Lições de uma derrota
Por Alfredo Barroso
QUANDO QUEREMOS parecer-nos de tal modo com os nossos adversários políticos que nos confundimos com eles, é certo e sabido que, mais cedo ou mais tarde, os eleitores que nos contemplam acabam por preferir os originais às imitações, ou, pura e simplesmente, repudiam os originais e as cópias, por indecente e má figura, optando pelos extremos.
A maioria dos partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas europeus quis de tal forma identificar-se com a economia liberal de mercado e o turbocapitalismo financeiro, para se afastar das ruínas do comunismo soviético e repudiar os estigmas da extrema-esquerda, que, às tantas e sem dar por isso, já tinha ultrapassado pela direita muitos partidos conservadores, democratas-cristãos e liberais, embrenhando-se paulatinamente na selva de um mercado totalmente desregulado e completamente à deriva.
Esta é uma das boas explicações para se perceber o descrédito de muitos partidos social-democratas, socialistas e trabalhistas, que, ao contrário do que seria de esperar deles, não conseguiram emergir desta grande recessão, desta crise brutal do turbocapitalismo financeiro, como a alternativa mais óbvia e mais credível ao capitalismo ultraliberal defendido e praticado pelos partidos de direita nos últimos trinta anos.
Pior ainda: o «regresso do Estado» foi orquestrado, por razões meramente oportunistas, precisamente por aqueles partidos da direita ultraliberal que mais o torpedearam e que mais fragilizaram os seus alicerces, com a conivência imbecil da social-democracia europeia, cujo excesso de zelo a fez ignorar os mais fracos e mais desfavorecidos.
Será desta que os eleitores da esquerda democrática conseguirão correr de vez com os Blair, os Brown, os Zapateros e os Sócrates do nosso descontentamento, neste terrível inverno do socialismo democrático, outrora de rosto humano?! A resposta não é fácil, quando a social-democracia perde por falta de comparência e de convicções, deixando o terreno livre para a ascensão da demagogia, do populismo e do oportunismo de direita.
QUANDO QUEREMOS parecer-nos de tal modo com os nossos adversários políticos que nos confundimos com eles, é certo e sabido que, mais cedo ou mais tarde, os eleitores que nos contemplam acabam por preferir os originais às imitações, ou, pura e simplesmente, repudiam os originais e as cópias, por indecente e má figura, optando pelos extremos.
A maioria dos partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas europeus quis de tal forma identificar-se com a economia liberal de mercado e o turbocapitalismo financeiro, para se afastar das ruínas do comunismo soviético e repudiar os estigmas da extrema-esquerda, que, às tantas e sem dar por isso, já tinha ultrapassado pela direita muitos partidos conservadores, democratas-cristãos e liberais, embrenhando-se paulatinamente na selva de um mercado totalmente desregulado e completamente à deriva.
Esta é uma das boas explicações para se perceber o descrédito de muitos partidos social-democratas, socialistas e trabalhistas, que, ao contrário do que seria de esperar deles, não conseguiram emergir desta grande recessão, desta crise brutal do turbocapitalismo financeiro, como a alternativa mais óbvia e mais credível ao capitalismo ultraliberal defendido e praticado pelos partidos de direita nos últimos trinta anos.
Pior ainda: o «regresso do Estado» foi orquestrado, por razões meramente oportunistas, precisamente por aqueles partidos da direita ultraliberal que mais o torpedearam e que mais fragilizaram os seus alicerces, com a conivência imbecil da social-democracia europeia, cujo excesso de zelo a fez ignorar os mais fracos e mais desfavorecidos.
Será desta que os eleitores da esquerda democrática conseguirão correr de vez com os Blair, os Brown, os Zapateros e os Sócrates do nosso descontentamento, neste terrível inverno do socialismo democrático, outrora de rosto humano?! A resposta não é fácil, quando a social-democracia perde por falta de comparência e de convicções, deixando o terreno livre para a ascensão da demagogia, do populismo e do oportunismo de direita.
NOTA (CMR): esta e outras crónicas do mesmo autor estão também afixadas no seu blogue Traço Grosso.
Etiquetas: AB
7 Comments:
Infelizmente parece que temos de concordar com o autor do artigo.
Nós os que, de há longa data, vínhamos a pugnar por um socialismo de rosto mais humano e menos neo-liberal.
O resultado está à vista.
Há que reflectir madura seriamente na estratégia que se segue!
Dado que o tema é o mesmo, e para não dispersar mais os eventuais comentários sobre o assunto, a crónica de hoje de JPG, autor convdado do 'Sorumbático', é aqui afixada - e não em 'post' próprio.
_________
EQUAÇÃO
Por João Paulo Guerra
O PS e José Sócrates tinham um problema: como manter a maioria absoluta nas legislativas. Agora o problema tem outra equação: como vencer as legislativas.
A vitória do PSD sobre o PS nas europeias não foi a "banhada" do PS sobre o PSD em idênticas eleições em 2004 - "banhada" foi a expressão usada por Marcelo Rebelo de Sousa na época. Nessa altura, o PSD estava no governo comandado por Durão Barroso e coligado com o CDS. O PS, na oposição, era liderado por Ferro Rodrigues.
A "banhada" foi esmagadora e prefigurou o que iria passar-se em 2005, nas legislativas. Só que, no ínterim entre as europeias e as legislativas, passaram-se muitos episódios: o primeiro-ministro fugiu, o governo passou por uma fase carnavalesca, o PS foi levado a mudar de líder.
Nas europeias de domingo os resultados mostraram, não apenas que a maioria absoluta do PS mas até mesmo que a vitória eleitoral, é volátil. Ao mesmo tempo, o PSD apresentou-se como que regenerado e capaz de uma façanha que há bem pouco ninguém admitiria: vencer eleições a curto prazo. E domingo, enquanto o salão de festas do PS desmontava o palanque, a sala do PSD registava enchente, com a ressurreição de imensos desaparecidos em combates passados. E agora, o PS vai ter que reagrupar as hostes, enquanto o PSD vai haver-se com os descrentes reconvertidos pela varinha de condão de uma vitória eleitoral, mesmo que escassa. O PSD ganhou com uma percentagem própria de uma derrota. Os tempos que se seguem vão ser animados.
Nas europeias, o partido do Governo perdeu para todos os quadrantes. Pelo que também não é difícil prever que os meses que aí vêm vão ser de ampla distribuição de rebuçados e outras guloseimas. A questão é que a mercearia já não vende fiado.
-
«DE» de 9 de Junho de 2009
Não há nada como uma boa derrota para nos reconciliar com a realidade.
Eis A.Barroso regressado a sua melhor consciência política. Oxalá muitos outros socialistas o seguiam em lugar de persistirem em iludir a realidade.
Ninguém trai a sua matriz ideológica, sem pagar um alto preço. Mais tarde ou mais cedo a factura sempre aparece...
Reconheçam-na e alterem o seu legado, se acaso lhes sobrar convicção.
Caso contrário, mudem nome, sigla, doutrina e ficará a prática certa com a ideologia.
Daqui até Outubro o tempo pode ser escasso, mas mais vale começar já a trabalhar, se é que subsiste vontade e convicção para retornar à matriz.
Em todo o caso, felicito o autor pela consciência da calamidade socrática aqui demonstrada.
Corrijo dois erros :
1) ... regressado à...
2) ... sigam...
Do facto, peço desculpa.
Os partidos socialistas e sociais-democratas foram derrotados em quase toda a Europa. É um facto.
Um facto que se transmuta, no discurso da direita, em "o socialismo foi derrotado". E isto já não é um facto, é uma interpretação, porque pressupõe que que os partidos socialistas foram derrotados por serem socialistas demais.
O caso português indicia que foram derrotados, não por estarem demasiado à esquerda, mas por estarem demasiado à direita. E mesmo nos países em que a direita xenófoba teve avanços consideráveis, há que notar que esses avanços foram feitos à custa da esquerda capituladora e rendida ao neoliberalismo. a esquerda assumida e consequente, essa, manteve ou melhorou os seus resultados.
De modo que a hipótese de os partidos da esquerda moderada terem sido punidos pelas suas cedências ao neoliberalismo é pelo menos tão plausível como a explicação oposta que a direita nos quer vender.
No mundo dos negócios perdem aqueles que permitem que a sua marca se descaracterize. É possível que o mesmo aconteça na política.
Há maneiras de confirmar ou infirmar todas estas hipóteses, mas o meu receio é que a esquerda moderada, em vez de as estudar, continue a ir estupidamente atrás da sabedoria convencional que a direita fabricou.
Perante o sucedido, há quem diga que o PS deve estudar bem o que se passou.
Sócrates, no entanto, já disse que tenciona continuar - a fazer mais do mesmo, portanto.
Faz recordar uma velha piada, do tempo em que os ingleses mandavam no mundo:
«Quando um inglês não se faz entender, fala mais alto»
Socialismo de rosto humano e tal e etc... e o povo, pá? e o povo, pá? o povo quer dinheiro para comprar um carro novo!
Enviar um comentário
<< Home