8.7.08

B0218+367

Por Nuno Crato
O AMONÍACO É UM GÁS bastante desagradável, mas muito útil. Usa-se em circuitos de refrigeração, em produtos de limpeza e em fertilizantes. Usa-se ainda para saber se o universo tem leis invariantes, como aconteceu agora com a análise da luz gerada num quasar remoto, que recebe a designação esotérica de B0218+367.
Segundo um artigo publicado na revista “Science” na semana passada, um grupo internacional de astrónomos conseguiu estudar a passagem dessa luz por uma galáxia distante e analisar a sua absorção por gás amoníaco nela presente.
A absorção da luz pelas moléculas deixa marcas em frequências muito precisas. Por análise com um espectroscópio muito sensível consegue-se detectar essa absorção, que depende do rácio de massa protão-electrão. O que se pretendia saber era se esse rácio é o mesmo nessa galáxia distante e sobre a Terra. Verificou-se que sim, o que é uma descoberta extraordinária. Os físicos já imaginavam que esse rácio é o mesmo em todo o universo, mas só agora o conseguiram verificar para um objecto celeste que se encontra a mais de sete mil milhões de anos luz de nós e, portanto, por luz gerada há mais de sete mil milhões de anos.
Quando, há quatro séculos, Galileo descobriu que havia montanhas na Lua e manchas sobre o Sol, colocou em causa o dogma então vigente da separação entre os céus e a Terra. Afinal, a Lua tinha uma superfície irregular e o Sol tinha manchas que iam e vinham. Mas mesmo Galileo ficaria surpreso se soubesse que nós hoje estudamos um gás em galáxias tão distantes e sabemos que há sete mil milhões de anos esse gás revelava as leis físicas que hoje conhecemos sobre a Terra.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 5 de Julho de 2008

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1 Comments:

Blogger Sepúlveda said...

Então, será que hoje, lá, as leis são diferentes? Pelo estudo da luz emitida, só o saberemos dentro de sete biliões de anos.

8 de julho de 2008 às 16:05  

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