Não há discursos grátis
Por Baptista-Bastos
ARFANTE DE EXPECTATIVA, a pátria aguardava o discurso de Manuela Ferreira Leite. Não a pátria toda. Contrariando a gravidade que o momento reclamava, o Público, embora pouco propenso à ironia, fez uma manchete com agudo e jocoso sentido: "No discurso da rentrée, parte do PSD foi ver aviões." É um comentário demolidor. Não sei se justo. Lamentavelmente não fui convidado a assistir às instrutivas sessões da Universidade de Verão. Mas, se o título não é justo, lá que parece, parece. Pelo que assisti, nas televisões, a intervenção da presidente do PSD foi uma bocejante chatice.
Além de nada dizer que sobressaltasse as almas, a senhora é desprovida de convicções, de paixão, de fulgor, de compromisso vital, de empatia, de simpatia e de persuasão. Também escutei, nas rádios com "antena aberta", as opiniões de portugueses. Vinte e quatro horas após o sinédrio de Castelo de Vide, as pessoas ainda estremeciam de assombro. Digamos que 98 por cento dos intervenientes reduziram a subnitrato a fúnebre oração.
(...)
Texto integral [aqui]
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1 Comments:
No mesmo jornal, Vasco Graça Moura é de outra opinião...
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OS SILÊNCIOS DO GOVERNO
Com a serenidade e a firmeza que lhe são habituais, Manuela Ferreira Leite traçou no domingo passado, em Castelo de Vide, um quadro tão implacável quanto deprimente da acção do Governo, contextualizando a gravíssima responsabilidade dos socialistas no exercício do poder executivo em nada menos de dez dos últimos 13 anos.
Na verdade, não é preciso um grande esforço de memória para nos lembrarmos de que esse já era o magno problema nacional quando o PSD chegou ao Governo em 2002. O tremendo buraco negro tinha sido criado pela governação socialista entre 1995 e 2002. O breve interregno social-democrata atacou o problema de frente, mas não teve tempo nem condições para resolvê-lo.
Foi na sequência dessa herança ruinosa dos governos socialistas de Guterres que veio inscrever-se, a partir de 2005, uma perversa modalidade de expressão da maioria absoluta, apoiada numa máquina altamente eficaz cujos custos de funcionamento vão sendo suportados pelo contribuinte.
Trata-se da política de dilapidação e propaganda do Governo Sócrates.
O Governo Sócrates pode tirar patente na matéria. Nunca se despenderam tão ingloriamente e tão levianamente tantos recursos nacionais. Nunca se fez tanta propaganda de um modo tão descarado. Nunca se fez tanta política irresponsável com um sentido de impunidade total.
Manuela Ferreira Leite teve ensejo de apontar a degradação da actividade política, a perda de confiança por parte dos cidadãos em relação aos políticos, a falta de seriedade, de transparência e de espírito democrático com que o partido no poder tem desenvolvido uma acção intimidatória, discriminatória e repressiva que não se confina ao Estado.
Fez uma denúncia impiedosa do quadro de esbanjamento irresponsável de recursos e da actividade política como manifestação circense, isto é, como série de peripécias e de espectáculos dispendiosos e sem resultados palpáveis, mas pagos por todos nós para maior propaganda socialista e para consolidação de um Governo que tem falhado sistematicamente os objectivos que se propunha ou que vai anunciando.
Esse é um quadro em que a ficção, quando não o delírio, tem vindo a substituir-se progressivamente à realidade, em que os anúncios pomposos se sucedem sem qualquer correspondência efectiva que os traduza em factos, em que as promessas são pó verbal inconsistente, em que as áreas que exigiriam uma correcta e fundamental intervenção do Estado se têm vindo a esboroar, com consequências inevitáveis e dramáticas no tocante à economia, ao emprego, à justiça, à educação, à saúde, à segurança, etc., etc.
É um quadro em que reformas que não chegam a ser feitas são promovidas como se o tivessem sido, em que têm vindo a falhar todos os grandes projectos e em que o País continua de rastos por obra e graça dos seus governantes impávidos.
Manuela Ferreira Leite foi muito clara ao enunciar que o PSD não aceita, o que o PSD pretende, o que o PSD irá fazer.
Mostrou que a época dos parlapatões e dos fala-barato tem de ser ultrapassada e que o tecido económico e social tem de ter outro tratamento político e técnico. Exigiu ao Governo contas rigorosas e justificações de vantagens para o País no tocante aos grandes projectos de obras públicas. Exigiu que o Governo apresente estratégias quanto a outros pontos nevrálgicos da vida nacional, nomeadamente a segurança pública.
Não se ouviu todavia, nem se ouvirá, o que deveria ter sido dito imediatamente a seguir. Nenhum porta-voz do Governo declarou que essas contas e demonstrações iriam ser apresentadas em breve. Muito menos se ouviu qualquer garantia de reforço das condições de segurança de pessoas e bens.
Na verdade, da banda do Governo, não se ouviu rigorosamente nada que desse resposta às questões levantadas. E esse é que é o silêncio mais extraordinário. Os socialistas vão pagar muito caro essa falta de resposta a questões cruciais.
Amanhã, o Governo Sócrates só ficará referenciado nos manuais de história como um governo que se especializava em fazer operações stop para a televisão.
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