O salário, a felicidade e o futuro…
Por C. Barroco Esperança
OS PORTUGUESES com a mentalidade de novos-ricos, que em duas décadas viram duplicar o salário médio (desde 1986 a 2004 passou de 360 euros por mês para 730), não se preocupam com o agravamento das desigualdades sociais, apenas lhes importa a fatia de que podem apropriar-se.
Ninguém pensa retribuir o que recebeu com o ensino e assistência médica gratuitos, um subsídio colectivo para benefício individual.
Os sindicatos perdem força, com óbvio prejuízo para os trabalhadores, e parecem mais interessados em proteger os que se encontram nos níveis mais elevados de remuneração, alheados do fosso salarial entre trabalhadores e entre estes e a legião de desempregados, do que em lutar pelos mais fracos.
Quem se interessa apenas consigo acaba por encontrar quem venha a interessar-se por si. Os excluídos não tardarão a reagir às obscenas diferenças remuneratórias que os separam dos que, na maior parte dos casos, não têm maior preparação académica ou técnica, nem maior capacidade de trabalho.
Os mesmos para quem a necessidade de equilibrar as contas públicas não passa de uma obsessão burguesa, numa espécie de defesa dos caloteiros, talvez se arrependam da sua própria insensatez se acaso ainda viverem para pagar os juros.
O barril de petróleo atinge diariamente novos máximos e não se dispensa o automóvel, nem que o autocarro pare à porta. Os alimentos, transformados em combustíveis, entram em alta, rarefazem-se e ameaçam a sobrevivência de milhões de pessoas.
Ao ritmo a que crescem os problemas não tardará que, mesmo os mais néscios, acordem do torpor em que se acham, uns para renunciarem ao que lhes sobra, outros a exigirem o que lhes faz falta, todos à procura da sobrevivência.
Poucos se dão conta do valor inestimável da água, do ar, dos alimentos e da energia. Por enquanto só os pobres.
Em breve os órgãos de comunicação social, que têm ignorado o drama da falta de água com que se debate Barcelona, aqui no país vizinho, irão assustar-nos com os níveis das albufeiras, a discussão sobre os riscos ecológicos dos transvazes e a gigantesca rede de transportes para abastecer cinco milhões de pessoas sequiosas da grande metrópole.
Então, todos nos daremos conta de que não vivemos sós e de que a solidariedade não é uma virtude, é apenas um acto de bom senso para defendermos a própria sobrevivência.
Etiquetas: CBE
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