UM NUNES EM CADA ESQUINA
Por Alberto Gonçalves
O MINISTRO DA ECONOMIA visitou as instalações da ASAE, para alegria do dr. António Nunes, presidente da estimada associação. Entre louvores e vénias, o dr. Nunes aproveitou para confessar ao ministro uma única carência: nem todos os seus agentes possuem computador portátil (para que serve o Governo, afinal?). Fora a lacuna informática, tudo está bem com a ASAE, obrigado. Radiante, o dr. Nunes declarou que, neste ano e tanto de existência, a entidade ultrapassou os seus objectivos. Um observador distraído imaginará que também ultrapassou as competências.
Desgraçadamente, nem por isso. É um facto que a ASAE, mais que de computadores portáteis, carece de arbítrio moral, a capacidade de distinguir o admissível do atroz. Se é difícil contestar o encerramento de um restaurante a dar para o imundo, é dificílimo entender que as favas, a cabidela, os enchidos caseiros e a fruta sem marca registada sejam incluídas no conceito tradicional de imundície, excepto para as transtornadas criaturas que, em Bruxelas ou Lisboa, viabilizaram semelhantes leis e para a ASAE, que as aplica com notável zelo. Passe o exagero da comparação, os senhores da ASAE evocam os mais disciplinados funcionários dos totalitarismos: quando interrogados, respondem de imediato que se limitam a cumprir ordens.
É triste que o façam, ainda por cima com indisfarçável gozo. Mas bastante mais triste é a época que paga para que eles gozem. Abominar a ASAE por si só implica ignorar aquilo que, para lá da legislação, realmente fundamenta e legitima os seus excessos. Na vocação para a vigilância, na supressão do bom senso em favor da rigidez da norma, no prazer em contrariar o prazer alheio, a ASAE explica muito do que somos. O dr. Nunes pode ser encontrado em qualquer esquina, metafórica e, a julgar pela quantidade de "acções" que promove, literalmente.
«DN» de 23 de Setembro de 2007-[PH]
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