OPORTUNIDADES INEXPLORADAS
Por João Miranda
NUM REGIME DEMOCRÁTICO, a competição entre elites políticas tem algumas vantagens importantes para os cidadãos excluídos dos círculos do poder. A competição entre o Governo e a oposição obriga cada uma das partes a explorar todas as oportunidades possíveis de conquistar o eleitorado. A oposição aproveitará todas as falhas do Governo, o Governo fará os possíveis para evitar falhas. O Governo e a oposição funcionarão como empreendedores à procura de oportunidades políticas inexploradas. Estas oportunidades podem ser propostas que favorecem os grupos excluídos do poder ou que geram recursos extras para a sociedade.
Ninguém gosta de concorrência e as elites políticas não são excepção. Quanto mais competitiva for uma democracia, menor será a quantidade de riqueza e de poder que as elites políticas conseguirão monopolizar. As elites políticas têm, portanto, um incentivo para chegar a um compromisso de repartição de poder. Se chegarem a esse compromisso, deixarão de existir elites para escrutinar o Governo ou elites interessadas em oportunidades inexploradas. O regime democrático português parece ter atingido o ponto a partir do qual o jogo de poder entre elites estabiliza num compromisso permanente. As elites do PS estão bem instaladas no Governo. As elites do PSD estão bem instaladas na Presidência da República, na Comissão Europeia e esperam, um dia, herdar o Governo. Ambas as elites partilham há anos a influência sobre as grandes empresas públicas, sobre as grandes empresas privadas dependentes dos negócios públicos e sobre a comunicação social. Nenhum dos grupos tem qualquer interesse em oportunidades inexploradas.
Os compromissos entre as elites políticas tradicionais criam uma oportunidade para outsiders. Continuam a existir eleitores insatisfeitos e oportunidades inexploradas. Mas quem as pode aproveitar? O compromisso entre elites levou à concentração de poder e riqueza no sector público e na área metropolitana de Lisboa, onde as elites políticas se encontram sedeadas. A maior parte dos descontentes encontra-se fora do sector público e fora da Área Metropolitana de Lisboa. O político com condições, apoios e motivação suficientes para aproveitar as oportunidades políticas inexploradas tem de ser alguém que esteja fora do compromisso. Alguém de fora de Lisboa. Alguém que tenha a sua principal base de apoio numa região densamente povoada excluída do desenvolvimento económico. Alguém que controle o embrião de um poder político alternativo. Um autarca de uma grande autarquia. Da região mais pobre do País, a região norte. Tem de ser um membro de um partido da oposição, cujas bases se sentem excluídas da partilha do poder. Alguém detestado pelas elites do seu partido. Luís Filipe Menezes.
«DN» de 6 de Outubro de 2007-[PH]
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6 Comments:
A região norte é a mais pobre do país?
E o que é uma região?
Voltamos à merda da discussão do regionalismo?
Jorge Oliveira
"Comentários" como o anterior eram bem dispensáveis.
Tem algum problema, leitor Zé Arcos? O meu comentário é um comentário sem aspas.
Você não gostou do palavrão "merda" (que horror, que sacrilégio) ou do facto de eu pôr em causa a trampa da regionalização?
Não se pode dizer o que se pensa? Se neste blog vão continuar a aparecer virgens ofendidas, a comentar comentadores, apesar de eu ser amigo do Medina Ribeiro deixo de pôr aqui os pés.
Jorge Oliveira
Este blogue existe desde Janeiro de 2005, tem cerca de 5000 posts (e ainda mais comentários) e tem-se destacado sempre pela urbanidade, mesmo quando as discussões são mais vivas.
Contibuidores, autores convidados e leitores confiam que assim continuará a ser.
Caro Jorge Oliveira,
Parece-me que no texto em causa a questão regional é completamente secundária. Serve apenas para situar no contexto geográfico o político de quem se fala e para mostrar que isso lhe pode ser benéfico ao nível dos votos.
Parece-me que o autor tem razão quando refere que há áreas por explorar. Não me parece que seja por isso que LFM venha a ganhar as próximas eleições, mas tenho que admitir que num contexto em que cada vez mais eleitores deixam de se identificar com a classe política actual, um político "relativamente" outsider possa de facto levar um bom número de eleitores a votar nele.
Basta ver o exemplo de Manuel Alegre e da votação que obteve para perceber que as alternativas têm espaço para existir e para roubar votos às tais "elites" ou aos "poderes instituídos".
Um abraço
O Anónimo parece não distinguir comentário de "comentário". O seu "comentário" nada tem a ver com o artigo que pretende comentar. E virgens é coisa que já não há à muito e ofendidas muito menos. E eleve-se a linguagem, que isto não é, no meu ponto de vista, o local mais adequado para a boçalidade. Se não gosta, não frequente, e assine, nem que seja com pseudónimo.
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