Opiniões "em pacote"

RECENTEMENTE, dei-vos conta [aqui] do que se passou com um velho amigo meu quando lhe pedi opinião sobre um determinado crime urbanístico: só ma deu depois de se inteirar de qual o partido a que pertencia a vereação responsável pelo aborto!; e a sua 'doença' tem-se agravado de dia para dia, pois ele, que sempre conheci lúcido e crítico, perdeu completamente a capacidade de pensar pela sua própria cabeça (quando o assunto é política), fazendo-o agora por interpostas pessoas:

Tudo o que tem origem na rapaziada do seu partido está correcto ou, nos casos mais escabrosos, "não é tão grave como dizem" - nem que sejam as maiores pulhices, mentiras, vigarices ou simples manifestações de incompetência. Inversamente, tudo o que vem dos seus adversários políticos são idiotices que nem merecem análise - mesmo que sejam as propostas mais lógicas ou mais justas do mundo.

Escusado será dizer-se que, a pouco e pouco, a nossa convivência se tem ressentido com isso, pois o Chico, que até há algum tempo era uma boa companhia (com uma conversa sempre agradável e estimulante), transformou-se num papagaio totalmente previsível, só se engasgando (o que às vezes sucede, para meu grande gozo) quando o seu partido muda de opinião, numa pirueta que ele, embora a custo, lá acaba por acompanhar.

Mas não admira: com opiniões em pacote... acaba por se embrulhar!

NOTA: Ver [aqui] um passatempo-relâmpago onde se verá que esta forma de pensar "em pacote" não é só de agora. A foto, que não corresponde à história referida, é da Av. Almirante Reis, em Lisboa.