mas o futebol tão eficaz como soporífero das equipas italianas vive bastante da quantidade e qualidade técnica dos jogadores de que dispõe. Dinheiro a rodos dá muito jeito para dispor de uma manta larga. E só com esta a estratégia e a táctica se coadunam, rumo às vitórias.
A nível doméstico, a manta mais larga é a do FCP treinado por Co Adriaanse. E, independentemente das antipatias ou ódios pessoais que gerou, o certo é que ele reve-lou coragem e realismo ao optar por um futebol ofensivo contrário ao estilo italianizado que predomina na Liga portuguesa. A inversão do 4x3x3, transformado em 3x3x4, é deveras interessante, porque manifesta uma predisposição atacante que intimida os adversários e os faz recuar no terreno, desde o início do jogo. Depois, a flexibilidade táctica permite a fácil absorção da linha da frente pelas linhas detrás, quando toca a defender. Quem tem manta larga, em Liga de mantas curtas, é campeão. Co Adriaanse bem o percebeu.
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(*) Crónica de Alfredo Barroso no «DN» de hoje, aqui publicada com sua autorização

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