Atoleiro
Por João Paulo Guerra
O pântano está podre. Perpassa pelo país, em desabafos de políticos desalinhados e de personalidades independentes, em artigos de opinião e outras peças de jornais, em conversas na praça pública e debates nas tertúlias, um misto de vergonha e indignação pelo estado de podridão a que chegou o pântano.
O MUNDO ESTÁ EM CRISE mas Portugal consegue estar pior. Não apenas porque seguiu políticas mais erradas, conduzidas por convencidos e arrogantes apregoadores de banha da cobra, mais papistas que os Papas do neoliberalismo, mas acima de tudo porque a delinquência financeira atingiu um grau de generalização, descaramento e impunidade difíceis de igualar.
O elenco de protagonistas dos "casos" que inundam o noticiário do país conduz à inevitável conclusão que o pântano tem uma pré-história, anterior à célebre frase de despedida de António Guterres, tal como tem sequelas, desenvolvimentos e cenas dos próximos episódios. Guterres só fez o ponto da situação em 2001. Mas o pântano vinha de trás e seguiu em frente. Tem antecedentes e consequentes, tal como tem figuras pardas e eminências que atravessam todo o enredo, uns atolados até aos cabelos, outros simplesmente salpicados pelo lodaçal.
Extraordinário, em tudo isto, é o silêncio que cobre o pântano e respectivas adjacências, apesar da vozearia afónica que tenta fazer-se ouvir. Dá ideia que uma conspiração de silêncio procura evitar que despertem os ecos do pântano. Próceres do situacionismo, que falam por tudo e por nada, e sempre, e muito, perante o pântano olham para o lado, sussurram banalidades e mudam de assunto. Há em todo este cenário um sinal exterior de irreversível decadência. Os bolores do pântano, do atoleiro, tomaram conta da situação.
«DE» de 6 de Abril de 2009
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3 Comments:
I Parte
Sinal da irreversível decadência
e de lodaçais fedorentos,
a nossa moral imprudência
ganha contornos bolorentos!
Os ecos pretendem silenciar
para não despertar a podridão,
trata-se de um forma de denunciar
toda a fétida devassidão!
O mexilhão atascado
pelos infortúnios da vida,
fica embasbacado
nesta terra mal movida!
II Parte
Em conta deve ter
para revelar superioridade,
o exercício do poder
exige outra moralidade.
Seja por solidão,
seja por irracionalidade,
o direito à devassidão
premeia a imbecilidade!
O mexilhão atento
desta lamentável ocorrência,
demonstra o seu desalento
perante a imoral pesporrência!
III Parte
Sem ligar à honestidade estatal
nem à eficácia da legislação,
repete-se a ementa regimental
para gáudio da população.
São séculos desta história
com ligeiras alterações,
a natureza rogatória
é feita de devassas intenções!
Para poder manjar
comodamente refastelado,
o mexilhão tem que arranjar
uma mesa em qualquer lado!
Epílogo
De pena e língua venenosa
na hora de enxovalhar,
chega de política enganosa
sempre disposta a malhar!
Com tamanha ingratidão
o mexilhão é infrutuoso,
toda esta podridão
revela um sistema desvirtuoso!
Já sabíamos disso tudo!
Mais uma vez só se grita ladrão mas sem apontar o sujeito que tem que ser detido. Dizer mal, toda a gente consegue. Conseguimos ver que não se pode confiar em ninguém para nos tirar disto, que está tudo muito negro e que a culpa é de alguém, de algumas pessoas das quais até suspeitamos.
Mas estar sempre a ouvir gritar ladrão cansa. Já sei que é só pulhas e interesses por todo o lado e que está tudo mal. Mas isto já não são novidades; nem vale a pena mastigar mais o assunto, a não ser que só se queira contribuir para a depressão nacional.
excelente e lúcida análise!
obrigado
abraço
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