17.7.09

A Ministra e os Professores

Por Maria Filomena Mónica

ALGUNS COMENTADORES que respeito têm defendido a avaliação proposta por Maria de Lurdes Rodrigues com base em que é preciso acabar com a bandalheira que se vive nas escolas, a qual teria contribuído para que o país apareça num lugar vergonhoso nas estatísticas internacionais. Para eles, alguém que diz, com ar firme, ser necessário avaliar os professores tem necessariamente razão. Mas avaliar professores é diferente de emitir juízos sobre empregados de empresa, funcionários públicos ou gestores de topo. Nestes casos, há objectivos definidos – vender cadeiras, carimbar papéis ou arrecadar lucros – o que não se passa no caso das escolas. Estas servem para transmitir conhecimentos e, numa perspectiva optimista, contribuir para a formação de homens e mulheres mais cultos, o que não é mensurável. A visão mecanicista da escola - como se de um conjunto de peças de Lego se tratasse – é errónea. (...)

Texto integral [aqui]

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7 Comments:

Blogger Manuel Brás said...

Mudanças evidentes
são indispensáveis,
os protestos foram candentes
e de razões responsáveis!

Uma avaliação falhada
defendida com teimosia,
uma ministra arrolhada
por tanta hipocrisia.

Insensível às preocupações
e às razões conscientes,
foram tantas as aberrações
em declarações despicientes.

Sem ter percebido
a sua inabilidade,
de insensatez embebido
analisando a realidade.

17 de julho de 2009 às 11:36  
Blogger A said...

Só quem não vive o quotidiano das escolas é que pode defender este modelo, mesmo simplificado, de avaliação dos professores. Se a min-edu fosse honesta, assumia o óbvio: esta avaliação apenas serviu para meter uns valentes "cobres" ao bolso do governo (os que iam mudar de escalão não mudaram)!
Afinal, o que acabou por ser feito foi bem pior do que o modelo anterior: quem faz parte dos amigos do avaliador chega ao "excelente"; quem não for amigo está tramado.

17 de julho de 2009 às 15:08  
Blogger Carlos Portugal said...

PARTE 1

Na sua essência é inevitável concordar com a opinião expressada, mas permita-me uma nota: parece-me singular (para não dizer outra coisa) que se considere que "avaliar professores é diferente de emitir juízos sobre funcionários públicos", os quais servem apenas para "carimbar papéis".

Ora bem, devemos entender que, para a autora, os professores não são funcionários públicos e que estes últimos não passam de meros componentes desprezíveis de uma gigantesca máquina carimbadora, sem qualquer préstimo, que os portugueses sustentam com os seus impostos.

Esse ponto de vista - apesar de absolutamente errado - coincide com a percepção que as pessoas têm do Estado, do funcionalismo e dos docentes públicos e, por isso, não me surpreendeu. O que me surpreendeu é que alguém tão notável como a autora embarcasse neste mesmo preconceito para fazer valer a sua justa indignação a propósito de um assunto distinto e que dispensaria este tipo de abordagem. Antes pelo contrário, o reconhecimento dos professores como funcionários públicos e a consideração de que a maioria dos funcionários públicos não são quadros administrativos só viria a reforçar a ideia meritória que defende.

Uma boa parte do problema é que os professores, em geral, pensam e gostam de pensar como a autora: existem, em Portugal, três sectores profissionais: o produtivo (as empresas), o burocrático (do Estado), e, finalmente, o dos Professores, que se situam numa plataforma distinta de todos os outros, como uma espécie de feiticeiros da tribo ou mesmo sacerdotes do faraónico Império Antigo.
Esta atitude preconceituosa, praticada pela generalidade dos professores está também na origem dos problemas crescentes de que essa carreira profissional vem sofrendo. Encerraram-se num castelo, consideram-se elite das elites, superlativaram o poder simbólico do Conhecimento e... inevitavelmente ficaram fora do mundo, desse mundo onde as pessoas vivem e onde se pratica o conhecimento que os professores tentam transmitir.
Entre os professores e resto do mundo, a comunicação ficou cortada porque deixou de existir feed-back da informação, ou seja, os emissores deixaram de se preocupar como é que os receptores entendiam a sua mensagem. Daí que a mensagem, mil vezes remastigada, se torna vazia de essência. Como bem sabemos, uma sociedade resulta, em grande parte, do que aconteceu nas carteiras da escola. Por isso, quando sentimos novas gerações com grave iliteracia, sustentando-se numa nova ética aberrante e sem o mínimo ensejo de tornar o mundo melhor para os próximos, devemos sempre questionar a escola, necessariamente os docentes.

(continua...)

17 de julho de 2009 às 16:42  
Blogger Carlos Portugal said...

PARTE 2 (continuação)

Quem passar umas horas em qualquer faculdade deste país e assistir às conversas e comportamentos dos jovens que por lá adquirem os seus cursos, só pode ficar em pânico ao pensar que um daqueles espécimes tem fortes probabilidade de vir a ser professor de um seu filho. Tendo um filho em idade escolar, tenho de contactar frequentemente com a escola e acompanhá-lo nos estudos. Confesso que fico literalmente aterrorizado com o que muitos professores dizem, com os (des)conhecimentos que possuem e com a incompetência pedagógica que manifestam. Até admito que alguns se esforcem, mas não é o esforço que conta aqui, mas sim os resultados. E o problema é que vejo este apocalipse docente a crescer em cada ano, à medida que se reformam os mais velhos e ingressam os mais novos. Por este andar, não tardará que ainda me vejam a fazer algo que nunca imaginei: entoar loas à escola do Estado Novo, que produziu provavelmente a última grande geração de docentes deste país, agora a caminho ou em gozo da aposentação.
Se conversar com um qualquer professor do ensino superior logo ele lhe dirá o nível primitivo de alfabetização dos caloiros, que se tem intensificado. Todavia, não tardará que chegue a vez desses mocitos serem docentes universitários, tornando a Academia num pasto de ignorância tão ou mais amplo ao que chegou o Básico e o Secundário.
Então se a maioria dos portugueses com uma mínima qualificação soubesse o que se ensina (e quem, e como se ensina) nas famigeradas Escolas Superiores de Educação – as academias do eduquês – teria tanta ou mais vontade de fugir deste país como eu tanto tenho (mas não consigo).

Mas voltando à questão da avaliação e dos funcionários públicos, creio que é precisamente por serem funcionários do serviço público que os professores não devem ser avaliados desta forma. A um servidor público exige-se, antes de mais, o cumprimento rigoroso do Código Ético da Administração Pública, o que – a verificar-se – é o suficiente para garantir que o funcionário cumpre sem mácula os deveres que, de livre vontade, assumiu aquando da sua nomeação. Bastaria confirmar esse facto para que os complexos processos de avaliação se demonstrassem desnecessários, partindo do princípio de que – conforme regista a mesma ética – o acesso aos lugares é sempre e só assente no mérito individual do candidato, expresso através de provas públicas.
É com a defesa de um Estado sério e competente, com uma administração isenta e qualificada que reside a melhoria da condição dos professores. Infelizmente, sempre que os sindicatos da função pública, desde que existem, saíram para a rua, fizeram greves e exararam protestos, nunca se viu um único professor solidário. Quando vejo os varredores, os asfaltadores, os jardineiros e todos os milhares de funcionários públicos que ganham menos de 500 euros e nem sequer têm “carreira” para ascender, em greves e em manifestações, perdendo um dia do seu curtíssimo ordenado e reivindicando melhorias para TODOS, recordo sempre que, de acordo com a proporcionalidade percentual, quem mais vai ganhar com os aumentos são precisamente os que já são mais bem pagos e que nunca aparecem nestas horas – entre eles os professores. Por isso as recentes (e primeiras) manifestações de professores apenas me recordaram essa triste condição em que eles se colocam, preferindo vir para a rua apenas quando os seus exclusivos direitos são ameaçados e jamais se deixando confundir com a ralé operária e suja, que é sempre a primeira a sair dos seus buracos ferrugentos para lutar em nome de todos.
(continua...)

17 de julho de 2009 às 16:44  
Blogger Carlos Portugal said...

PARTE 3 (continuação)

Deveremos esquecer-nos de que, durante décadas, a política da educação foi sempre delineada por professores e que o Ministério da Educação está pejado de professores a “carimbar papéis”? E que, com excepção da Defesa, nenhum serviço do Estado terá sido gerido com uma participação tão activa e interveniente dos seus quadros de base como o do Ministério dos Professores (vulgo Ministério da Educação)? Ou que não é verdade que a incompetência e o laxismo docente alastraram em larga escala pelas escolas, por culpa (e vergonha confessa) de muitos professores que construíram ou colaboraram para este modelo “educativo”?
Acredito que se os professores tivessem sido mais exigentes consigo mesmo, se fossem os mais sérios pedagogos e solidários na defesa de uma escola justa e de um Estado ao serviço dos cidadãos, nunca teriam chegado a este ponto. Deveriam ter sido capazes de fazer a sua auto-crítica a tempo e de manterem a sua casa (de todos) limpa e arrumada.
Parece-me que não basta preocuparmo-nos com uma eventual avaliação dos professores, porque este problema decorre de algo mais denso e profundo: a falência da república e a incapacidade evidente de, desta maneira, não ser possível “cumprir Portugal”. Saibamos nós construir de novo a nação e erguer um Estado competente, sério, justo e solidário, que estas questões jamais se colocarão. Saibamos escolher o SER antes do TER e muito antes do PARECER. Tenhamos consciência da herança quase milenar de Portugal e – antes de agir – lembremo-nos que devemos ser dignos dela e capazes de a merecer. Poucos povos tiveram o privilégio de possuir uma História tão rica de gente, de glórias, de hecatombes, de farsas e de tragédias – logo, um passado repleto de ensinamentos, que nos habilita a sermos únicos, melhores e – acima de tudo – saber respeitar e pugnar pela verdade, pela justiça e pela liberdade.

[Peço desculpa pela construção algo obtusa do meu escrito, mas não tenho tempo para revisões ou ponderações e a pequena caixa de comentários onde agora junto estas letras dificulta bastante a escrita e, sobretudo, a minha percepção do que escrevo]

FIM

17 de julho de 2009 às 16:44  
Blogger Daniela said...

A própria bandalheira que se passa nas escolas, ou melhor nos "jovens" educandos, é imagem do clima de bandalheira que se passa em ramos como a política ou a economia, ou mesmo a bandalheira que se dá entre os próprios valores sociais. Como se sabe desde já, ou não fosse necessário uma visão tão abrangente para encontrar " o milagre da fórmula mais correcta de educar", o clima extra escola detêm uma grande "influência" na formação destes futuros homens e mulheres (cultos? outro aspecto de grande sensiblidade para ser abordado). Cabe portanto aos professores fazer o papel de pedagogos, babysitters, corretores, progenitores, ainda temos de avaliar, o seu desempenho, diz-se desempenho, em que função portanto. Mais crucial avaliar, quiçá, para evitar os derrapes que fazem sofrer populações, e que diz portanto respeito a Todos, ou melhor, ajustar, tornar realmente mais democrática, as funções exercidas por aqueles que se encontram nos chamados graus de topo, aqueles que apenas passam directrizes. Ou melhor as estruturas profissionais que ainda mantêm a orientação do mestre e do aprendiz, em bom português, faz, cala, e reproduz, modelo já ultrapassado pelas próprias,Ciências da Educação. Para possíveis falhas que uma dada classe profissional, possa por vezes reflectir, o truque é o mesmo: formar.

17 de julho de 2009 às 19:08  
Blogger mike said...

Dois apontamento rápidos:
a) Os professores têm que ser avaliados. Pode-se discutir a métrica, mas é indiscutível que têm de ser avaliados. Toda a gente neste mundo é avaliada, os professores são alguma classe especial? Parece lógico a alguém que um professor possa chegar ao topo da carreira por causa da antiguidade e não do mérito?
b) E que tal implementar exames em todos os anos lectivos e avaliar os professores pelas diferenças entre as notas que dão e as notas que os alunos têm nos exames? E colocar os professores durante alguns anos na mesma turma, e pontuar a capacidade de o professor melhorar o desempenho da turma?

18 de julho de 2009 às 03:13  

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