Gaia
JUNTOU três vezes mais gente do que o Papa, no dueto ecuménico com o Patriarca Bartolomeu. Teve música - os épicos musicais dão melhor a gravitas da vetusta Europa - mas também bandeirinhas com "Portugal merece melhor" a dar o ambiente de umas primárias americanas. Portuguesmente, foi de comes e bebes, mas sem renegar um não sei quê de cerimónia de entrega de Óscares. Em Gaia, Luís Filipe Menezes anunciou a boa nova que é ele mesmo aos comensais, a Marques Mendes e ao país.
É certo que ao filho, que lhe terá perguntado para que era o almoço, o nosso herói terá dito que não sabia "responder bem". Mas esta comovente ignorância parece só ter contaminado o núcleo familiar restrito, pois não consta que mais alguém tenha sentido a mesma curiosidade e, pelo contrário, todos pareciam saber muito bem ao que iam.
Vedetas não haveria. Mas quer o homem do dia quer pelo menos um dos oradores convidados iriam dizer do seu esconjuro à sinistra galeria de Lombroso dos barões do "centrão" e dos "intelectuais" que preferem ficar na Rua de S. Caetano à Lapa e que "não nos ouvem". Mas havia um estado-maior santanista, inconformado na nostalgia da sua glória efémera, gente que um fugaz solavanco da História catapultou a uma altura irrepetível - e aqui pontuavam, por exemplo, Rui Gomes da Silva e Helena Lopes da Costa. O que, aos malévolos, poderia sugerir uma traição pessoal, moralmente feia, às tentativas ansiosas de regresso do "menino guerreiro". Mas em que os benévolos (em que eu, neste caso muito particular, me incluo) preferem ver a inanidade política de um pacto para uma lunática aventura do poder partidário. Assim, nem o CDS nem os americanos no Iraque se poderão ficar a rir: o PSD já descobriu o filão da guerra sectária permanente.
Rir pode Sócrates. Ele, que foi o alvo formal de todas as críticas, nem chegou a ser, desta história, o Bei de Tunes. De tão óbvio que os oradores tornaram o seu propósito de "ensinar" Marques Mendes a fazer oposição ("não trauliteira", esclareça-se). E de tão notória que foi a tentativa de fazer charme a Cavaco, acusando a direcção dessa inefável infâmia que é querer "chegar ao poder ao colo do Senhor Presidente da República".
Mesmo quem admitir essa hipótese de trabalho que é Portugal merecer melhor, mesmo quem entender que raramente o PSD terá merecido Portugal, terá de reconhecer, perante as imagens televisivas do almoço de Gaia, que o PSD merecia melhor.
«DN» de 3 de Dezembro de 2006Etiquetas: NBS
1 Comments:
O autor não tem culpa, mas está mal informado acerca da Helena Lopes da Costa.
Quando Santana Lopes disputava a liderança do PSD a Durão Barroso, essa senhora chamava traidores aos apoiantes de Santana ! Porque tinha apostado em Durão.
Depois, quando se apercebeu que não tinha grandes perspectivas da parte de Durão e viu Santana ganhar as eleições para a Câmara de Lisboa, foi a correr jurar fidelidade a Santana. E ele aceitou.
JO
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