18.10.09

O País de duas caras

Por António Barreto

EM 2009, TUDO PARECE correr mal. A crise económica e financeira é tremenda. A crise social cresce. A esperança e as expectativas estão no mais baixo. Emprego, consumo, bem-estar e projectos para o futuro: nada é seguro. Os pais receiam pelo futuro dos filhos. Os adultos fazem às contas antecipadas às reformas. Com três eleições seguidas, a situação não se apresenta favorável. Maldição? Pouca sorte? Quase apetece recorrer a causas irracionais! Ou será imperícia e auto-suficiência? Ou um pouco de tudo?

Em 2005, tudo parecia auspicioso. A deserção de Guterres, a fuga de Durão Barroso e o episódio Santana Lopes tinham deixado uma sensação desagradável, que se terá talvez traduzido numa votação excepcional no Partido Socialista e em José Sócrates. Uma maioria inédita foi a recompensa inesperada e ainda imerecida que o novo Primeiro-ministro recebeu de um eleitorado cuja principal vontade era a de castigar outros. Tudo lhe corria de feição. As estrelas brilhavam... (...)

Texto integral [aqui]

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2 Comments:

Blogger Manuel Brás said...

... ou a actualidade das farpas queirosianas:

A aurora auspiciosa
feita de tenacidade,
ganhou forma viciosa
contra a dura realidade.

São factos crepusculares
de repetidas facilidades,
legislaturas irregulares
repletas de duplicidades.

Os anos quase faustosos
passaram-nos à distância,
em discursos aparatosos
borrifados por jactância.

Dito de outra forma...

No meio da candura
existe artificialidade,
parece ser a moldura
desta triste realidade.

O Poder clientelar
é o ópio matricial,
neste lento esfarelar
de um regime demencial.

Tanta poeira é levantada
neste regime trapalhão,
esta política disparatada
trucida o pobre mexilhão!

Epílogo

As farpas certeiras
continuam presentes,
as razões embusteiras
são bem reluzentes.

18 de outubro de 2009 às 14:55  
Blogger rc said...

Em primeiro lugar, quero dar os parabéns ao AB por esta análise clarividente. Parece-me que soube olhar para o país com a devida distância.

Somos sem dúvida o país do quase, dos feitos que ficaram a meio, num ciclo que parece não ter fim. Este é o principal defeito que detectou e com o qual concordo.

Quanto à minha opinião sobre o assunto, devo dizer que neste momento, mais do que as questões económicas, que são um sintoma, acho que nos devemos preocupar com a doença que afecta a nossa república. Uma doença que podemos considerar natural nos primeiros 20 anos desta democracia, imberbe, mas que se torna incompreensível depois disso.
A doença está nas duas pernas que sustentam a democracia: a educação e a justiça.
A degradação da qualidade e da exigência do nosso ensino é de tal forma preocupante, que auguro uma cada vez maior incapacidade deste país se auto-governar com razão e sentido. O problema não está na excelência, que sempre tivemos e continuaremos a ter, ainda que em diminutas proporções, está no nível médio de saber e capacidade de raciocínio que é oferecido a cada português, pelo nosso sistema de ensino. Desce proporcionalmente à melhoria de estatísticas ridículas e designações de qualificações fabricadas à pressa, sem qualquer conteúdo.

Esta doença repercute-se em tudo o que o país é capaz de ser, na riqueza que produz, nos feitos que alcança, na civilidade do seu povo, na qualidade dos políticos que tem e sobretudo, na exigência daqueles que os elegem. Tudo nivelado cada vez mais em baixo, potenciando o valor do populismo, da imagem sobre o conteúdo, da aparência sobre o real.

A segunda doença, é a justiça. Lenta, com leis construídas para alimentar escritórios de advogados em vez de servirem as pessoas, cada vez mais cara e inacessível, esta perna trava o país em vez de o fazer andar. A impunidade, o sentimento de impotência estão de tal forma banalizados que convivemos com a doença sem darmos conta que ela está, todos os dias, a encurtar a nossa esperança de vida.

Estamos doentes nos dois suportes de uma democracia, que diz querer crescer, mas não dá conta do mal que a prende. Um mal que é tratável, mas que obriga a muito trabalho, exigência e empenho, que não será vencido com facilidades nem com medidas de encher o olho.

Eu acredito que somos capazes, mas não no rumo que o país está a levar…
Curiosamente, sobre nada disto se falou na última campanha eleitoral para a eleição do nosso Primeiro-Ministro.

19 de outubro de 2009 às 12:18  

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