Elogio ao grande jornalismo
Por Ferreira Fernandes
HÁ DIAS, CRITIQUEI critiquei uma reportagem do El País. Um jornalista entrara, sozinho, no Morro dos Macacos, favela violenta do Rio de Janeiro. Um polícia tentou dissuadi-lo, ele não ligou, foi morro dentro. Bandidos saíram-lhe ao encontro. Mal os viu (palavras do jornalista), pôs-se de joelhos e a tremer. Foi exclusivamente isso, o seu estado de alma aterrorizada, que narrou na reportagem, intitulada "Jornalista, não tremas que se quiséssemos matar-te já estavas morto". Não lhe critiquei o medo, mas a inépcia.
Ontem, o El País voltou a tratar das favelas, desta vez a sério, numa reportagem de bons repórteres. Bernardo Gutiérrez escreve sobre a violência do Rio ouvindo especialistas que sabem e anónimos que vivem o que se relata. Texto informado e culto, ilustrado (oh quanto!) com fotos do português João Pina, de 29 anos.
Pina esteve em reportagem nas favelas do Rio, em Setembro, para a revista americana New Yorker (trabalho que o El País comprou). Fotografou bandidos a posar com M16 a tiracolo e a jogar matraquilhos sem largar as automáticas FN. Uma convivência que pressupõe um trabalho longo de convencimento - nos antípodas do jornalismo para títulos sensacionais.
Ver, no mesmo palco, o grande jornalismo derrotar o medíocre foi um prazer.
«DN» de 26 de Outubro de 2009HÁ DIAS, CRITIQUEI critiquei uma reportagem do El País. Um jornalista entrara, sozinho, no Morro dos Macacos, favela violenta do Rio de Janeiro. Um polícia tentou dissuadi-lo, ele não ligou, foi morro dentro. Bandidos saíram-lhe ao encontro. Mal os viu (palavras do jornalista), pôs-se de joelhos e a tremer. Foi exclusivamente isso, o seu estado de alma aterrorizada, que narrou na reportagem, intitulada "Jornalista, não tremas que se quiséssemos matar-te já estavas morto". Não lhe critiquei o medo, mas a inépcia.
Ontem, o El País voltou a tratar das favelas, desta vez a sério, numa reportagem de bons repórteres. Bernardo Gutiérrez escreve sobre a violência do Rio ouvindo especialistas que sabem e anónimos que vivem o que se relata. Texto informado e culto, ilustrado (oh quanto!) com fotos do português João Pina, de 29 anos.
Pina esteve em reportagem nas favelas do Rio, em Setembro, para a revista americana New Yorker (trabalho que o El País comprou). Fotografou bandidos a posar com M16 a tiracolo e a jogar matraquilhos sem largar as automáticas FN. Uma convivência que pressupõe um trabalho longo de convencimento - nos antípodas do jornalismo para títulos sensacionais.
Ver, no mesmo palco, o grande jornalismo derrotar o medíocre foi um prazer.
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