20.9.07

O PSD À PROCURA DA SUA CLASSE

Por Pedro Lomba
A CRISE DO PSD desencadeou, entre outras coisas, uma discussão sobre a base social do partido. Agora que o PSD vegeta nas sondagens e tem a liderança por resolver, são muitos os que afirmam que o PSD perdeu a sua base social de apoio e que se tornou um partido incaracterístico e como que mutilado. Obviamente, esta maneira de ver o problema pressupõe duas ideias discutíveis: primeiro, que o PSD, ou qualquer outro partido, teve alguma vez uma base social clara de apoio; e, segundo, que um partido que quer governar precisa dessa base social clara.
Em Portugal, há muito tempo que direita e esquerda deixaram de usar um discurso classista na política. Aliás, certamente nunca o usaram, com a óbvia excepção do PCP, o único partido português que nasceu de uma teoria classista sobre o mundo e que persiste em alimentar essa teoria antiquada, embora sem a virulência semântica de antes e com notórias dificuldades em perceber o que é e onde está hoje o mítico proletariado. Para além do PCP, a base social dos nossos partidos é tudo menos evidente. O CDS sempre foi Avelino Ferreira Torres e a alta burguesia emproada. O PS ainda traz consigo a pequena burguesia urbana, o funcionalismo público e o velho republicanismo que, como sucedeu a Afonso Costa, costuma enriquecer depois de passar pelo poder. O PSD reúne profissionais liberais, pequenos comerciantes e proprietários rurais e todos os tipos concebíveis de classe média: já se chamou ao PSD o partido dos "lojistas", mas a designação não cobre muitos PSD que eu conheço e outros que, em vez de lojecas, possuem bancos. O Bloco de Esquerda não assenta sequer numa classe reconhecível, a não ser em intelectuais de extracção diversa e numa certa esquerda urbana abastada que sempre defendeu o igualitarismo socialista na rua, desde que não tivesse de abdicar do 'status' capitalista em casa. Este é, com alguma categorização apressada, o retrato de uma vivência partidária socialmente desarrumada e interclassista. O PSD foi sempre marcado pela indefinição social ou pelo interclassismo, mais até que o PS e, não por acaso, implantou-se a ideia de que o PSD recebia a afluência em massa dos self-made men. Os self-made men representavam a falsa classe social de um partido caracterizado, precisamente, por não ter uma classe social homogénea. Digo falsa porque mesmo dentro desse grupo impreciso de pessoas a indefinição social nunca desapareceu. Este é também o retrato da sociedade portuguesa, onde as identidades de classe são pouco vincadas e quase toda a gente diz que pertence à classe média. O problema do PSD não é, por isso, a sua base social ter desaparecido mas a progressiva distância que se gerou entre o partido e aquela classe média. E isso é uma conversa diferente.
«DN» 20 de Setembro de 2007-[PH]

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3 Comments:

Blogger Eduardo Ramos said...

Portanto... o que é os partidos? Qual a base social em que trabalham?
Vão-me dizer que não passam de uma espécie de "clubes" onde se trabalha exclusivamente em proveito próprio, no intuito de chegarem ao poder, enriquecendo e colocando completamente de parte a intenção de quererem desenvolver um pais e protegerem os seus habitantes...
... esperem lá!

Gaita!

20 de setembro de 2007 às 14:02  
Anonymous Anónimo said...

Actualmente, com o PSD, passa-se uma coisa curiosa:

Se o Governo diz "preto", Marques Mendes vem dizer "branco".

Por sua vez, L. F. Menezes, ao ouvir Marques Mendes dizer "branco", vem a correr dizer "preto"...

O mais divertido é o ar sério e a pose de Estado de toda esta gente - esta e a dos outros partidos, entenda-se!

20 de setembro de 2007 às 14:41  
Blogger António Viriato said...

Opinando de fugida :

O que se passa com o PSD chega a ser confrangedor. Mas não se remenda isto com substituições de mero expediente burocrático, tirando Mendes para pôr Menezes.

O mal é fundo e exige cirurgia adequada. Já no final do Cavaquismo ele era visível.

Com Barroso, sobretudo, e depois com Santana, ele acabou de se desenvolver.

A deserção de muitos notáveis, que descobriram a sua inexcedível vocação de Gestores e se tornaram em bem sucedidos arautos das teses da Economia ultra-liberal, também contribuiu para o presente descrédito do Partido.

Como reerguer uma formação política que nem sabe definir a sua orientação doutrinária, hesitando entre a Social-Democracia, ainda que adequada à realidade actual e o Neo ou Ultra-Liberalismo, aparentemente triunfante no planeta, mas que produz cada vez mais descontentes e não apenas entre os menos desvalidos profissionalmente ?

Era bom ouvir o que pensam os ainda resistentes da Social-Democracia, mesmo se aggiornatta !

21 de setembro de 2007 às 20:37  

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