Passatempo com prémio
Desafiam-se os leitores a escrever um comentário acerca do assunto que serve de título a esta obra. O que for considerado mais interessante será premiado com um exemplar do mesmo livro, autografado e com dedicatória do autor.
O prazo terminará às 12h do dia 6 de Novembro, terça-feira. No caso de o júri ter dúvidas acerca da atribuição do prémio, terá lugar uma votação, como sucedeu com o último passatempo «ACONTECE...».
NOTA: Cada leitor pode escrever mais do que um texto; e não há limite de caracteres.
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Após "votação dos leitores", que decorreu em post mais recente, o passatempo terminou com a vitória de José Luiz Sarmento, a quem o livro vai ser enviado.
Etiquetas: CMR, Passatempos
12 Comments:
As faces da justiça precisam de um par de tabefes.
Justino
Os comentários também podem ser sobre "O estado da Justiça em Portugal"
Há vários factores que contribuem para o estado actual da justiça:
A Lei - apesar de geralmente razoavelmente correcta, nasce muitas vezes torta, porque o legislador está desajustado da realidade do país em que vive. Há assim deficiências que cabe aos órgãos da justiça (magistrados, advogados, etc) saber corrigir e adequar com justeza sempre que se justifica.
Os Actores da Justiça - pode a justiça decorrer com normalidade quando não há condições para a fazer cumprir? Falta de condições e formação para a investigação, falta de meios físicos, técnicos e humanos nos tribunais, falta de uma verdadeira política de reabilitação dos condenados.
O Estado - é aos seus orgãos que cabe a criação das leis e das condições para que a justiça funcione. Legisle-se ouvindo os actores da justiça, que convivem com a realidade. Criem-se condições para que não se tenha de repetir um julgamento porque as gravações dos depoimentos não têm qualidade. Para que não haja pilhas de processos em cima de secretárias e cadeiras. Por inacção, o Estado cria injustiças quando devia criar justiça.
As Corporações - defendendo os seus interesses, criam verdadeiros entraves à justiça, desde o lobbying, logo na criação da lei, aos atrasos estrategicamente criados no decorrer dos processos, porque a leveza da prescrição é sempre mais benevolente do que a mão pesada da justiça.
O Cidadão - alheia-se da justiça. Porque quer. Porque não quer cumprir a lei quando não lhe convém. Porque é chato ter que se preocupar com os outros. Quantos de nós já olhámos para o lado ao ver uma mãe a dar um violento tabefe num supermercado que pode significar abusos repetidos durante anos em casa? Ou quantos de nós seguimos viagem quando presenciámos um pequeno acidente e podíamos ser uma testemunha fulcral para a resolução rápida e justa da questão? Já tiveram um acidente com dezenas de mirones presentes e nenhum que se preste a testemunhar? O cidadão só se lembra da justiça quando ela lhe falta. Nunca quando falta aos outros.
Finalmente, há várias justiças: a dos ricos, a dos pobres e a dos remediados. A primeira é paga pelos próprios, por isso são bem tratados. A segunda é paga pelo Estado, mal e a más horas, pelo que ter um advogado oficioso dedicado e ciente do seu dever é um exercício de sorte. A terceira, que quase não existe, não tem quem a pague, uma vez que não se é rico nem indigente, o dinheiro que se tem é para dar de comer aos filhos.
A justiça serve para manter a lei e a ordem, para garantir direitos e liberdades, mas também para assegurar o cumprimento dos deveres. Se todos os cidadãos e instituições cumprissem diligentemente os seus deveres, todos teriam garantidos os seus direitos e liberdades. E só conheceríamos uma única justiça: a verdadeira!
Não venho concorrer, mas apenas dizer que gosto muito de ouvir o A.M.P. quando aparece na TV.
Nem sempre concordo com o que diz, mas é bom ouvir alguém que fala sem papas na língua.
o estado da Justição visto por um Juiz igual a tantos outros espalhados por este Pais fora:
Leio com interesse no Diário Económico que "a culpa do estado da Justiça está mais nos operadores judiciários que no poder político" - conclusão de comentadores e jornalistas no XII Observatório Anual daquele jornal. "Esqueceram-se da vertente do serviço público", disse Miguel Sousa Tavares. "As corporações são as mais difíceis de mudar", acrescentou Ricardo Costa.
Leio ainda que José Manuel Fernandes concluiu que "a solução passa por romper a carapaça corporativa" e mais não posso. Tenho os olhos cansados.
Ontem, pela manhã, uma das lâmpadas fluorescentes do tecto do gabinete começou a piscar. Pedi que chamassem o encarregado da manutenção. Um dia, uma insistência e algumas sentenças escritas depois (sempre em ambiente psicadélico), surgiu um senhor munido do escadote necessário para atingir o tecto.
Retirou a lâmpada fundida e saiu. "Parece que não há dinheiro para lâmpadas novas", explicou-me.
Amanhã leio o resto da notícia.
Deixo apenas um esclarecimento, porque as corporações que refiro no meu post podem ser confundidas com o corporações de que fala o anónimo do comentário anterior: as corporações de que falo nada têm a ver com a justiça. São as que nos corredores da AR, em telefonemas e em almoços pressionam deputados a votar a favor ou contra determinada lei, porque depois terão benefícios com isso. São ainda as que, por artifícios dúbios ou por omissões na lei, escapam impunes quando são chamadas à pedra. As que, com a lentidão da justiça, beneficiam com as prescrições.
AS FACES DA JUSTIçA
Grande titulo
Porque na verdade a Justiça tem duas faces.
Devia ser CEGA E SEM EMOçÕES, mas não a justiça é tudo menos isso.
A justiça tem duas faces.
A Justiça tem rosto.
A Justiça Tem dois pesos
A Justiça olha a dinheiro
A Justiça olha ao poder
A Justiça olha a nomes
A Justiça olha a opiniões
e mais
A Justiça não é justa, sobretudo neste pais que tanto amo e que por vezes me envergonha.
Abraços
A justiça é a mestra dos disfarces.
A sua primeira face, a mais antiga, é a dos nossos pesadelos infantis, da nossa memória colectiva: a bruxa, o xamã que fareja as nossas desconformidades e descobre por que acidente (mas não há acidentes) violámos um qualquer tabu. É a face arfante e frenética da caçada; a presa somos nós; a corrida é breve, e cedo, demasiado cedo, vemo-nos cercados de faces, de muitas faces, que há pouco eram as dos nossos familiares e companheiros e agora são todas a mesma, a do feiticeiro, a da justiça. No fim somos conduzidos ao poste da expiação e da tortura, para que com a nossa morte a ordem regresse ao mundo.
E há o assassino na noite, em missão de vingança. Olho por olho, dente por dente. Neste sonho a face da Justiça é a nossa, com a marca de Caim na testa.
Mais tarde, muito mais tarde, à custa de sabe-se lá quantos séculos de civilização, surge-nos a face de Salomão, a majestade de Salomão - ou melhor, os pés de Salomão, as sandálias cobertas de ouro e pedrarias que são tudo o que vemos a partir da nossa posição posternada. É a Justiça; é, de novo a Ordem - é, pela primeira vez, a Paz.
São umas dúzias de homens sentados num anfiteatro sob o Sol mediterrãnico, discursando, acusando, argumentando, bocejando, rindo, decidindo com displicência ou paixão o nosso destino.
É a venda e a balança, a lei escrita Cícero no Forum, a toga, o gesto largo. É a decadência, o arbítrio, a barbárie, o senhor feudal, a espada. É o verdugo encapotado e o cepo.
É o lento e renovado despertar da Lei, longamente adormecida. É o habeas corpus; são os olhos cruéis ou compassivos de um júri. É o negro das togas e das becas, o branco das perucas empoadas.
São as madeiras nobres e polidas das salas de audiência. É o cheiro a papel velho nas repartições. É o ar enfastiado do funcionário, para quem cada processo é só mais um processo. É o rosto do polícia, esforçadamente brutal ou esforçadamente polido. É o oficial de diligências. São os óculos do advogado, falsamente transparentes, escondendo todo um mundo de conhecimento iniciático.
É o rosto pálido e cansado do magistrado. É o juiz que nos interroga, e cujo rosto nós interrogamos, tentando descobrir nele a piedade, a justiça ou a indiferença.
É uma estátua à porta dum palácio, segurando uma espada. Debaixo da espada, a nossa cabeça.
A face da justiça está na penumbra, num patamar: é de bronze, e precisa de ser limpa.
A face da justiça está ao sol: é de pedra, e está corroída pelo vento.
A face da justiça vem no jornal: está virada, não olha para nós.
A face da justiça surge na televisão: é um popular aos berros, um advogado com cara de caso, um juiz em fuga.
A face da justiça está do outro lado do guichet: suspira, e sonha com a aposentação.
A face da justiça cerca-nos numa sala: fala todas as línguas de Babel.
A face da justiça é um senhor cheio de gravidade que nos fita lá do alto: nunca seremos capazes de a compreender, nem ela a nós.
Um dia fui a tribunal. Era a primeira vez. Fui como testemunha da empresa onde trabalho. Antes de entrar na sala de audiências um oficial de justiça instruiu-me:
“Entra e fica de pé junto à cadeira. Só se senta se o Sr.Dr. Juiz a mandar sentar.”
Alí ensinam-se boas maneiras. Ao fim de algum tempo o sr. Dr. Juíz, sentado num plano superior, olhou-me de cima e lá me mandou sentar, já a conversa ía a meio. Obedeci.
Será correcto colocar num plano inferior, quem com factos e experiência contribuí, na sua qualidade de cidadã de pleno direito, para que a justiça vingue?
O Palácio da Justiça ficou para trás. Mas o sentimento de repulsa pelo cerimonial medieval ficou-me gravado na memória.
Com esta forma, à substância faltará sempre “o golpe de asa”.
"O estado da Justiça em Portugal"
É uma justiça sem Espada, pois, a mesma "simboliza a força,coragem, ordem, regra e aquilo que a razão dita e a coerção para alcançar tais determinações"
É uma justiça sem Balança, pois, a mesma "simboliza a eqüidade, o equilíbrio, a ponderação, a igualdade das decisões aplicadas pela lei"
É uma justiça sobretudo Sem Olhos Vendados, pois, os mesmos "significam o desejo de nivelar o tratamento jurídico de todos por igual, sem nenhuma distinção. Tem o propósito da imparcialidade e da objetividade"
Após a "votação dos leitores", que decorreu em post mais recente, o passatempo terminou com a vitória de José Luiz Sarmento, a quem se pede que escreva para sorumbatico@iol.pt, indicando morada para envio do livro.
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