14.12.09

9 em 10

Por João Paulo Guerra

Nove em cada dez portugueses consideram a corrupção um grande problema do país. Uma maioria tão expressiva como a das estrelas de cinema que preferiam o sabonete Lux.

O DÉCIMO PORTUGUÊS deve considerar a corrupção um grande problema para ele próprio, temendo mesmo ser apanhado a qualquer momento. Ou não, pois a leitura das sondagens é questão altamente subjectiva.

E a leitura do presente Eurobarómetro pode ser totalmente virada do avesso. Nove em cada dez portugueses consideram a corrupção um grande problema do país, porque há cada vez mais entraves burocráticos e repressivos a uma prática que constitui o motor da economia de países e até continentes. O décimo português, o que não considera a corrupção um grande problema do país, é o palerma que acredita na eficácia do Estado de Direito e no funcionamento das instituições.

Uma terceira leitura possível: nove em cada dez portugueses consideram a corrupção um grande problema do país, porque os jornais, rádios e televisões não falam de outra coisa. O que poderá ter um de dois efeitos: com tanto falatório o negócio perde a alma do segredo; ou tanto falatório assusta os mercados e também eventuais papalvos prontos a cair na esparrela. O décimo português não considera a corrupção um grande problema do país porque a sua política é o trabalho.

A sondagem do Eurobarómetro revela, por outro lado, uma grande dispersão de opiniões dos portugueses quanto aos principais agentes da corrupção: 64 por cento apontam para os políticos ao nível nacional; 58 por cento para os de nível local; 57 por cento para os de nível regional. O facto de todas as respostas apontarem para políticos como os agentes principais da corrupção só pode ser lida como uma questão de má vontade.

«DE» de 14 Dez 09

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1 Comments:

Blogger Ribas said...

Em tempos houve um programa, em que uma das ajudas do concorrente era a possibilidade de consultar a opinião do público. Alguns guardavam-na para os níveis mais elevados do concurso, onde as perguntas eram mais difíceis, outros menosprezavam esta ajuda, e por vezes respondiam contrário à opinião do público. Os primeiros, que confiavam na sabedoria do público, ganhavam sempre.
Mas neste caso, se formos somar um em cada dez dos nossos cerca de dez milhões de portugueses, talvez não fosse de ignorar que, um bom n.º de portugueses, ache que, para além da corrupção, muito em voga, o descontrolo das contas públicas, o desemprego, o crescimento do fosso entre ricos e pobres, seja um problema ainda maior.

14 de dezembro de 2009 às 16:21  

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