24.6.08

Caronte

Por Nuno Crato
Caronte - Gustave Doré

FAZ ESTA SEMANA 30 ANOS que foi descoberta uma lua de Plutão. Tem um diâmetro de 1207 quilómetros enquanto o astro maior — antigamente chamado planeta, mas hoje classificado como planeta anão — tem um diâmetro de 3390 quilómetros.
Se Plutão foi difícil de descobrir, imagina-se a dificuldade que houve em visualizar o seu satélite. Visto da Terra, Plutão é tão pequeno como seria uma moeda de um euro na Arrábida, vista de Sintra. E a lua de Plutão? Seria bem menor que uma moeda de um cêntimo à mesma distância. A descoberta foi feita praticamente por acaso. Em Junho de 1978, James Christy, um técnico do Observatório Naval de Washington, entreteve-se a olhar para algumas fotografias de Plutão que estavam classificadas como defeituosas. O defeito era uma distorção num canto, mostrando a imagem do astro como uma espécie de pêra, em vez de uma esfera perfeita. Christy comparou essas fotografias com outras tiradas ao longo dos anos e verificou que a protuberância se movia com regularidade: umas vezes estava acima do astro outras abaixo. Era certamente um objecto em órbita de Plutão. Duas semanas depois, a União Astronómica Internacional reconhecia a descoberta.
Começou a saga para arranjar um nome para a nova lua. Christy quis nomeá-la em homenagem à sua esposa Charlene. Mas os astrónomos não aceitaram um nome tão prosaico. Foi então que Christy resolveu ler um pouco de mitologia greco-romana e procurou associações com Plutão, o deus dos infernos subterrâneos. Viu que o barqueiro que levava os mortos se chamava Caronte (Charon em inglês).
Assim ficou o nome da nova lua. É um deus grego, mas para Christy é a sua deusa.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 21 de Junho de 2008

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