5.5.09

Desdizer

Por João Paulo Guerra
O Bloco Central não estava morto: estava era mal enterrado. As mais recentes sondagens têm uma, entre muitas outras leituras.
OS PORTUGUESES ESTÃO DIVIDIDOS e hesitantes entre serem desgovernados pelo PS ou pelo PSD. Mas eis que uma alternativa se perfila cada vez mais claramente no horizonte: a dos portugueses serem desgovernados por PS e PSD, coligados na modalidade de Bloco Central.
Segundo a sondagem da Universidade Católica publicada ontem, uma maioria do eleitorado tenciona votar PS. Mas há uma outra, ou em parte a mesma maioria que não confia em José Sócrates. O líder do PS bateu o seu recorde de impopularidade nos últimos dois anos e meio. Pior que o líder do PS só a líder do PSD. A questão é que o eleitorado não escolhe líderes partidários. Isso é matéria de sufrágio para uma minoria de iluminados.
Depois há a questão da maioria absoluta e da governabilidade. Porque basta olhar para os tempos de governação de José Sócrates para ver que governar sem maioria absoluta não está na índole do actual primeiro-ministro. E é assim que, nos últimos tempos, se têm sucedido as sugestões no sentido da recuperação do Bloco Central. Para mim não é novidade. Nos primeiros dias de Fevereiro escrevi nesta coluna: «PS e PSD, andando às turras em público, estão a cozinhar um "bloco central" para a situação, mais que previsível, do PS não chegar à maioria absoluta nas próximas eleições legislativas». Ei-lo no horizonte.
Claro que há figuras na cena política que já disseram do Bloco Central aquilo que Mafamede nunca disse do torresmo. Mas desdizer é, apesar de tudo, uma forma de dizer, tanto mais quanto de um desdito depende a influência, a força, a autoridade, o mando, a soberania, o domínio, o poder.
«DE» de 5 de Maio de 2009

Etiquetas: ,