12.3.07

Quem disse que o «Guarda Geleia», do Jô Soares, era pura ficção?


(Texto completo em «Comentário-1» e aqui)

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

TEXTO INTEGRAL:

Medo. Foi o que "António", nome fictício, confessou ter sentido quando soube que ao fim de 25 anos pode vir a ter de trabalhar na rua outra vez. Integra o grupo dos cerca de 4800 agentes que prestam serviços de apoio na GNR e PSP e que, com a reestrutração das polícias, o Governo pretende que voltem a ser operacionais .

Com 25 anos de serviço na GNR, e 51 de vida, aquele soldado há mais de 20 que não sente o peso da sua arma. E já nem sabe onde guardou o bastão, confessa ao DN. "A minha acção, pela lei e pela grei, tem sido no serviço de intendência, a contar e a distribuir fardas", diz, admitindo sentir-se "em pânico". "Se for obrigado a fazer patrulha encosto-me a qualquer lado. Só me faltam dois anos para a reforma." "António" não tem vergonha de reconhecer que não se sente "minimamente preparado" para voltar a enfrentar o crime.

Os sindicatos do sector, contactados pelo DN, garantem que o "medo" deste soldado é partilhado pelos cerca de mil agentes da PSP e da GNR que trabalham em bares e cozinhas. Assim como pelos 250 que se dedicam à manutenção de instalações. Ou pelos 30 que só cortam cabelos, e ainda pelos 23 que só consertam calçado. "Muito entraram por cunha, outros porque na ficha de inscrição, antes do curso, se apresentaram como aprendizes de uma qualquer profissão na vida civil", conta "António".

No total, juntando os que exercem funções administrativas, são cerca de nove mil os agentes da PSP e da GNR (aproximadamente 20% do efectivo) que nunca saem à rua para exercer funções operacionais, segundo um estudo da empresa de auditoria Accenture para o Ministério da Administração Interna (MAI). Em remunerações, o custo daqueles nove mil efectivos ronda os 176 milhões de euros/ano - o Estado gastou cerca de 40 milhões na sua formação como polícias.

A 1 de Março, o Governo aprovou a intenção de passar 4800 elementos dos serviços de apoio para operacionais de rua, no âmbito da anunciada reforma das forças de segurança. Neste sentido, bloqueou a entrada a novos agentes nos próximos dois anos.

Pânico

O inspector-geral da Administra-ção Interna, Clemente Lima, aconselha que se actue com cautela. "As confusões podem gerar desânimos", disse o inspector, admitindo que não vai ser fácil transformar em operacional um administrativo que sempre esteve atrás de uma secretária.

"Alguns guardas, em toda uma carreira na GNR, só foram mecânicos, pedreiros ou cozinheiros", referiu ao DN José Manageiro, presidente da Associa-ção dos Profissionais da Guarda (APG). Hoje são variadas as tarefas de apoio logístico executadas na PSP e na GNR - em obediência ao princípio da auto-suficiência inerente às instituições com perfil militar. É o sapateiro, é o telefonista, é o soldado que só lava o cavalo do comandante e a respectiva cavalariça, é o motorista, o copeiro, os alfaiates, e, até, os impedidos. Esta última figura, que tem como única tarefa servir o chefe - levar o café, o jornal -, ainda vai sobrevivendo.

Toda esta gente não está minimamente preparada para voltar ao teatro de operações. Os sindicatos fa-lam em "pânico instalado".

"Há elementos que fizeram patrulhas um ano ou dois e estão há 20 à secretária", lembra o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP-PSP). Paulo Rodrigues defende que quem tenha 45 anos ou mais, e esteja em funções administrativas, não deve voltar ao trabalho de rua, o mesmo devendo suceder a quem está afastado do patrulhamento há 20 anos, embora com menos de 45 anos de idade.

José Manageiro, da APG, considera "um erro" o encerramento dos concursos. Em seu entender, "os que vão sair das secretarias não estão preparados para manter o nível de operacionalidade exigido à GNR".

Civis desempenham funções

O MAI tem já identificados seis mil postos de trabalho que podem ser desempenhados por civis sem formação policial ou militar. Para já, vão ser libertados 1800 efectivos que serão substituídos por civis do quadro excedentário da administração pública. Os restantes, até perfazer os 4800 anunciados, vão regressando à rua à medida que alguns dos serviços forem passando para outsourcing.

Assim, muitos dos actuais cozinheiros, mecânicos e sapateiros verão, em breve, os seus serviços prestados por empresas privadas, voltando a colocar o coldre e o bastão. Com ou sem medo.
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«DN» de 11 Março 2007

12 de março de 2007 às 09:49  
Anonymous Anónimo said...

Esta manifestação de pânico, ainda por cima declarada a um jornalista que a ia publicar, é, mais do que uma VERGONHA, de um RIDÍCULO SUBLIME.

Querem apostar que em breve vamos ler nos jornais: «Governo recua na intenção de (...)»?

Ed

12 de março de 2007 às 10:36  
Anonymous Anónimo said...

Será que esses «Geleias» até têm medo de multar carros mal estacionados - a tal tarefa que a Associação Sindical reclama para a PSP?

12 de março de 2007 às 10:38  
Anonymous Anónimo said...

Há quantos anos ouvimos nós esta conversa agora anunciada?

Claro que não vai acontecer nada.

R.

12 de março de 2007 às 10:40  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Nabos a mais, tomates a menos

Recentemente, num daqueles irritantes vídeos que as televisões nos mostram de vez em quando, vimos mais um assalto num comboio da Linha de Sintra - mas este tinha uma particularidade:

No meio de assaltados e assaltantes, um indivíduo de uma empresa de segurança, devidamente fardado, assistia a tudo. Mas não estava impávido e sereno, não senhor - o nosso homem ria-se, nervoso, decerto rezando para que o deixassem em paz, como o Guarda Geleia que Jô Soares tão bem satirizava. E, como não era Segurança da CP, nada daquilo era com ele. Portanto, uma vez consumado o roubo, afastou-se dali, de saquinho na mão, sempre sorrindo. Gostei do seu auto-controlo, pelo que fiquei cheio de curiosidade de saber em que empresa trabalha tão bravo cidadão.

Dias depois, nova barafunda num desses comboios. Accionado o sinal de alarme, a composição pára, salta gente para a linha, há feridos, e dois suspeitos são presos, pouco depois,... por polícias de trânsito!

No mesmo dia, cinco perigosos cadastrados fugiam, em plena luz do dia, da cadeia de Coimbra.

Um senhor explicou para a TV que ainda apareceu um guarda prisional a correr... e em cuecas.

Entretanto, como não podia deixar de ser (e enquanto nós nos rimos, para não chorar...), o Governo diz que vai mandatar um grupo de peritos para avaliar as falhas de segurança nas prisões portuguesas.

Procuro uma boa definição para «perito» e encontro:

«Indivíduo que sabe cada vez mais de cada vez menos, até que sabe tudo de nada».

Mas prefiro esta outra:

«Pero pequenito».

__

"Diário Digital" 24 Jun 05

12 de março de 2007 às 13:29  
Anonymous Anónimo said...

Importante:

Não se trata de pessoas que foram contratadas para essas funções "laterais" e que o Governo quer agora pôr a desempenhar funções policiais.

Esses indivíduos foram contratados como polícias, tiveram o respectivo treino, e só depois é que acabaram a fazer funções diversas.

Mas também acredito que isto não passa de conversa-fiada e que o governo vai recuar.
Como das outras vezes, daqui a um par de dias já ninguém se lembra disto.

12 de março de 2007 às 13:40  

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