7.6.09

Critérios para logo à noite

Por António Barreto

HOJE, VOTA-SE. Logo à noite, conta-se. À hora de jantar, as televisões e as rádios competirão em previsões, novidades e comentários. Uns partidos tirarão ilações para as legislativas, outros negarão tal hipótese. Várias serão as interpretações. Os próprios conceitos de vitória e derrota serão controversos. A matemática eleitoral é uma das mais incertas disciplinas que se conheça. A aritmética recua diante das capacidades humanas de interpretação e análise.

A tradição era a de os partidos afirmarem, na televisão, que tinham ganho. Todos. Ganhavam sempre. Os seus representantes e os comentadores mais comprometidos encontravam sempre critérios que garantissem a vitória. O principal era evidentemente o da maioria: o partido que vinha à frente, que obtinha mais votos e mais eleitos, era o vencedor. Mas mesmo essa medida foi contestada. Do vencedor, facilmente se poderia dizer que ganhou, mas teve menos votos do que antes; ou que o segundo classificado ficou mais próximo; ou, finalmente, que não obteve a maioria absoluta. Muitos mais critérios eram utilizados, em especial os que faziam comparações que permitissem as acrobacias necessárias. Comparavam-se os resultados obtidos com as anteriores do mesmo género (europeias, por exemplo), se era conveniente. Ou com as últimas em data, mesmo de género diferente (legislativas, por exemplo), se era vantajoso. Os que não podiam usar esses critérios encontravam outros. Tinham aumentado o número de eleitos, mesmo se obtiveram menos votos. Ou tinham ganho em comparação com o partido mais próximo. Tinham obtido mais votos do que as sondagens previam. Ou, último e atrevido critério, tinham tido mais votos do que se esperava ou do que “diziam por aí”! (...)
Texto integral [aqui]

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2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O autor refere Guterres, mas podia igualmente referir Durão Barroso, pois este também tomou a liberdade de achar que, ao votarmos nas europeias, estávamos a votar a favor ou contra o seu governo.

Essa "tresleitura" é profundamente irritante, mas julgo que não há forma de nos vermos livres dela - pois, no fundo, trata-se do que argumentava uma saudosa tia minha aquando das eleições presidenciais de 1958:

Quando lhe diziam que Humberto Delgado não era de confiança (pois havia sido um colaboracionista do regime), ela respondia sempre:

«Não me importo com isso; e vou votar nele pela mesma razão de que, se precisar de atirar uma pedra a alguém, não vou fazer depender isso do facto de a pedra ser perfeitinha».

-
Dada a crispação que por aí se vê, julgo que a maioria das pessoas, hoje, votará "contra ou a favor de Sócrates"...

7 de junho de 2009 às 14:41  
Blogger Manuel Brás said...

As acrobacias matemáticas
da noite eleitoral,
são de locuções fleumáticas
carregadas de moral.

Mil e uma habilidades
em palavras truncadas,
serão tantas banalidades
entre opiniões trocadas.

Quem se perde em explicações
de toda a maneira e feitio,
é porque perdeu as eleições
maquilhando o seu fastio!

7 de junho de 2009 às 15:08  

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