2.10.07

JOSÉ SÓCRATES QUE SE CUIDE

Por Baptista Bastos
UM ALVOROÇO SEM METÁFORAS acolheu a vitória de Luís Filipe Menezes. Se a disputa para as funções não melhorou a moral contemporânea, as explicações apressadas, dadas pelos comentadores do óbvio e pelas pitonisas de redoma, constituíram objecto de gargalhadas convulsivas. Marcelo Rebelo de Sousa explicou que os seus vaticínios haviam caído pela base, e Marques Mendes perdera as eleições porque Manuela Ferreira Leite tirara, a este, o tapete triunfal. Marcelo negou em género, número e grau a poderosa simplicidade do voto, elegendo a senhora como causadora inclemente da derrota do seu preferido. Não lembraria ao diabo, o que lembrou a Marcelo, agora assassino de carácter.
Menezes ganhou, e por larga percentagem. Nenhum comentário, por mais inventivo e fantasioso, consegue ocultar esta evidência. As "bases" do PSD escolheram-no para o confronto com Sócrates, e Menezes, astuto, já afirmou não desejar transformar o liberalismo económico em verdade moral. Talvez esta imagem que de si próprio propôs o tenha conduzido à vitória. Afinal, as "bases" do PSD têm sido tão sovadas pelas políticas de Sócrates como as "bases" do PS, do PCP, do Bloco e do CDS.
Cabe ao novo presidente do PSD preparar uma sociedade de ruptura. No entanto, as coisas adivinham-se complicadas: entre alguns dos seus áulicos emergem nomes que denegriram os valores da ética republicana, que praticaram sem vergonha o nepotismo, e que tripudiaram sobre os princípios mais elementares da conduta no poder. Menezes caminha em terreno armadilhado. Não há verdades nulas e o ressentimento é uma reacção, provavelmente indigna, mas definitivamente comum ao exercício da política.
Seja como for, o PSD está fragmentado. Não só entre facções: também pela pequenina luta de protagonismos. E não falo, apenas, em Santana Lopes, cuja disponibilidade para o holofote corresponde à desmedida interpretação que de si mesmo tem. O que ele fez não pode apagar qualquer dúvida, nem esquecer os malefícios dispersos das suas actuações. A amizade, neste caso, não é um posto: em política, o que não parece, parece mesmo, ou é mesmo o que parece.
Está por esclarecer, entre muitas outras evoluções e involuções, o papel do dr. Cavaco, inviamente representado por Alexandre Relvas, que foi dar uma mãozinha à candidatura Mendes, indicando uma via de salvação, conclusivamente inútil. Parece não haver imprecisão na estrutura sociopolítica do actual PSD, que limita, severamente, outra qualquer alternativa. Os fragmentos dividem-se e subdividem-se em "cavaquistas" e "não cavaquistas".
Nesta disputa, perderam os "cavaquistas".
José Sócrates que se acautele.
«DN» de 3 de Outubro de 2007

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