TRANSUMÂNCIA
Por Nuno Brederode Santos
O INTERINATO GERADO NO PSD, entre a eleição de Luís Filipe Menezes e o Congresso, é um período de grandes e condicionantes opções, que capta as atenções gerais (e a minha, uma Maria-vai-com-as-outras, não escapa à regra). Nada há nisso, aliás, de extraordinário. Vivemos um Outono em que as folhas que me interessam hesitam em cair, as horas que me interessam resistem a mudar e o clima que me interessa, que já não marcou o Inverno, a Primavera ou o Verão, também não está muito empenhado em assinalar o calendário. Também na vida política, esta indefinição se instalou. Com o Governo absorvido por uma presidência europeia a que imprudentemente chamou favas contadas (e que, corra bem ou corra mal, sempre subalterniza a coerência, a coordenação e o empenhamento da acção governativa). Com a oposição de esquerda a fazer tirocínios tardios: o PC, porque testa as ruas cansadas, o BE, porque digere ainda esse risco primogénito de "mão na massa" na Câmara de Lisboa. Com o CDS (cada vez menos PP) à espera, mais existencial do que reverencialmente, pelo assentar das poeiras no grande vizinho adjacente (que lhe ensombra ou ilumina o futuro de cada vez que mexe um dedo), para saber o que fazer da vida. Como já respondi ao estimável leitor do DN que recorrentemente me pergunta porque dou "tanta importância" ao PSD: "Porque ele a tem e não auguro nada de bom para o dia em que não tiver nenhuma."
Consumada a vitória de Luís Filipe Menezes, muitos dados estão lançados. "Les jeux sont faits", mas não todos. As escolhas que ele agora fizer abrirão ou fecharão portas de futuro, para além daquelas que a vitória interna já abriu e fechou. Enquanto o tempo se escoa por entre os dedos das mãos (nossas e dele), algumas dessas escolhas são particularmente condicionantes.
A primeira está feita. Ficar ou sair de Gaia, o que ele fez questão de calar até às urnas. Não importa agora a fraqueza das justificações invocadas, nem a clareza das razões omitidas. Importa, sim, que qualquer opção tinha vantagens e inconvenientes. E que, adquiridas que estão as vantagens, haja uma permanente vigilância para os inconvenientes. Como vai ser na Associação Nacional de Municípios? Manda Fernando Ruas e a maioria ou deverão eles sucumbir ao estatuto do Presidente de Gaia, que é o seu novo chefe político? Como vai ser com as normais contradições entre municípios contíguos? Nos que ocorrerem entre Gaia e Porto, por exemplo num grande investimento entre ambos disputado, prevalecerá o Menezes autarca ou a lógica nacional do líder da oposição? E os vereadores de Rui Rio? Deverão, por amor da cidade, desafiar o chefe do partido, ou, por amor do partido, contrariar o autarca da cidade?
A segunda parece estar em curso acelerado e é a escolha do líder parlamentar. É conhecido o discurso: são os deputados que o escolhem. Mas também já se percebeu que a comezinha verdade não é essa. Santana Lopes posicionou-se. Mas Ângelo Correia (a primeira figura política da campanha) - sabedor como ninguém de que uma imagem de continuidade com o "santanismo" seria nacionalmente suicidária e parlamentarmente embaraçosa e masoquista - veio a correr chamar-lhe "espuma sem substância". E Paulo Rangel, decerto um dos melhores deputados em funções, também já se atravessou contra a hipótese. A ideia, falada, de Rui Gomes da Silva, seria a de um Santana sem o brilho, só com as desvantagens. A de Mota Amaral seria a mais "institucional", mas as suas vantagens são defeitos para a agilidade no espírito de "pronto a servir" da bancada.
A terceira virá com o Congresso: o novo "quem é quem" do PSD. Quem dará o rosto por uma proposta de revisão constitucional, que será uma bandeira de oposição muito mais do que uma base plausível de negociação. Quais os "notáveis" que aproveitarão o "Governo-sombra" para fazerem esquecer o seu apoio (táctico, de resto) a Marques Mendes. E, para além dos muitos pistoleiros que a candidatura ainda deverá recompensar, quais serão os novos cavalheiros que marcarão o próximo ciclo da vida do PSD.
Aguardemos, que é o que, como povo, melhor sabemos fazer.
«DN» de 7 de Outubro de 2007
Etiquetas: NBS
3 Comments:
NBS regressa à sua especialidade. Já se estranhava...
«Como já respondi ao estimável leitor do DN que recorrentemente me pergunta porque dou "tanta importância" ao PSD: "Porque ele a tem e não auguro nada de bom para o dia em que não tiver nenhuma."»
As crónicas de NBS são escritas para o DN, e nós ignoramos o que está acordado entre ambos no que toca aos temas a abordar. Pelo que se depreende, o jornal encomenda-lhe crónicas semanais sobre política nacional, o que NBS faz bem.
Ora NBS é um conhecido militante do PS e, pelo que se sabe dele, deve ter dificuldade em "dizer bem" de Sócrates e dos seu governo. No entanto, também não deve estar à vontade para "dizer mal"...
Assim, e dada a pouca influência política, actual, de CDS, BE e PCP, resta a NBS analisar o PSD, partido que, pelo menos teoricamente, pode vir a governar o país em 2009.
Concorde-se, ou não, com o que o autor defende, julgo que só temos de nos congratular por NBS colocar os seus textos, aqui, à discussão.
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