ÀS TRÊS TABELAS
Por Rui Tavares
1. A PARTIR DE 1624 chegaram os primeiros europeus ao Tibete. Só por curiosidade: os nomes deles eram António de Andrade, Francisco de Azevedo, Estevão Cacela e João Cabral e quando escreveram para Portugal contaram que era então vivo o quinto Dalai Lama.
Hoje chega a Portugal o décimo-quarto Dalai Lama, líder no exílio dos tibetanos, Prémio Nobel da Paz. Ao contrário do que acontece por todo o mundo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros já anunciou que o governo português não receberá o Dalai Lama “pelas razões que são conhecidas”. Uma vez que não especificou, presume-se que essas razões sejam o calculismo e a cobardia.
Num país que exigiu ao mundo coragem e respeito pela autodeterminação no caso de Timor Leste, isto é vergonhoso. No íntimo, todos os portugueses sabem disso. Bem vindo, Dalai Lama: mas perdoe-nos por estes ministros.
2. AFRONTAR OS CHINESES é pois muito difícil, se estivermos a falar do governo da República Popular da China. Mas se os chineses em causa forem imigrantes lutando pela vida em Portugal já qualquer político de segunda categoria serve. Aqui há uns tempos foi Alberto João Jardim a insultar lojistas chineses e indianos. E agora é Maria José Nogueira Pinto, hipotética futura comissária da Câmara Municipal de Lisboa para a Baixa-Chiado, defendendo a expulsão das lojas chinesas da Baixa e a sua deslocação para uma Chinatown no Martim Moniz.
Serve este episódio como refutação para a opinião comum de que, ao nível local, não há diferenças políticas e basta saber “gerir” a cidade. Da última vez que a esquerda teve o poder em Lisboa, João Soares foi abordado para que se fizesse uma Chinatown na capital. A sua resposta foi que a cidade desejada pela esquerda não segregaria comerciantes pela sua nacionalidade e não os empurraria para ghettos.
A bola está agora em António Costa. A fronteira é clara: não foi a visão de Nogueira Pinto que ganhou as eleições há apenas dois meses. De que serve ser presidente em Lisboa para entregar a Baixa-Chiado, do Rossio ao Tejo, a uma czarina que não foi eleita, que está determinada a obedecer apenas a caprichos que não levou a votos, e que já desfez uma maioria na CML por uma discussão sobre nomeação de administradores?
«Público» de 12 de Setembro de 2007 (extracto) -[PH]
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1 Comments:
Peço desculpa por colocar aqui um texto que escrevi para o Post do Pedro Lomba, mas aqui fica para elucidar os "passeantes"
que por aqui passam dum pouco da história do Tibete, do "pacifico e simpático" Dalai Lama e para mostrar que na verdade, a história do Tibete não começou nos anos cinquenta.
A ignorância manifestada por alguns jornalistas e outros comentadores da blogosfera em relação ao Tibete é realmente constrangedor, o caso presente do Pedro Lomba parece-me ser mais o do exercício da mentira e das meias verdades ou meias mentiras.
Para Pedro Lomba parece que a história do Tibete começou em 1950, para trás fica um longo vazio.
Tibete está ligado à China desde o século VI, sendo mais claro a partir do século XIII a subordinação do Tibete aos sucessivos governos da China, evidenciando-se na presença de representantes do poder central em Lhasa; na nomeação e julgamento de funcionários locais; no envio de tropas para defender as fronteiras e manter a ordem interna; na condução centralizada das relações exteriores; na imposição de leis, decretos e regulamentos; na realização de censos demográficos; na cobrança de tributos; na redefinição de órgãos e divisões administrativas internas. É importante ressaltar também que, desde o século XIII, nenhum país reconhece o Tibete como um Estado separado da China.
Outra prova da incorporação do Tibete à China é a participação de delegados tibetanos em órgãos executivos e legislativos do poder central, desde a dinastia Yuan.
Marco Pólo, nos seus escritos das viagens, refere o Tibete como uma província chinesa.
Diz Pedro Lomba;” Sabendo que a religião pode servir para alimentar uma identidade nacional, a China tratou de promover o ateísmo no Tibete”, esta afirmação é grosseira e caricata. Seria melhor o senhor Lomba ir estudar a história recente da China, porque o combate à religião e outros tipos de crendice não se verificou só no Tibete mas por toda a China durante a revolução cultural, pode-se apoiar ou criticar essa fase da história deste país, agora transformar estas acções como especialmente dirigidas a uma determinada região é pura grosseria.
Diz Lomba; “a China (…), não hesitou em interferir na “soberania” religiosa do Dalai Lama, escolhendo directamente os sucessores da hierarquia do budismo lamaísta”, novamente Lomba denota ignorância ou a prática da mentira descarada. Em meados do século XVIII, a corte Qing determinou que o sétimo Dalai-Lama assumisse a liderança do governo local do Tibete. Porque o Dalai-Lama e o Panchen-Erdeni acumulam funções religiosas e políticas, a escolha de seus sucessores passou a depender de confirmação final pelo governo central da China. A escolha e a entronização do actual Dalai-Lama foram confirmadas pelo governo nacionalista da República da China em 1940.
Pedro Lomba ignora ou omite que foi a Grã-bretanha quem em 1913 ocupou o Tibete, tentando impor à China o Tratado de Lhasa e a Convenção de Simla, que retiraram o controle efectivo da China sobre esse território.
Diz Pedro Lomba;” Mas o que verdadeiramente inquieta Pequim é o "ocidentalismo" que acompanha o Dalai Lama e que a China vê como perigoso para o regime. Nas últimas décadas, o Dalai Lama afirmou-se como um líder espiritual dentro do Ocidente, em parte graças ao seu pacifismo e à sua filosofia de meditação, ora vejamos alguns exemplos do pacifismo do Dalai:
“Durante o seu domínio, este e os anteriores «Dalai Lamas» transformaram o Tibete numa teocracia irracional, e durante mais de 500 anos impuseram ao povo tibetano (que obviamente nenhuma palavra tem a dizer sobre o assunto, muito menos votar), um Chefe de Estado, precisamente o «Dalai Lama», cuja «legitimidade» lhe advém de ser nada mais nada menos do que a «reencarnação» do «Dalai Lama» anterior.
E durante meio milénio, quem se atrevesse a contestar esta irracionalidade era perseguido e enclausurado, frequentemente por toda a vida.”
“A teocracia imposta no Tibete pelos sucessivos «reencarnados» chegava ao ponto de legislar e determinar ao povo a frequência, a forma e até as posições em que deviam ter relações sexuais, e tudo aquilo que deviam comer e a forma de o cozinhar.(…),se à hora do almoço um determinado monge com apetite decidisse entrar numa casa para comer, os seus habitantes, por muito pobres ou miseráveis que fossem, eram obrigados a prescindir da comida de toda a família e a entregá-la ao monge até ele estar perfeitamente saciado.”
“Os crimes mais severos, entre os quais se contava, por exemplo, o desrespeito de um camponês ao seu senhor feudal, o proprietário das terras onde trabalhava e a quem devia obediência incondicional e absoluta, ou a adoração de divindades proibidas e consideradas demoníacas, ou ainda a blasfémia contra as divindades "oficiais", eram punidos com o arrancar de um ou dos dois braços, ou de um ou de ambos os olhos, consoante a gravidade da ofensa.”
Quem quiser mais alguma coisa sobre a actividade deste simpáticos e pacíficos cidadãos pode ir a; http://rprecision.blogspot.com/2007/09/o-dalai-lama-ou-quando-uma-reputao-nos.html
Por fim e para determinadas pessoas cuja opinião prezo e que vejo embarcar neste embuste que é o Dalai Lama, aqui fica mais um exemplo da sua bondade:
“Há seis anos fazia parte de uma Associação de Amizade Portugal - Tibete e ajudei a preparar a primeira visita de Dalai Lama.
Existia alguma tensão entre aqueles, como eu, que estavam nessa Associação por razões de cidadania e de defesa dos direitos humanos e os que tinham uma visão religiosa da questão e do visitante. Nessa disputa verifiquei as minhas irremediáveis dificuldades com a lógica do multiculturalismo.
Na véspera da visita exibiram um filme de alguém que tinha ido a Dharmsala. Um excesso panegírico, como convinha, mas com uma cena que não mais esquecerei: as pessoas que visitavam Dalai Lama jorravam-se aos seus pés. Algumas até beijavam devotamente os ditos. Senti-me agoniado. Bem sei que a nossa ordem civilizacional é diferente mas um homem arrastando-se pelo chão é o mesmo em todo o lado.
Após a visita deixei a Associação.”
* Publicado no Correio da Manhã
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