23.8.08

Évora e o 8 ou o 80

Por Antunes Ferreira
PRONTO, ACABOU-SE. E foi o porta-bandeira da delegação portuguesa que a fez subir no mastro olímpico. Nelson Évora. Um novo herói a juntar aos três anteriores campeões olímpicos: Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro. E como continuamos a praticar um desporto tipicamente luso-especial – o 8 ou o 80 – de um dia para o outro, a desgraça tornou-se euforia. Já começáramos a dar uma volta com a Vanessa Fernandes de prata. Mas não chegava. Agora – foi.
O pessoal já andava de muito má catadura com o mísero desempenho dos desportistas de verde e vermelho. Tinham-se criado expectativas outrossim muito características da nossa maneira de ser miscigenada. Íamos ganhar uma caterva medalhas! Tínhamos a melhor representação de sempre. O paraíso entreabria-nos as portas. Foguetes e champanhe já estavam na bagagem da delegação. Uma festa antecipada, olarilolé.
Começaram os sucessivos desastres, terramotos lusitanos em terra de terramotos… chineses. Uma gaita! Frente aos ecrãs televisivos a consternação já andava de braço dado com o insulto. Para quê terem ido a Pequim 67 praticantes? Para averbarem derrotas? Para apresentarem justificações bacocas para os respectivos desaires? Para fazerem turismo… olímpico?
Estas coisas têm o seu preço. Já não bastava o cataclismo da equipa lusitana. Ainda por cima, diziam uns quantos mais puristas, «estes gajos da Comunicação Social são umas bestas» porque confundem Jogos Olímpicos com Olimpíadas. Toda a gente sabe que a Olimpíada é o período de quatro anos entre cada edição dos Jogos Olímpicos, desde que em 1896 ganhou corpo a ideia do barão Pierre de Coubertin de fazer renascer a tradição dos jogos da antiga Grécia.
Que se lixe a questão linguístico-cultural, retorquiam os menos abonados em conhecimentos de tal índole. «O que nos dá motivo para termos o pó que temos a esses gandulos é a imagem de parvos que dão de nós». Assim mesmo. De nós, leia-se, dos que ficaram por cá, sem fardas nem equipamentos, uns bons milhões. Os preços dos combustíveis, os crimes violentos e por aí fora eram minudências de um processo muito mais complexo – e grave: a figura de tanso. A famosa (estranha) crise fora de férias. E as Ligas só lá mais para o princípio de Setembro.
Nisto, o Évora tri-saltou. Calmo, tranquilo, sabedor do seu valor, consciente do que era capaz, aparentemente impávido e sereno – saltou. Três grandes pulos, ritmados, calculados, estudados e muitíssimo bem treinados, sacrificados – pelo menos nas horas imensas de trabalho do atleta. Saltou e ganhou.
Disse Tavares da Silva dos treinadores de futebol que hoje eram bestiais, amanhã já seriam umas bestas. Tinha inteira razão o prestigiado jornalista. Nós, os Portugueses, não somos de modas: militamos, convictos, em especial no sofá, por vezes na bancada, o oito ou o oitenta. Que nos havemos de nos fazer? Passe o pleonasmo e a construção espúria, está visto.
NOTA (CMR): blogue do autor: Travessa do Ferreira.

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6 Comments:

Blogger Menina Marota said...

Um dia destes, passei numa rua onde, dentro de um grande buraco, se encontrava um homem a retirar terra com uma pá.

Vermelho do esforço, suado pelo calor que se fazia sentir, esforçava-se cada vez mais por elevar a pá, onde 5 homens olhavam para ele com sorrisos de desdém...

Moral da história: cada um que a retire...


Os meus parabéns aos ganhadores e a todos os que se esforçaram por competir, mas que infelizmente não lhes correu bem o esforço...

Um abraço ;)

23 de agosto de 2008 às 14:27  
Blogger Júlio P. Andrade said...

Que exagero, Antunes Ferreira. Não foi tudo tão mal como diz. NBão foi só o Nelson Évora e a Vanessa Dernandes. Aquela miuda que ficou 8º na marcha, Ana Cabecinha e a que foi 10.º e o velejador e mais uns quantos.
Lá essa do cavalo ter-se assustado com o ecran... é que não lembra ao diabo!

23 de agosto de 2008 às 17:48  
Blogger R. da Cunha said...

E o SLB, graças, agora, ao Di Maria, já vai em 3 medalhas!

23 de agosto de 2008 às 18:36  
Blogger pedro oliveira said...

«desde que em 1986 ganhou corpo a ideia do barão Pierre de Coubertin de fazer renascer a tradição dos jogos da antiga Grécia.»

Esses jogos renascidos, renasceram em 1896.Abril.05 era sexta-feira e chovia em Atenas.

25 de agosto de 2008 às 01:33  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pedro Oliveira,

Sim, é gralha, decerto.
Vou avisar o autor.

Obrigado

CMR

25 de agosto de 2008 às 08:07  
Blogger Antunes Ferreira said...

Pedro Oliveira

Foi um erro. Meu. Uma troca de algarismos. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.
Muito obrigado por estar tão atento.
www.travessadoferreira.blogspot.com
ferreihenrique@gmail.com

Vá até lá e mande coisas para mim. Gostei da sua observação e da sua arte para as minudências...
Abs

26 de agosto de 2008 às 00:57  

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