24.3.09

Queimada

Por João Paulo Guerra
Em Portugal, país muito dado ao destino e ao fadário, quando chove há inundações e cheias, quando faz calor há seca e fogos. Até temos uma época de cheias e uma estação de incêndios. Mas não há quadra nem época para a prevenção. O que vier, vem e logo se verá.
DE MANEIRA QUE, com o aquecimento - que só em Portugal surpreende e apanha pessoas e instituições desprevenidas - este ano os fogos de Verão começaram bastante antes da estação. Pelo que, não só junto das oficiantes de crendices, mas mesmo do lado dos oficiais do ofício, os fogos apanharam o país desprevenido, na "fase alfa" do combate às chamas. Porque prevenção não houve e as fases do combate marcam-se pelo calendário e não em função da conjugação de causas capazes de desencadear o desastre. Ninguém mandou os fogos de Verão chegarem ainda no Inverno/Primavera. Ou então os fogos, para se declararem, não levaram em conta que ainda não tinha começado a "fase bravo" do combate às chamas.
Se em certas modalidades algum amadorismo tem o encanto da bizarria ingénua, em outras é da mais completa irresponsabilidade. Este ano, ainda no Inverno, arderam hectares de mata que o Estado tem obrigação de preservar como bem nacional à sua guarda. Mas segundo dizia num jornal de ontem uma Confederação de Agricultores, o Estado não usou os milhões que recebeu de Bruxelas para a prevenção de fogos e a reflorestação de áreas ardidas. Da mesma forma que a Liga dos Bombeiros fazia saber que o Governo não está a respeitar o compromisso destinado a garantir o funcionamento das corporações de Voluntários.
Deixa arder. Há-de haver quem ganhe milhões com uma política de terra queimada e um país deserto. E sem povo, já agora. Veremos é quem paga a conta.
«DE» de 24 de Março de 2009

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1 Comments:

Blogger Sepúlveda said...

Não sei porquê, mas tenho a sensaçao que em países onde não giram milhões para o combate a incêndios (essencialmente quando este está entregue a forças militares ou estatais não empresariais) há apenas uma fracção dos incêndios registados no nosso país.
Como é possível que lá que as temperaturas se elevem e esteja sol, por magia, deflagram incêndios a torto e a direito? Claro que os privados que combatem incêndios gostariam de ter receitas todo o ano.

25 de março de 2009 às 12:08  

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