PREC XXI
Por João Paulo Guerra
Com mais de 30 anos de atraso em relação a Portugal, a pança do capitalismo descobriu o coração do “gonçalvismo”.
NA AMÉRICA, o governo federal está a intervir em sucessivos gigantes bancários, numa modalidade mitigada de “nacionalização” como a que foi decidida e ensaiada em Portugal em 1974 contra a “sabotagem económica”. Em 1974, perante os acontecimentos em Portugal, a América puxou logo de todo o arsenal da guerra-fria receitado para usar a quente: esquadra da NATO a pairar ao largo da costa, mobilização dos aliados, boicote económico e chantagem financeira, visitas do general Vernon Walters e nomeação do embaixador Frank Carlucci, manipulação de partidos, de sindicatos e da opinião pública, campanha de propaganda delirante, redes terroristas e separatistas clandestinas, etc. Valia tudo. Mas, afinal, a intervenção do Estado na economia não morde.
Muito pelo contrário. O que é verdadeiramente grotesco é que o capitalismo mais selvagem, apesar de desconfiado, está a suspirar de alívio. Medidas de inspiração socialista – que apenas socialistas excêntricos como o coronel Hugo Chavez ousam hoje tomar apesar da ameaça de represálias – estão a segurar o capitalismo pelos cabelos para evitar o descalabro iminente. O Fundo Monetário Internacional apressou-se a aplaudir a iniciativa. Quem poderia prever um FMI-ml? Mas não é que o mundo esteja de pernas para o ar: é o sistema que está de pantanas. A especulação tomou o freio nos dentes. O capitalismo ficou com a “bolha”. Wall Street está ao nível da Dona Branca.
Perante “a catástrofe iminente” quais “os meios de a conjurar?”, perguntaria Vladimir Ilitch Lenine. E o velho Karl Marx responderia: “obviamente, nacionaliza-se”.
«DE» de 11 de Setembro de 2008 - c.a.a.
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Actualização-1: Alguém sugere uma modalidade de passatempo que atribuísse, ao respectivo vencedor, um exemplar do livro cuja capa aqui se vê?
Actualização-2: Goste-se ou não dos conteúdos ou dos seus autores, o certo é que documentos como este são importantes para o estudo de um período marcante da nossa História recente. Um exemplar da obra será, então, enviado ao leitor que, até às 20h do próximo dia 13, der a resposta mais correcta à questão: «Quantos capítulos tem o livro?». Cada leitor poderá dar uma única resposta; em caso de empate, será premiado o primeiro deles.
Actualização: o passatempo terminou. Ver o resultado [aqui]
Etiquetas: autor convidado, JPG
12 Comments:
As nacionalizações, em Portugal, não foram em 1974 (como se diz no início da crónica) mas sim a seguir ao 11 de Março do ano seguinte.
Que tal um passatempo relâmpago em que os participantes tenham que dizer os nomes das empresas que irão ser nacionalizadas e que o autor refere?
Um livro destes como prémio,só me ocorre a atribuir ao vencedor de um concurso de máscaras de horror, ou como terapêutica de choque para manter acordado que sofra da doença do sono...
Resposta de João Paulo Guerra ao 1.º comentário:
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A verdade é que na minha crónica no Diário Económico eu não falo nas nacionalizações, que foram com efeito a seguir ao 11 de Março, mas - passo a citar - «numa modalidade mitigada de "nacionalização" como a que foi decidida e ensaiada em Portugal em 1974 contra a "sabotagem económica"». Essa modalidade foi a intervenção do Estado em alguns bancos e empresas, a primeira das quais foi o Banco Intercontinental Português - BIP, em 12 de Outubro de 1974. A intervenção do Estado veio depois a ser regulada pelo Governo Provisório em 25 Novº de 1974.
Para além disso, em 4 de Setembro de 1974 foram efectivamente nacionalizados os bancos emissores - Banco de Portugal, Banco de Angola e BNU.
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Aqui vai o meu palpite para o passatempo "Número de capítulos":
18
para João Paulo Guerra
11 Setembro
Dito assim ninguém o entende
O Mundo recuou bastante
Quando em dia aziago
Mataram Salvador Allende
Em sua Terra
-Santiago
Palácio de la Moneda
Anos mais tarde é feito o câmbio
Lágrimas amargas
Por ruínas e escombros
Dito assim ninguém o entende
Certo é que já menos gente
Encolhe os ombros
o Mundo recuou bastante
Desde que o privaram
De Salvador Allende
Esta crónica de João Paulo Guerra é, obviamente, capciosa.
E é capciosa porque as razões pelas quais o governo norte-americano interveio na Fannie Mae e na Freddie Mac não têm nada a ver com as nacionalizações feitas em Portugal após o 11 de Março.
Denuncia esta intervenção norte-americana na esfera privada uma debilidade do sistema capitalista?
Penso que denuncia, sobretudo, uma grande debilidade da democracia. O que não é uma debilidade menor.
Aquelas financeiras norte-americanas já tinham entrado em flagrante desequilíbrio desde 2003, ano em que os seus CEO´s foram admitidos mas continuaram por perto. E porquê?
Pois por conjugação de interesses que envolveram os próprios partidos republicano e democrata.
Foi desta conjugação promíscua que resultaram muitos golpes que começam agora a mostrar a profundidade.
Dito de outro modo: O escândalo não está no facto de terem sido agora nacionalizadas. Aliás tinham sido criadas há décadas pela administração democrata de então, a sua génesis era estatal. O escândalo são as práticas que levaram à derrocada e encheram os bolsos de muitos. Mas isso poderia também ter acontecido se elas se tivessem mantido sob a alçada total do governo federal.
Notar-se-ia menos? Claro que sim.
Quantas empresas portuguesas nacionalizadas não teriam já desaparecido se não tivessem encostadas ao orçamento? Que parte do descalabro que acabaria com elas deveria atribuir-se a práticas lesivas de todos os contribuintes portugueses?
Any body at home?
Para o passatempo do nº de capítulos do livro, arrisco 22.
Quanto ao nº de capítulos do livro arrisco 12.
15
Mero palpite: 7 capítulos.
Faltam 45 minutos para o passatempo acabar. Até ao momento há os seguintes "palpites":
18
22
12
15
7
Vou digitalizar o índice do livro para mostrar a resposta certa.
Até já.
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