8.6.09

Amigos, amigos... votos à parte!

O MUITO estimável (e por mim muito estimado) Prof. José Medeiros Ferreira (com quem eu contactava todos os dias nos bons-velhos-tempos em que o seu blogue aceitava comentários) saiu-se hoje com esta, onde sobressaem dois aspectos que não lembrariam ao Diabo (*):

Primeiro, começa por menosprezar os que votam em branco - quando o significado desse acto (que, além de mais, constitui um direito inalienável) é tão válido como o de votar num determinado partido.

Segundo..., bem, o sublinhado - meu - diz tudo: fiquei a saber que eu, ao votar em branco, fui considerado, para as estatísticas de JMF, como 'amigo do PS'!
.
(*) Estive para colocar aqui a expressão que normalmente usa o Professor Marcelo («Essa não lembrava ao careca!»), mas podia ser mal interpretado...

18 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Houve

164.870 (4,63%) de votos brancos
e
71.144 (2,0%) de votos nulos.

8 de junho de 2009 às 14:03  
Blogger Maria said...

Desculpe mas não estou de acordo.
O voto em branco é "lavar as mãos como Pilatos". Enquanto não se assumirem os direitos e deveres, que a conquista do voto nos deu, continuamos a ser fantoches nas mãos dos outros.
O voto em branco é devido, às campanhas de desmotivação, promovidas por alguns políticos, que em vez de esclarecerem o povo, se limitaram a dizer mal uns dos outros.
Ontem, num grupo de 16 adultos, só dois votaram num partido. Os outros 14, nem lá foram, porque "Não era nada com eles. Que lhes interessa quem vai para a Europa?" palavras, quase textuais.
É assim que queremos Liberdade? Enquanto os políticos se insultarem, em vez de esclarecerem, não me parece que se vá a lado nenhum.
Desculpe-me a sinceridade. Pouco ou nada percebo de política. Mas que não gosto do que vejo, não gosto.
Com os meus cumprimentos.

8 de junho de 2009 às 14:18  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Por definição, "lavar as mãos como Pilatos" é a abster-se - não ligar, não votar, ir para a praia, "que se lixe".
«Na dúvida, abstém-te», dizia Aristóteles.

Votar em branco, também por definição, é muito diferente; é dizer: interesso-me, mas nenhuma das opções me agrada.

Na comparação que atrás dei:

Abster-se é como não entrar num restaurante.

Diferentemente, votar em branco é como entrar, pedir a lista, e depois sair - mostrando claramente que nenhum dos pratos nos agrada.

--

Goste-se ou não, ambos são direitos dos cidadãos, tão válidos e inalienáveis como o de votar em A ou em B. E a prova é que estão previstos na lei eleitoral.

Mesmo nos países (como a Itália e a Bélgica) onde o voto é obrigatório, só é penalizado quem se abstém, não votando.

O eleitor que vota em branco, que eu saiba, é respeitado - era só o que faltava que o não fosse!

8 de junho de 2009 às 14:32  
Blogger Maria said...

Obrigada pelo esclarecimento.
Vencida, mas não convencida.
Quando se entra num restaurante, geralmente escolhe-se o que nos agrada. Por vezes mudamos o acompanhamento. No meu caso, tive que engolir a Lista toda, embora alguns, não me sejam simpáticos.
Sou velha, sabe? Ainda sou do tempo da Disciplina Partidária. Foi o que fiz.
Mais uma vez, obrigada por ter respondido e pelo esclarecimento.

8 de junho de 2009 às 14:58  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Eu também não sou muito novo (já lá vão os 60 há muito tempo), e obedeci durante muitos anos à "disciplina partidária".

Era nos tempos em que eu telefonava a perguntar quais eram "as directivas do Partido", para tudo e mais alguma coisa.

Era um descanso pagar as quotas e, em troca, ter alguém que pensasse por mim!
Claro que arranjei algumas inimizades quando resolvi passar a fazê-lo pela minha cabeça... mas paciência.

8 de junho de 2009 às 15:24  
Blogger R. da Cunha said...

Não sei muito bem qual a diferença entre voto em branco ou nulo, melhor dizendo, o que representa para cada um a utilização de um ou de outro. Mas são ambos aceitáveis, e a imagem que dá da lista do restaurante parece-me esclarecedora. A trabalheira que dá um cidadão deslocar-se à sua secção de voto e votar nulo ou branco tem um significado que não poder ser atirado para debaixo do tapete. Diferente é não comparecer, já que não se sabe exactamente o porquê.

8 de junho de 2009 às 18:59  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

R. da Cunha,

O voto válido só tem 2 formas:

Uma única cruzinha (num único quadradinho) ou totalmente em branco.

São nulos todos os outros, sendo mais frequentes os seguintes casos:

Voto rasurado: o eleitor enganou-se e, em vez de pedir outro boletim emenda.

Voto múltiplo (mais do que uma cruz).

Voto de super-protesto: o eleitor escreve "coisas" ou faz desenhos.

8 de junho de 2009 às 19:40  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Em 2005:

Brancos: 87.208
Nulos: 47.461

__

Em 2009:

Brancos: 164.870
Nulos: 71.144

8 de junho de 2009 às 19:50  
Blogger R. da Cunha said...

O que eu quis dizer é que não sei o que motiva o eleitor a votar em branco ou a inutilizar o voto. Ambos são de protesto e são "válidos", na medida em que o eleitor quer transmitir uma mensagem.
Quanto aos dizeres e bonecos que aparecem, conheci muitos exemplos, já que que presidi várias vezes a uma das mesas da minha secção de voto. A maioria é impublicável, como se calcula!

8 de junho de 2009 às 21:43  
Blogger Mg said...

Votei.
Não votei em branco, nem deixei um boletim nulo dentro da urna, mas sim um voto válido naquela que me parecia ser a melhor opção.
Muito se tem falado (e o Sorumbático não foge à regra), dos votos brancos e das abstenções.

Tenho, quanto a isto, uma opinião formada, não de ontem, nem de hoje: voto de protesto, ou de manifestação de desinteresse é a abstenção e não o voto em branco.

Pessoalmente, seria incapaz de votar em branco. E estou convicto que a abstenção tem mais força que o branco ou o nulo.

Ironicamente, parece dar-se mais importância aos 4,6% que votaram em branco (de entre os, apenas, 36,9% que votaram) do que aos 63,1% que, pura e simplesmente, não puseram os pés nas respectivas Assembleias de voto.

Se há alguma coisa a ter em conta, se há motivo para preocupação, esse motivo será a abstenção: um valor enorme, revelador do sentimento generalizado dos Portugueses perante a politica.

A abstenção é um sinal claro do descontentamento e da desilusão. São os eleitores que não se dão ao trabalho de sair de casa para ir votar. Os que preferem ficar a ver um filme repetido pela 100ª vez na televisão, ou ir para a praia apanhar duas horas de sol.

Os que se interessam, mas que, dada a situação, os candidatos, e as ideias e projectos (ou a falta delas), e depois de pensar por 2 ou 3 minutos, chegam à conclusão que não vale a pena.

Votar em branco? É uma opção. Como o são as outras.
Apenas não percebo o voto em branco. Não conta (nem contará, nunca), para a (não) distribuição de assentos nos Parlamentos, pelo que acaba por ser um voto quase que desperdiçado. Além do mais, para os analistas, “comentadeiros” (e para o cidadão comum, já agora), o voto em branco nem sempre terá de ter o mesmo significado. Hoje posso votar em branco por uma determinada razão; amanhã poderei faze-lo por outra.
São várias as perspectivas perante as quais se pode analisar um voto em branco.

Abstendo-me, isso não acontece: “Não merecem sequer que saia de casa”.

Os que saem, pelo menos, podiam votar. Com cruzinha e tudo! É que (caramba) sempre eram 13 quadradinhos ao nosso dispor, para apenas uma cruz.

Mesmo que os principais partidos não nos merecessem a confiança, de entre as (8, digo eu) alternativas, não haveria nenhuma que merecesse, pelo menos um bocado, um sinal de confiança para o futuro?

Por fim, e sob o ponto de vista de quem está em Lisboa: é maior motivo de preocupação o valor da abstenção do que a probabilidade de haver um aumento do voto em branco.

Assim sendo, voto! Com cruz. E apenas uma.
Quando, definitivamente, não valer a pena fazê-lo, ficarei em casa, calmo e sereno, de chinelos nos pés, à espera das 19 horas.

8 de junho de 2009 às 22:22  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

«...de entre as (8, digo eu) alternativas, não haveria nenhuma que merecesse, pelo menos um bocado, um sinal de confiança para o futuro?»

Neste caso (nestas eleições) absolutamente nenhuma.

Voltando à metáfora do restaurante:

Eu quero comer peixe grelhado, o dono só me a escolher dá pratos de carne, e eu digo-lhe:

«Não, obrigado»

E ele insiste:

«Que diabo! Dou-lhe 8 pratos de carne a escolher e você não quer nenhum? Nem sequer dá um sinal de confiança ao cozinheiro?»

--
Há aqui uma inversão:

Não sou eu que tenho de "dar sinais de confiança", nem ao cozinheiro nem ao dono. Eles é que têm de agradar aos clientes, até porque são eles que lhes pagam.

8 de junho de 2009 às 22:41  
Blogger Mg said...

Não concordo.
Se quer comer peixe grelhado e sabe à partida que no restaurante só servem carne, porque raio há-de lá entrar?!

8 de junho de 2009 às 22:48  
Blogger Mg said...

E, já agora, se eu sei que em determinado restaurante se serve mal e porcamente, que a comida não presta, que os pratos vêm sujos e que os funcionários são antipáticos, é mais um motivo para fugir dele como o Diabo foge da cruz!!

Ainda não me convenceram quanto a isto do voto em branco.

Repetindo-me: "Ironicamente, parece dar-se mais importância aos 4,6% que votaram em branco (de entre os, apenas, 36,9% que votaram) do que aos 63,1% que, pura e simplesmente, não puseram os pés nas respectivas Assembleias de voto."

8 de junho de 2009 às 22:52  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

RE a 22h48m:

«Se quer comer peixe grelhado e sabe à partida que no restaurante só servem carne, porque raio há-de lá entrar?!»

Não. O restaurante costuma ter de tudo. Nesse dia é que só tem carne.

-

Mas indo ao essencial:

Depois das vergonhas das leis do financiamento partidário e da não-eleição do Provedor de Justiça, aquela gente (com poucas excepções) não me merece um pingo de consideração, muito menos "sinais de confiança".

Podia, de facto, não ter lá posto os pés.
Mas isso é o que fazem "os que se estão nas tintas". Eu não estou.
Nas autárquicas e nas presidenciais tenho tido sempre candidaturas que me agradam, e voto nelas.

Nas legislativas, nem por isso. E nestas europeias... Chiça!

=============

RE a 22h52m:

«parece dar-se mais importância aos 4,6% que votaram em branco (de entre os, apenas, 36,9% que votaram) do que aos 63,1% que, pura e simplesmente, não puseram os pés nas respectivas Assembleias de voto.»

Pelo que eu vi, foi exactamente o contrário que se passou, e foi precisamente por isso que eu escrevi estes posts sobre o assunto.

Ontem à noite, NEM UMA ESTAÇÃO deu os valores dos votos em branco, enquanto toda a gente falou na abstenção - até nos discursos a referiram como "desculpa".

8 de junho de 2009 às 23:02  
Blogger Mg said...

Aqui (Sorumbático) é que se está a discutir a questão do voto em branco.

Regra geral, o motivo do falatório é, e será, a abstenção.

Votos em branco foram uns largos milhares.
Abstenções foram aos milhões.

E ontem sabia-se perfeitamente que o restaurante só servia carne: não havia peixe na lota!!!

E por hoje fico-me por aqui, com a certeza que daqui a sensivelmente 4 meses já teremos passado por mais.

Eleições distintas, que farão com que, provavelmente, o meu voto também seja distinto.

Importante mesmo é que cada um faça aquilo que, em consciência, ache que deva fazer.

Em casa, ou na urna.

8 de junho de 2009 às 23:20  
Blogger C. Alexandra said...

Este comentário foi removido pelo autor.

8 de junho de 2009 às 23:39  
Blogger C. Alexandra said...

Mg,

A abstenção não pode ser um voto de protesto porque é a ausência de voto. Se não há voto, não pdoe haver voto de protesto.

Nem se pode dizer realmente que a abstençao seja um protesto, porque o protesto implica um acto (declaração, demonstração). A abstenção é a privação ou desistência de um direito.

Se um sujeito desistiu ou se privou do direito ao voto, não fez uso das possibilidades de protesto no âmbito do direito.

Há quem diga que a abstenção é uma
manifestação de desinteresse. Pois é uma clara manifestação de desinteresse, não pelos partidos políticos, mas pelo exercício do direito, muitas vezes também pelas consequências do exercício dos poderes pelos eleitos.

Os votos brancos têm mais valor do que a abstenção pelo simples facto de se destacarem, sabe-se que o número de pessoas que votou em branco corresponde pessoas que acham que não vale a pena votar em A, B, C ou D.

Ao passo que quanto às abstenções, não se sabe ao certo o que significam. Há abstenções que se devem a falta de interesse pelo direito ao voto, outras demonstram falta de interesse pela realidade que rodeia as pessoas, outras demonstram que as pessoas preferiram ocupar o tempo com outras actividades, outras demonstram indisponibilidade por diversos motivos, etc.

Das pessoas que se abstiveram, não se sabe ao certo quantas o fizeram como uma espécie de protesto.

As pessoas que votaram em branco deram-se ao trabalho de procurar os número/cartão de eleitor, percorrer a distância entre o local onde se encotnravam e o de voto, entragar o cartão, aguardar, dobrar uma folha, colocá-la na urna, receber o cartão e "meter-se ao caminho" novamente. Tanto trabalho para exercer o direito sem colocar um cruz é motivo para reflexão. Significa que essas pessoas dão valor ao direito, mas não confiam o suficiente nos candidatos às eleições para lhe atribuirem o seu voto.

A mim não me preocupa a abstenção. Exemplo: das pessoas que conheço, as que não foram votar deram as mais variadas explicações, o motivo é o mesmo para todos, "não lhes apeteceu ir votar". Estavam descontentes? Não. Tinham coisas mais interessantes para fazer. Porque é que hei-de preocupar-me com pessoas que se divertiam em festas enquanto eu depositava o meu voto na caixinha preta? Deu-se o exemplo de um restaurante, muitas dessa pessoas lembram-me as imagens dos automóveis em cima de passeios, porque não apeteceu às pessoas ir à procura de estacionamento.

8 de junho de 2009 às 23:39  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Miguel Monteiro, o dono da «Chip 7» (com quem algumas vezes contactei), dizia que a melhor coisa que tinha nas suas lojas era o Livro de Reclamações.

Primeiro, porque lhe permitia saber o que é que estava mal.

Segundo, porque só reclama quem gosta da loja e quer voltar - de preferência uma vez resolvidos os problemas de que se queixa.

O cliente desagradado que, pura e simplesmente, não volta é que é de temer.
Além de se traduzir em vendas não-feitas, o facto de não protestar impede o dono de corrigir o que está mal (ou que, pelo menos, desagrada a essas pessoas).

9 de junho de 2009 às 16:46  

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