4.5.09

Vê se te avias

Por João Paulo Guerra
Legislando em causa própria e à porta fechada, os partidos com assento parlamentar entendem-se, aceleram o processo legislativo, fazem votações relâmpago e aprovações em tempo recorde, mesmo sem vagar para apreciação de propostas.
FOSSE A ORDEM DO DIA uma lei para efectivamente garantir o acesso de todos a um sistema de saúde tendencialmente gratuito, a educação e a cultura para todos, o direito ao trabalho e à justa retribuição, como manda em todos estes casos a Constituição, e teríamos debates infindos e inconclusivos, expedientes dilatórios, passos perdidos. Mas como a questão era o financiamento dos próprios partidos e das respectivas campanhas eleitorais tudo se resolveu a bem, a contento de todos e à pressa. Foi um "vê se te avias!" E sempre se ouviu dizer que há quem se avie muito e bem nas campanhas.
À pressa, a nova lei introduziu alterações que favorecem e facilitam o financiamento das campanhas eleitorais, designadamente ao rebentar com o tecto estabelecido anteriormente para as entradas de dinheiro vivo, e reduziu o número de votos para ter direito a subvenções públicas.
Tudo isto foi decidido em vésperas da primeira de três campanhas eleitorais, a das europeias, na qual os partidos já anunciaram intenções de gastar mais de oito milhões de euros em tralha propagandística. Por mais sacrifícios que imponham aos cidadãos, quando chega a hora de lhes moldar as cabeças, à força de propaganda, os partidos não se contêm. E lá vêm as promessas devidamente enfardadas em sacos de plástico.
Talvez os partidos pensem que é por muito matraquear que se arrebanham votos. Os resultados eleitorais têm provado que as campanhas de sacos de plástico e tralha quejanda apenas promovem a abstenção.
«DE» de 4 de Maio de 2009

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2 Comments:

Blogger Sepúlveda said...

Este comentário foi removido pelo autor.

4 de maio de 2009 às 18:27  
Blogger Sepúlveda said...

Todo o dinheiro que é gasto por um partido (governo ou não) configura uma possibilidade de desvio para outros interesses, pelo que pode não interessar se é mal gasto ou se é rentável, já que o desvio será sempre considerado bom.
O mesmo se pode dizer dos gastos de outros órgãos de poder ou instituições.

Não é que eu saiba de algum caso em concreto... mas também não é preciso conhecer algum para saber que, se é possível e tentador...

4 de maio de 2009 às 18:28  

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