14.10.09

Não gosto de referendos, mas…

Por Maria Filomena Mónica

AI ELE É ISSO, ai o Dr. Durão Barroso quer mandar-nos votar tantas vezes quantas forem precisas até dizermos «sim», então, tal como os irlandeses, também quero ter uma palavra a dizer (*). Em tempos, sr. Valéry Marie René Giscard d'Estaing elaborou uma Constituição. Perante a recusa da França e da Holanda, os líderes europeus – com excepção da Irlanda que tinha uma obrigação constitucional de fazer um referendo - inventaram um plano a la Baldrick (se nunca viram a série Black Adder a culpa é vossa, não tendo eu tempo nem espaço para explicar o que é).

A nomenklatura europeia cozinhou o pastelão de forma a poder dizer que, em vez de uma Constituição, tínhamos um tratado. Para orgulho do eng. Sócrates, calhou à presidência europeia discutir a aldrabice que passou à História com o nome de «tratado de Lisboa». Desconfiados dos povos, os governos prometeram logo que não iam referendar a coisa. Por pensar que a maior parte das questões políticas devem ser debatidas, se possível com empenho e paixão, no Parlamento, a coisa não me afectou. O voto da Irlanda fez-me mudar de campo. Se eles podem dizer «não», também quero. Não esqueçamos, aliás, o que o nosso Primeiro-ministro prometera.

Horas depois do resultado irlandês ser conhecido, um comissário europeu veio dizer a público que tudo resultara tão só de «um processo de decisão ineficiente», ou seja, que os irlandeses eram estúpidos. Pelo contrário, o que eles demonstraram foi que eram suficientemente lúcidos para perceber que estavam a ser aldrabados. Não se pense que a linguagem do tratado é esquisita por ter sido feito por juristas. Não, ela é esquisita porque os burocratas não querem que nós percebamos que o tratado representa uma transferência de poder para os comissários de Bruxelas. Tenho mil razões para desejar uma Europa Unida: simplesmente, a minha não é a deles.

(*) - CMR: Esta crónica é de Junho de 2008; anterior, portanto, ao 2.º referendo irlandês...

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3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Por cá, e a propósito da Regionalização, também vai fazendo o seu caminho a ideia de fazer tantos referendos quantos sejam necessários até se obter um "sim" que conduza a uma situação - por natureza irreversível.

Essa ideia tem uma variante ainda mais democrática:
Não fazer referendo nenhum, e aprová-la no Parlamento.

14 de outubro de 2009 às 10:19  
Blogger Unknown said...

Não foi já assim com o referendo do aborto?

19 de outubro de 2009 às 01:26  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pois foi...

Ainda se pode compreender que, com intervalos de MUITOS anos (devido a grandes mudanças sociais), haja repetições de referendos. Não tem sido o caso destes "europeus".

Para o caso do aborto, havia quem, como o PCP, não quisesse referendo nenhum - para "aproveitar a maioria favorável" que havia na AR.

19 de outubro de 2009 às 07:40  

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