15.4.08

Botânico precioso

Por Nuno Crato
UM DOS MAIS PRECIOSOS quarteirões de Lisboa inclui uma área que se estende do Parque Mayer à Escola Politécnica, com o Jardim Botânico de permeio.
Problemas financeiros que se arrastam há décadas não têm permitido que toda essa área se desenvolva como poderia.
Os Museus da Politécnica, com a sua riqueza imensa, o antigo Observatório, com duas centenas de instrumentos antigos únicos, a antiga Biblioteca, com alguns dos mais raros livros de ciência antiga que existem em Portugal, tudo isso tem estado a ser estudado vagarosamente, exposto da maneira possível, recuperado com carinho e colocado à disposição dos visitantes com as limitações decorrentes de uma instituição com poucos fundos, muita história e muitas preocupações.
É pois de saudar que se discuta a possibilidade de conjugar esforços e aproveitar alguma área de construção, nomeadamente no Parque Mayer, para revitalizar toda a zona, construindo novas passagens, novas áreas comerciais, novas zonas de habitação e novos centros de cultura e de lazer.
Tudo isto tem estado em discussão pública. Será possível encontrar soluções que tudo conciliem, mas há também o perigo de se esquecer, com a voragem da mudança e do negócio, o riquíssimo património que está em jogo.
Um jardim botânico como o nosso demora dois séculos a construir e pode ser destruído em poucos anos.
A antiga Biblioteca, ainda hoje usada, tem instalações com século e meio de história e pode desaparecer em dias de demolição desajeitada.
O antigo Observatório, o único da época dedicado ao ensino que ainda sobrevive, pode tornar-se uma atracção internacional, mas também pode desaparecer para dar lugar ao prazer efémero de uma taça de chá numa esplanada.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 12 Abr 08 (adapt.); img. [daqui]

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