O “folclore” de Olivença
Por Jorge Pacheco de Oliveira
OLIVENÇA E GIBRALTAR são dois exemplos em que Espanha revela falta de respeito pelo cumprimento dos tratados internacionais.
Por ocasião da cimeira luso-espanhola que decorreu em Braga em 18 e 19 de Janeiro, o primeiro-ministro (PM) José Sócrates foi interrogado por um repórter de televisão acerca da manifestação organizada pelo Grupo dos Amigos de Olivença, que aproveitou a oportunidade para chamar a atenção para o problema.
No seu jeito peculiar, de desvalorizar o que o incomoda, o PM de imediato classificou a ocorrência como “folclore”. Reacção deplorável! Nem o PM de Portugal, nem qualquer outro político português com um mínimo de sentido de Estado pode tratar a questão de Olivença de forma leviana. Por uma razão cristalina: Portugal não reconhece a soberania da Espanha sobre o território de Olivença. Não é por acaso que a fronteira entre Portugal e Espanha não tem marcos fronteiriços entre o rio Caia e a ribeira de Cuncos, nem este limite fronteiriço consta da cartografia oficial portuguesa ou de qualquer outro documento que possua o timbre nacional.
Mas o que tem a questão de Olivença a ver com a “competitividade”, o tema central desta coluna? Muito. A menos que se entenda a competitividade como uma guerra sem quartel – uma perspectiva que, tanto quanto parece, o mundo civilizado já há algum tempo rejeita – a competitividade entre empresas, e mesmo entre Estados, pressupõe que as partes respeitem um mínimo de regras de decência, entre as quais o cumprimento dos acordos que celebram. De outra forma, a participação num qualquer negócio com uma parte suspeita de incumprimento, empresa ou Estado, obriga-nos a ter cuidados especiais, consumidores de tempo e de recursos.
A História ensina-nos a compreender o presente e a prevenir o futuro. Olivença e Gibraltar, constituem dois exemplos em que o Estado espanhol revela uma infeliz falta de respeito pelo cumprimento de dois tratados internacionais. Embora velhinhos, com quase 200 e 300 anos, os tratados de Viena (1815) e o de Utrecht (1713) respeitantes, respectivamente, a Olivença e a Gibraltar, ainda estão em vigor. E quem os desrespeita não é só a velha Espanha de há 200 ou 300 anos. É também a Espanha de hoje. Quanto a Olivença, persiste em não entregar o território que se comprometeu a devolver. Quanto a Gibraltar, insiste em exigir um território cuja soberania cedeu. Assim não vale. Um Estado que não respeita os tratados que subscreve não fica bem na fotografia.
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