1.11.08

Sócrates e a banha da cobra


Por Alfredo Barroso
SINTO-ME ENVERGONHADO ao ver o primeiro-ministro do meu país a desempenhar o papel de vendedor de banha da cobra numa cimeira de chefes de Estado e de Governo. De cada vez que a cena passa na televisão, sinto vontade de me enfiar num buraco. A cena revela falta de sentido de Estado, falta de bom senso e falta de vergonha.
Não é verdade que – como ele diz – o computador «Magalhães» seja um produto genuinamente português e, ainda menos, ibero-americano. Mas, mesmo que o fosse, um mínimo de pudor deveria ter impedido o primeiro-ministro de vestir a pele de um vulgar promotor de vendas de um produto comercial que está bem longe da excelência.
Para o engenheiro José Sócrates, a ausência de oposição à altura e de alternativa credível, em Portugal, convenceu-o de que tudo lhe é permitido aquém e além-mar – por cá, na Europa e na América Latina – sem medo de que o ridículo dê cabo dele.
De facto, não há situação mais lamentável do que aquela em que se encontra o PSD. Num país de comentadores «politicamente correctos», ainda não apareceu quem tenha coragem de apontar a dedo as medíocres prestações políticas da doutora Manuela Ferreira Leite, fazendo como o miúdo daquela velha história d’ «O Rei vai nu».
No fundo, o engenheiro Sócrates é como o computador «Magalhães»: está longe da excelência e não é genuíno, mas podem atirá-lo ao chão que ele nunca se parte.
NOTA: Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue Traço Grosso.

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22 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Os brasileiros usam muito a expressão «Ele não se enxerga», significando que a pessoa em causa não se apercebe da triste-figura que faz.

Ora essa frase (que reflecte a dificuldade que esse indivíduo tem para se ver tal como os outros o vêem) é particularmente válida para muitos políticos que vivem completamente isolados da realidade - e estou a pensar nos que nunca andam nos transportes públicos, nos que não sabem o que é ir às 5h da manhã para a fila de um Posto Médico... e coisas assim.

Pelo facto de viverem rodeados de assessores, correlegionários, amigos, familiares, besuntas, seguranças e "yes-men", não se apercebem de quando atingem - ou ultrapassam generosamente, como foi agora o caso de Sócrates... - o limiar do ridículo.

Mas não nos iludamos: o mal não tem cura, pois já não é possível, hoje em dia, fazer como nas histórias tradicionais - em que o rei ou o vizir se disfarçavam de mercadores para, circulando anonimamente por praças e mercados, saberem o que o povo pensava deles e da sua governação.

1 de novembro de 2008 às 18:06  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O blogue «Portugal dos Pequeninos» deu destaque a esta crónica, fazendo um post com ela - Ver [aqui]

1 de novembro de 2008 às 20:37  
Blogger Táxi Pluvioso said...

Pior é chamarem computador ao Magalhães. Por isso ele é muito necessário para que se aprenda informática em Portugal.

Não vai abalar as traves mestras da nossa sociedade, Futebol, Fado, Fátima, mas produzirá melhor figura quando se politica ou cronica.

A Srª Leite só é ouvida por surdos e pessoas sem memória. Mas é curioso como neste país, a fama de competente é colada em pessoas sem préstimo, espalhando-se conversas de amigos, e todos depois acreditam.

E o papel dos políticos nos tempos do comércio livre não é vender banha da cobra mas vende produtos nacionais: enchidos, ovos moles, pastéis de nata, e o Magalhães, cujas aplicações de software são lusas.

2 de novembro de 2008 às 08:15  
Blogger Jorge Oliveira said...

Sócrates não consegue aperceber-se do ridículo da cena que protagonizou.

Por uma razão simples : há pessoas que têm de si próprias uma ideia tão elevada que pensam que tudo quanto dizem e fazem é do mais alto nível. Para eles não existe a noção de que podem cair no ridículo.

Trata-se de uma questão do foro psicológico e Sócrates dá muitos sinais de uma personalidade com estas características.

2 de novembro de 2008 às 10:26  
Blogger Jorge Oliveira said...

Alguém fazia o favor de perguntar ao ex-presidente Jorge Sampaio, caso esta acção se observasse com Santana Lopes, quantos minutos levava ele para tomar a decisão de demitir o governo?

2 de novembro de 2008 às 10:35  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Como atrás se diz, o 'Portugal dos Pequeninos' deu destaque a esta crónica e transcreveu-a - mas apenas em parte, omitindo os 2 últimos parágrafos.

Ora, como não colocou a indicação "(...)", a crónica está a ser reproduzida noutros blogue incompleta.

2 de novembro de 2008 às 12:17  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Onde escrevi 'correlegionários', leia-se 'correligionários'.

2 de novembro de 2008 às 12:39  
Blogger Unknown said...

Acho no mínimo deplorável que o primeiro ministro de um país que se quer do 1º mundo anda a fazer as vezes de um delegado comercial da JP Sá couto e da Intel, isto com o argumento esfarrapado de que se trata de tecnologia portuguesa. Das duas uma ou o Sr. primeiro ministro está enganado ou então tenta enganar-nos a todos. De português o computador só tem o nome :(


http://www.intel.com/intel/worldahead/classmatepc/

http://www.guiadohardware.net/analises/intel-classmate-parte1/

2 de novembro de 2008 às 14:01  
Blogger Unknown said...

Os moralistas deste País, a começar pelo Dr. Alfredo Barroso (de quem continuo a ser amigo, apesar de ele nem se dignar responder a uns modestos mails que lhe estava a mandar. E que, por isso, já deixei de o fazer) e a terminar no Dr. Francisco Louçã, deram agora em criticar o primeiro-ministro Sócrates por mor da sua intervenção a propósito do NOSSO Magalhães, na Cimmeira Ibero-Americana. Benditas e santas almas que se preocupam com a imagem do chefe do Governo a vender banha de cobra (sic).

Penso, até, que José Sócrates - a quem tantos erros, tantas calinadas e tantos disparates já foram imputados e apontados - devia, na sequência de tais defensores da moral e decoro públicos, pedir-lhe desculpa de ter sido o primeiro político (pelo menos em Portugal, já que não sei quantos mais haverá pelo Mundo fora) a pôr em prática o fornecimento de MEIO MILHÃO de computadores aos alunos mais jovens do nosso País. Eu escrevi FORNECER, acentuo, para evitar trabalho aos que se ofenderiam se tivesse grafado oferecer. Mas, claro, falsos como Judas no que toca a serem portugueses. Assim, também eles, como teriam dito os derrotados no episódio do ovo do tal Colombo.

Já uma vez, logo após a vitória eleitoral que o conduziu ao Poder, escrevera que Sócrates deveria, igualmente, ter pedido desculpa aos que o elegeram (e, de passagem) ao País, por ter alcançado a maioria absoluta.

Realmente, e tal como escrevo na minha crónica aqui no Sorumbático, agora já compreenderei que José Sócrates seja o culpado da crise financeira mundial, da possível vitória de Barak Obama nas presidenciais já depois de amanhã, da falência do Lheman Brothers, da guerra civil na chamada RD do Congo. São apenas exemplos, pois casos destes em que a culpabilidade do primeiro-ministro é tão evidante abundam e felizmente podem ser interiorizados por nós, ígnaros cidadãos portugueses.

Não fora esta corrente moralisadora/sancionatória e andaríamos, nós os lusos, acentuo, em total engano por mor das consecutivas mentirolas socratianas. E, óbvio, da pandilha que o rodeia.

Até já se fala à puridade que terá sido Sócrates que fez abortar a transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid. Alto lá, ó engenheiro/mentiroso: isso não. Isso raia a irresponsabilidade, como diria a Dr.ª Ferreira Leite

Um destes dias, os audazes, destemidos e denodados defensores da moral e da verdade, face ao soez procedimento do primeiro-ministro (até ver, goste-se ou não se goste, nosso), ainda haverá quem o relacione com a perda (aliás e infelizmente temporária) da nossa independência nacional, e com a consequente chegada dos Felipes ao trono lusitano. !580 não é tão longe assim e, face à tal teoria de uma tal relatividade de um tal Albert qualquercoisa em ein, não está provado que seja impossível. E o desaprecimento dos dinossauros? Por ali deve ter andado a mãozinha socialista do prepotente e arrogante Sócrates, o Português está visto, não o Grego. O homem é gajo para isso.

Por isso, o meu muito obrigado a todos os que meteram ombros a esta ingente e absolutamente necessária tarefa. Assim, ficámos todos a saber que Sócrates não é primeiro-ministro: é primeiro-vendedor, pior, primeiro-publicitário. Que se cuidem as agências existentes: a concorrência socrática, impiedosa e autocrática, já chegou.

2 de novembro de 2008 às 19:49  
Blogger Rosário said...

Dantes havia um anúncio de desodorizantes (Rexona?) cuja frase-chave era: «Temos de lhe dizer!». Ou seja: os amigos do indivíduo com "odor corporal" estavam a tentar arranjar coragem para lhe dizerem a dura realidade.
Não sabemos se o chegaram a fazer. Se calhar não.

Sócrates também precisava que alguém lhe mostrasse as tristes figuras que faz, quando as faz.
Mas sabe-se que a verdade (como no caso do desodorizante) nunca é dita pelos amigos, mas sim pelos adversários.
Estes, vão direito ao assunto. Podem ser desagradáveis, mas são em geral mais justos do que os amigos.

O que JPP diz no ABRUPTO é mais do que certeiro, e é o que pensa quaquer pessoa que, sem sectarismos partidários, veja o inconcebível vídeo que o Público online mostra:

«Eu imagino o ar entalado do ministro dos Negócios Estrangeiros, um homem civilizado e capaz, moderado e "diplomata", no bom sentido da palavra, ao ver o que se estava a passar, ao ver o seu primeiro-ministro a fazer de vendedor de cobertores como se estivesse numa feira manhosa, promovendo o "verdadeiro computador ibero-americano".

...

Mas a história só piora cada dia. Ela está a degradar cada vez mais a nossa política externa, com momentos ridículos, pasto dos Gatos Fedorentos, tanto mais que se passam numa cimeira internacional. É penoso ver Sócrates a dar computadores, numa extensão do e-escolinhas, aos chefes de Estado ibero-americanos, perante o sorriso irónico da maioria dos chefes de Estado,

...

Mais. Sócrates obviamente nunca faria uma cena daquelas num conselho europeu, e nessa diferença está a rebaixar os seus anfitriões, como se estivesse ali a fazer de sr. Oliveira da Figueira, a trocar umas contas de vidro por ouro entre os tuaregues do deserto. Sócrates falava para os "índios". E os "brancos" na reunião, como Zapatero, estavam noutra. Um desses índios, explicou ele, uma criança grande chamada Chávez, uma criança descuidada e desajeitada, até tinha atirado o "Magalhães" ao chão para lhe

2 de novembro de 2008 às 21:52  
Blogger Juliana Vasconcellos said...

O Mendonça (quem será? O perfil dele não está disponível...) para atacar o Sócrates usa de todos os meios, dos mais baixos aos mais incríveis. A citação do Rexona é pior que a música pimba.

Além do mais, Mendonça é racista obsoleto: a distinção que faz entre "índios" e "brancos" é estapafúrdia e própria do apartheid. Os boers têm nele um bom compagnon de route.

Para Mendonça "é penoso ver Sócrates a dar computadores, numa extensão do e-escolinhas, aos chefes de Estado ibero-americanos, perante o sorriso irónico da maioria dos chefes de Estado". E já agora, porque não também dos chefes de Governos?

Mendonças coomo este há vários. Felizmente para a enorme maioria dos Mendonças os vários são poucos. Os que alinham com gente como esta são mesmo muito poucos. Só que não se pronunciam - e não são a maioria silenciosa. São, apenas, a maioria indiferente...

O Engenheiro Sócrates está a fazer por Portugal o que nenhum político tinha feito. E os derrotistas e bota-abaixo que "andam por aí", que eu saiba nunca fizeram nada.

Continue, José Sócrates. Dores de cotovelo e mentes iluminadas é o que não falta por cá. Julgam eles, os que se auto-consideram assim. Tenho pena desses "salvadores da Pátria", mesmo que esta não queira.

3 de novembro de 2008 às 01:04  
Blogger António Viriato said...

Alfredo Barroso salva aqui, mais uma vez, a honra perdida dos socialistas.

Como foi possível tamanha descaracterização socialista ?

As bandeiras já são brancas (da rendição ?) ou amarelas (da traição ?): Ou ninguém se dá conta ?

Quando o pesadelo socrático um dia findar, muitos dos seus apaniguados vão rebentar de vergonha, se alguma lhes restar...

3 de novembro de 2008 às 01:44  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Se um cavalheiro qualquer decide cobrir-se de ridículo, é lá com ele.

Mas se o mesmo cavalheiro é alguém que representa um país ao mais alto nível político (e as barracadas que encena têm lugar durante essa mesma representação política), isso já não é só com ele, evidentemente.

O facto de ele não se aperceber, sequer, disso, é caso para preocupação adicional.

3 de novembro de 2008 às 09:02  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Dado que alguns canais de TV passaram apenas parte da intervenção de José Sócrates, juntei ao post, com o acordo do seu autor, o vídeo com a versão mais completa. Tem 2m 28s.

3 de novembro de 2008 às 14:08  
Blogger Jorge Oliveira said...

Cara Juliana Vasconcellos :

O apelido tem mesmo dois "l" certo? Espero que o Acordo Ortográfico não a obrigue a deixar cair um deles, pois fica-lhe muito bem assim.

Eu, como deve ter reparado, faço parte do grupo dos “bota-abaixo”. Do Sócrates, claro. Mas, para ser sincero, já estou com inveja dele. O danado, apesar da fama de gay, ainda consegue suscitar a concordância de uma carinha laroca como a sua.

Sim, porque, se a foto é mesmo sua, você é cá uma giraça... O que me levanta um problema. Sensível como sou à beleza feminina – coisas da heterossexualidade que se usava antigamente – tenho uma irresistível tendência para concordar com as mulheres bonitas.

Só lhe peço uma coisa : pó mór de Deus, não trate o Sócrates por Engenheiro à minha frente. É que Engenheiro sou eu e não gosto de ser metido no mesmo saco com aldrabões que tiram o curso por fax.

Lamento não poder mostrar-lhe a minha foto, pois o amigo que me inscreveu nestas andanças dos comentários, não me pediu tal artefacto. Apareça mais vezes. Faz bem à vista, ainda que não faça a mais nada.

3 de novembro de 2008 às 15:44  
Blogger jose reyes said...

Ó Barroso, ó Medina, ó rapazes, bora fazer uma petição para fechar a Autoeuropa.
Ó engenhocas Oliveira, desde quando é uma foto um artefacto?
Ó profissionais da má-língua, e fazer algo pelo País? Hum?

3 de novembro de 2008 às 16:12  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Um artigo sério sobre este assunto, da autoria de J. Norberto Pires, pode ser lido no blogue DE RERUM NATURA - [aqui].
Destaque-se o que é dito logo no início:

«O "Magalhães" é um CLASSMATE da Intel (http://www.classmatepc.com/). Basta ver o site, na secção de vídeos, para ver a versão da Tailândia, Nigéria e Brasil».

3 de novembro de 2008 às 16:30  
Blogger Jorge Oliveira said...

Medina : então este artigo do Alfredo Barroso não é sério...?

3 de novembro de 2008 às 17:42  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Bem metida!

Mas percebes bem o que quis dizer:

O artigo de A.B. é uma análise política. O do DE RERUM NATURA é uma análise técnica.

Complementam-se, evidentemente, sendo que o segundo texto é mais difícil de contraditar - ou, caso o seja, isso terá de ser feito em moldes completamente diferentes, que nada têm a ver com simpatias partidárias.

3 de novembro de 2008 às 17:53  
Blogger Sepúlveda said...

Boa ou má, publicidade é sempre bem-vinda. É o que a JP Sá Couto está a ter. Contrataram um vendedor de topo, que mesmo que faça figuras em cimeiras, sabe que os portugueses vão ver e vão ficar interessados na tal geringonça. Explosão de vendas! É, não só empregado do mês, mas empregado do ano. Que favores estarão a ser pagos?

3 de novembro de 2008 às 21:36  
Blogger Jorge Oliveira said...

Por muito que não aprecie José Sócrates, nem aprove esta figura de vendedor na cimeira ibero-americana, faço-lhe a justiça de não acreditar que ele tenha algum compromisso com a empresa e qualquer interesse financeiro na divulgação do computador.

Ele é assim. E é por isso que devia ir tocar tangos para a rua dele.

4 de novembro de 2008 às 09:06  
Blogger Unknown said...

Mais um blogue a reproduzir o texto:
http://apaginadomario.blogspot.com/2008/11/scrates-e-banha-da-cobra.html

E convido a ler o que Luiz Carvalho escreveu no "Instante fatal":
http://instantefatal.blogspot.com/2008/11/o-homem-do-magalhes-aquela-mquina.html

5 de novembro de 2008 às 14:59  

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