Querelas
Por João Paulo Guerra
Quem tenha acompanhado as “querelas” políticas dos últimos meses, nomeadamente as “querelas” entre Belém e São Bento, deve ter notado que a matéria da querela é de somenos importância se comparada com as grandes questões do país.
OS PROTAGONISTAS das "querelas" estão rigorosamente de acordo quanto ao essencial da governação, embora discordem por vezes nas vias, métodos, calendário e agentes dos actos governativos. Quer isto dizer que as "querelas" são "artificiais". O que daria razão a Cavaco Silva, não fosse dar-se o caso do chefe de Estado ser, a par do primeiro-ministro, um dos protagonistas das "querelas".
E é assim que o país, atravessando da primeira para a segunda década do século num arriscado número de equilibrismo, se distrai com o carácter artificial de sucessivas "querelas" do poder. "Deixem de lado as querelas artificiais", apelou o chefe de Estado na sua dramática mensagem de Ano Novo. Mas quem emenda a mão da anterior querela? E quem evita a próxima?
Quando Cavaco Silva foi eleito, cerca de um ano depois de José Sócrates, diversos politólogos vaticinaram que os chefes de Estado e de Governo estavam condenados a entender-se, numa denominada "cooperação estratégica". Mas isso durou apenas até ao primeiro acidente do percurso. E as "querelas", de tão assíduas, transformaram-se numa espécie de quezília. Por muito que custe a constatar tal facto, é evidente que ambos os lados descortinaram "querelas" para alimentar a quezília. Chegou-se mesmo ao nível do romance de espionagem da mais tacanha extracção literária.
De maneira que, chegando à quadra do ano em que se fazem votos de mudança, o Ano Novo poderá acenar com menos "querelas artificiais". Mas o calendário da quezília promete agudizar-se à medida que o ano avança.
«DE» de 4 Jan 10E é assim que o país, atravessando da primeira para a segunda década do século num arriscado número de equilibrismo, se distrai com o carácter artificial de sucessivas "querelas" do poder. "Deixem de lado as querelas artificiais", apelou o chefe de Estado na sua dramática mensagem de Ano Novo. Mas quem emenda a mão da anterior querela? E quem evita a próxima?
Quando Cavaco Silva foi eleito, cerca de um ano depois de José Sócrates, diversos politólogos vaticinaram que os chefes de Estado e de Governo estavam condenados a entender-se, numa denominada "cooperação estratégica". Mas isso durou apenas até ao primeiro acidente do percurso. E as "querelas", de tão assíduas, transformaram-se numa espécie de quezília. Por muito que custe a constatar tal facto, é evidente que ambos os lados descortinaram "querelas" para alimentar a quezília. Chegou-se mesmo ao nível do romance de espionagem da mais tacanha extracção literária.
De maneira que, chegando à quadra do ano em que se fazem votos de mudança, o Ano Novo poderá acenar com menos "querelas artificiais". Mas o calendário da quezília promete agudizar-se à medida que o ano avança.
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