A confissão

De qualquer forma, enquanto Mário Lino vem ou não vem fazer um comentário desses às declarações que lhe são atribuídas, aqui fica a crónica de Fernando Madrinha no «Expresso» de hoje sobre tão bizarro assunto:
O ministro iberista
Comecemos por reproduzir a declaração, tal qual veio publicada no dia 24 de Abril pelo jornal «Faro de Vigo»:
«Sou um iberista confesso. Temos uma história comum e uma língua comum. Há unidade histórica e cultural e a Ibéria é uma realidade que persegue tanto o Governo espanhol como o português. Se há algo importante para estas relações são as infra-estruturas de transporte».
(Ver o texto integral em «Comentário-1»)
3 Comments:
O ministro iberista
Comecemos por reproduzir a declaração, tal qual veio publicada no dia 24 de Abril pelo jornal «Faro de Vigo» :
«Sou um iberista confesso. Temos uma história comum e uma língua comum. Há unidade histórica e cultural e a Ibéria é uma realidade que persegue tanto o Governo espanhol como o português. Se há algo importante para estas relações são as infra-estruturas de transporte».
Estas considerações foram feitas em Santiago de Compostela, Galiza, Espanha, por um cidadão português que, por acaso, é também ministro. Aliás, falava nesta qualidade, perante uma audiência composta por 150 quadros galegos da Caixa Geral de Depósitos e do Banco Simeón.
Chama-se Mário Lino e tem, no Executivo português, a pasta das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. Não houve até agora desmentido nem correcção que pusessem verdadeiramente em causa a declaração reproduzida, pelo que não há também motivo para se questionar a fiabilidade do jornal.
Lino pensa o que diz. E di-lo, aliás, em termos que não deixam margem para segundas leituras, apesar de, em declarações ao «Independente», ter informado ontem que falava do «iberismo» aplicado à sua área específica. Ora, não se vê o que possam ter a ver com estradas, pontes ou comboios de alta velocidade a suposta «unidade história e cultural», ou com a «história e a língua comuns» que o ministro certamente inventou para sublinhar melhor o seu fervor iberista. Mesmo falseando a realidade histórica e factual que todos os portugueses conhecem.
Não é concebível nem aceitável que um ministro português ignore o conceito a que corresponde a palavra «iberismo» no discurso político. E por isso não é concebível nem aceitável que a use com a desplicência e ligeireza com que o fez. O insólito da situação, para não dizer o caricato, é tal que o próprio «Faro de Vigo» a estranha, observando que, «enquanto a Espanha é sacudida pelos debates sobre os estatutos autonómicos e sobre se o Estado se desmembra e se rompe como nação», vem o ministro português confessar-se «iberista» e convencido de que Espanha e Portugal «têm pela frente um futuro em comum».
Quer dizer, enquanto as regiões e os povos de Espanha querem mais autonomia e algumas batalham pela independência, há no Governo do único país da Península que resistiu durante oito séculos e meio à força hegemónica de Castela, alguém que se declara defensor de uma unificação ibérica.
O cidadão Mário Lino pode ter as opiniões que bem entenda, mesmo as mais bizarras. O ministro português das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, esse devia ter esclarecido o país sobre essas convicções pessoais antes de aceitar o cargo. E o facto de administrar as Obras Públicas não desvaloriza nem desagrava o seu lastimável discurso.
Desde logo porque um ministro é sempre um político e como tal tem de raciocinar e intervir. Depois, não pode subsistir a menor dúvida de que as suas opções estratégicas - um aeroporto na Ota e este ou aquele traçado do TGV, por exemplo - são tomadas em função de princípios ou convicções que não correspondem minimamente às da generalidade dos portugueses, nem a qualquer doutrina do Estado ou orientação de Governo.
Ninguém pode surpreender-se quando o primeiro-ministro, falando de economia e das prioridades do Governo, responde «Espanha, Espanha, Espanha». É uma evidência para toda a gente que as relações com a Espanha se impõem e devem ser incentivadas no que sejam mutuamente vantajosas. Outra coisa é o discurso político do Governo ficar contaminado pelas esdrúxulas convicções pessoais de um dos seus ministros.
A menos que Mário Lino fale uma língua diferente, ou as palavras já não sirvam para nada, alguém que se proclama «iberista confesso» não deve integrar o Governo de um país cuja soberania foi conquistada precisamente contra as teses iberistas, com este ou com outro nome.
Se não esclarecer o mal-entendido - admitindo, contra todos os indícios, que ele possa ter existido - todas as suas decisões passadas e futuras ficarão sob suspeita.
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F. Madrinha, «Expresso» de 6 Maio 06
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(Enviado por Jorge Oliveira)
Lá porque o homem é ministro, já não pode ficar "com os copos" de vez em quando?!
Francamente!
Mário Lino é um idiota completo mas não é ministro dos N.E.; é sim das O.P. e Telecomunicações, área onde a margem de decisão varia com os interesses espanhóis.
O planeamento nacional de estradas, barragens, gasodutos, caminhos-de-ferro, aeroportos já há muito deixou de ser prerrogativa de portugueses e já não há fabricante de electrónica de telecomunicações que não tenha centralizado a gestão dos dois mercados num único escritório ibérico (com excepção da Siemens, talvez).
O Sr.Lino conhece por dentro esta sua inutilidade, e a forma que encontrou para sublimar a frustração que deve sentir nesse papel é legitimar um todo maior, o tal "destino comum" ibérico, para com isso se imaginar parte decisora do mesmo.
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