A Lei da Escola Segundo o Eduquês
Por Guilherme Valente
1. Contra o silêncio e a indiferença, é preciso dizer que as duas mortes agora acontecidas são extremos dramáticos, picos na violência que cresce em muitas das escolas públicas. Mas nem estes casos extremos obrigaram o eduquês a mudar o discurso:
No caso do docente de Sintra, a DREL terá colocado psicólogos na turma em causa «com medo de que haja um sentimento de culpa». E não deveria haver? Não é esse o único sentimento aceitável, o mínimo que na circunstância se deve esperar? Não deve esse sentimento ser mesmo suscitado em todos aqueles jovens e nos responsáveis da escola e do ministério? Ou a escola deixou de ser, de repente, a tão badalada «comunidade educativa»? (...)
Texto integral [aqui]
1. Contra o silêncio e a indiferença, é preciso dizer que as duas mortes agora acontecidas são extremos dramáticos, picos na violência que cresce em muitas das escolas públicas. Mas nem estes casos extremos obrigaram o eduquês a mudar o discurso:
No caso do docente de Sintra, a DREL terá colocado psicólogos na turma em causa «com medo de que haja um sentimento de culpa». E não deveria haver? Não é esse o único sentimento aceitável, o mínimo que na circunstância se deve esperar? Não deve esse sentimento ser mesmo suscitado em todos aqueles jovens e nos responsáveis da escola e do ministério? Ou a escola deixou de ser, de repente, a tão badalada «comunidade educativa»? (...)
Texto integral [aqui]
Etiquetas: autor convidado, GV
13 Comments:
acho um piadão do caraças à opinião generalizada de que cresce nas escolas a violência.
mas que violência?
a que é ensinada na escola?
a que é transportada do seio familiar, ou do ambiente social?
a que é apreendida através dos jogos de computador, dos filmes de desenhos animados e outros?
ou… a violência que paira no ar, que se respira, que se absorve através da imagem e do som, nos noticiários, ou que é inadvertidamente comentada à mesa do jantar?
não estará a criança dos nossos dias, rodeada de violência por todos os lados, através da imagem, do som e, muitas vezes na vida real, no ambiente familiar?
amarão tanto os pais de hoje os seus filhos, que por eles, pela sua educação, pelo seu bem-estar e pela sua relação harmoniosa com a sociedade, sejam capazes de os pegar pela mão e os levar por um areal fora, simplesmente ouvindo o som do rebentar das ondas? ou, por um bosque adiante, escutando o passar do vento nas ramagens? Ou, observando o voo de uma ave?
amará tanto o seu filho, um pai de hoje, que se disponha a subir com ele uma montanha e, chegados ao cume, lhe mostre o mundo e lhe fale do universo e do lugar que ambos, nele ocupam?
Sempre tentei olhar em frente, guardando os erros do passado, aprendendo com eles... porque por amor também se erra. Hoje, olho em frente e nada vejo. Sobram as dúvidas, minam-se as esperanças. Pergunto-me muitas vezes o que será do meu filho, da sua geração. Se os meus sobrinhos, pouco mais velhos do que ele, andam de recibo verde em recibo verde, com promessas incumpridas e sonhos adiados... sem, como diz o Bartolomeu, saberem qual o seu lugar neste universo... perdidos, completamente à deriva...
Bullying entre os pares, mobying na inter-relação com os superiores, esta a sociedade que se constrói, se permite, se perfilha, esmagando o que de melhor pode ter o ser humano. O que sobrará?
Olho o meu filho e em silêncio peço-lhe perdão pelo mundo que herdará. Acreditem.
O eduquês já começa a cheirar mal.
Já estamos a pagar a sua indulgência.
Tudo é desculpável e preferível à autoridade e às regras.
O eduquês é o abrigo dos intelectuais medrosos de discurso labrego.
Sempre ouvi dizer que de pequenino se torce o pepino, mas agora são os pequeninos que torcem o pepino aos graúdos, impotentes perante as teorias instaladas pelos eduqueses, esses sim os verdadeiros responsáveis desde autêntico Estado De Sitio.
Apraz-me dizer:
Obrigado ao Guilherme Valente;
Obrigado a quem lhe publica as opiniões que emite sobre o ensino;
Obrigado pelo comentário de Ribas.
Quanto mais nos agacharmos à barbárie do eduquês (que fazemos de conta que não existe) maior a destruição que causará. E mais vale opormo-nos a isso que pedir perdão aos filhos pelo mundo que herdarão. Porque pedir desculpa nada alterará. Falhámos? Sim, falhámos, mas ainda estamos a tempo de fazer alguma coisa. Fazermo-la nós mesmos e exigir que a escola a faça também. E então não precisaremos pedir desculpa de nada a ninguém...
Tem que se começar por algum lado para se diminuir os casos de violência. Evidentemente, todos os intervenientes têm que fazer a sua parte. A situação não se vai alterar do dia para a noite. Como todos sabemos não é só em Portugal que existe problemas comportamentais nas escolas, o bullying e outro tipo de violência.. Há menos de um mês li que uma jovem de 15 anos (creio eu), nos EUA, se suicidou porque foi alvo, durante bastante tempo, de práticas de intimidação. Nenhuma sociedade é perfeita; a diferença é a rapidez e a forma eficaz como as autoridades e os ministérios da educação de alguns países actuam. Há Códigos de Conduta bem elaborados e cujo cumprimento é obrigatório, tanto por parte dos alunos, como dos docentes, administradores, pessoal de apoio, e pais (enquanto em propriedade escolar). Na altura, quando essas tragédias ocorreram (Prof de Sintra e aluno de Mirandela) li vários comentários em blogues segundo os quais a expulsão não era solução porque isso é que os alunos queriam! Claro que não. Os alunos que são expulsos não ficam “na rua”! São reencaminhados para determinado tipo de escolas, onde existem programas especiais administrados por professores especializados em vários tipos de problemas: comportamento, violência, e outros.
Os actos violentos não irão acabar mas de certo diminuirão e de certeza no ambiente escolar se todos estiverem a remar na mesma direcção!
No seguimento dos comentários aqui feitos (e que lhe reencaminhei), o autor do texto enviou-me o seguinte:
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Durante muito tempo pensámos assim e as nossas críticas foram dirigidas nesse sentido. Mas incorríamos num grande equívoco. O que tem sido realizado (é certo que veio do estrangeiro, mas, como o Amigo bem diz, lá fora há forças que se lhe opõem) é um projecto de outra natureza, para além de divergências educativas, políticas ou partidárias, dirigido ao que é mais humano no homem, a inteligência, a responsabilidade, o conhecimento, uma reacção aos grandes valores que estão na génese da civilização. Uma reacção bestial à modernidade, como o foram (noutro contexto que lhes permitiu terem chegado tão longe quanto chegaram), o nazismo, o estalinismo ou o projecto genocida de Pol Pot.
Não tenho dúvidas, foi, aliás anunciado:
«Os modelos escolares dominantes de «cultura», de «saber», de «sucesso», de «bom aluno», o modelo dominante de escola, afinal, criam dificuldades e constituem obstáculo ao sucesso dos alunos que pertencem a meios de cultura não letrada.»
O que aconteceu é «isto» que era tão impensável, tão impensável num tempo de tanta esperança e expectativa relativamente à escola de que Portugal carecia e com que tantos sonhámos, que ninguém acreditou. E alguém acreditou no que o nazismo poderia vir a ser e fazer? Lembram-se daquela cena do filme Cabaret em que dois ou três nazis espancam um judeu?
Será que ainda haverá gente e espíritos livres para se oporem a «isto»? A «isto» que está a conduzir o Pais ao que se vê, à dissolução?
O texto anterior (de G. Valente) veio no seguimento do comentário de Catarina).
No seguimento do de José Batista, veio o seguinte:
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«Obrigado, meu Amigo, pelo encorajamento que significa para mim saber que partilhamos o mesmo ponto de vista».
O texto das 10h17m é substituído pelo seguinte:
____________
Durante muito tempo pensámos assim e as nossas críticas foram dirigidas nesse sentido. Mas incorríamos num grande equívoco. O que tem sido realizado (é certo que veio do estrangeiro, mas, como o Amigo bem diz, lá fora há forças que se lhe opõem e aqui encontrou os condimentos do pior da mais velha cultura portuguesa) é um projecto de outra natureza, para além de divergências educativas, políticas ou partidárias, dirigido ao que é mais humano no homem, a inteligência, a responsabilidade, o conhecimento, uma reacção aos grandes valores que estão na génese da civilização. Uma reacção bestial à modernidade, como o foram (noutro contexto, que lhes permitiu terem chegado tão longe quanto chegaram), o nazismo, o estalinismo ou o projecto genocida de Pol Pot.
Não tenho dúvidas, e foi, aliás, claramente anunciado:
«Os modelos escolares dominantes de «cultura», de «saber», de «sucesso», de «bom aluno», o modelo dominante de escola, afinal, criam dificuldades e constituem obstáculo ao sucesso dos alunos que pertencem a meios de cultura não letrada.»
O que aconteceu é que «isto» era tão impensável, tão impensável, no mundo de hoje e no Portugal da União Europeia, num tempo de tanta esperança e expectativa relativamente à escola de que Portugal carecia e com que tantos sonhámos, que ninguém acreditou. Mas alguém acreditou no que o nazismo poderia vir a ser e fazer? Lembram-se daquela cena do filme Cabaret em que dois ou três nazis espancam um judeu?
Será que ainda haverá gente e espíritos livres para se oporem a «isto»? A «isto» que está a conduzir o Pais ao que se vê, à dissolução?
Mesmo que seja vencida lá fora, o que restará deste pequeno e tão centralizado Pais quando a besta passar?
Caro José Batista, compreendo o seu, como direi, descontentamento pelo meu pedido de perdão. Compreendo que não o compreenda, tal como compreendo que muitos outros não o compreenderão. Enfim, são vivências.
A minha, e passo a explicar, é de valores; dignidade, brio pelo que se faz, respeito pelos outros e por nós mesmos, honra e palavra, honestidade. Esta é a herança que dos meus pais recebi e esta a herança que deixo ao meu filho. Eduquei-o nos mesmos princípios e ele é bem o espelho dos mesmos. Professores e auxiliares de todas as escolas por onde passou, vizinhos e amigos, louvam e louvaram o seu comportamento, a sua postura. Como seria diferente - dizem - se houvessem mais como ele!
O que recebe ele em troca? Bullying! Bullying ao ponto de, quando mais novo, ter febres altíssimas horas antes da entrada na escola. Crises de ostracismo que duravam horas. Hoje, é um miúdo calado, com um único amigo - educado e calmo como ele - e mantém o seu mundo à parte de todos os outros que não pertencem à sua esfera privada.
Que adulto sairá daqui? Se, adolescente que é, já percebeu que é diferente da maioria, como se sentirá quando, no mercado de trabalho, for olhado como otário - tal como eu já fui - apenas porque não se corrompe, porque é honesto?
Eu fiz por ele o que fizeram por mim e, garanto-lhe, no mundo em que vivemos, sinto mesmo que tenho de lhe pedir perdão porque não o preparei para ele. Por mais que eu lute, por mais que participe na escola e faça por fazer prevalecer o que é correcto, não posso mudar o mundo. Nem eu, nem os muito poucos que o tentamos. É estúpido, é ingénuo pensar que sim. Posto isto, tenho mesmo que pedir perdão porque fiz o contrário do que todos os outros fazem: não lhe ensinei - como já ouvi outros pais - a pisar quem quer que se lhe atravesse à frente.
Ainda assim, não espero que compreenda agora, que me expliquei.
Peço desculpa por me ter alongado tanto, mas não aceito juízos de intenção.
pois, minha Amiga Graça, educar um filho, prepará-lo para enfrentar e lidar com as mais diversas vicissitudes de que a sociedade é constituída, é uma das "tarefas" que nos obriga ser deuses.
por volta dos vinte anos, decidi que iría ser vagabundo...
peguei em meia-dúzia de notas guardadas, oferecidas nos aniversários e fui...
fui sem destino. corri Seca e Meca e seus arredores, dormi debaixo de barcos, na praia, roubei roupa do arame, apanhei fruta e por fim, dei aulas de vela no clube naval de Sesimbra. foi aí que os meus pais me foram encontrar, porque alguem conhecido me viu e imediatamente lhes telefonou.
quando aqueles dois maravilhosos seres me encontraram, as suas vozes embargadas só conseguiram perguntar-me: em que foi que nós errámos?
e eu só lhes consegui responder: em nada!
-então porque foi que saíste de casa sem dizer nada, por onde tens andado, o que tens feito?
-porque achei que precisava de conhecer o mundo!
quando fui pai, angustiou-me tremendamente a ideia que os meus filhos pudessem um dia decidir que "queriam conhecer o mundo" e esquecerem-se de me... comunicar.
não fui melhor pai que os meus, talvez tenha conversado de outros assuntos com os meus filhos, mas, tal como a Graça refere; o património que lhes "passei" (quer genético, quer cultural)foi o mesmo que recebi. é claro que lhe adicionei um condimentozinho... as impressões acerca do mundo que descobri...
GMaciel:
Ao contrário do que supõe, aprecio geralmente os seus comentários.
E aprecio o modo como educou o seu filho.
Também eduquei assim os meus. E é disso que me orgulho.
E atrevo-me a supor que o seu filho não sofreu o que sofreu por a GMaciel o ter educado assim. Ele sofreu o que sofreu porque os pais de muitos filhos os não educaram desse modo. E porque a escola não está a cumprir a sua função. Nem nós a estamos a obrigar a cumpri-la.
E sofro com o seu sofrimento. E sofro com o sofrimento do seu filho. Como sofro com o sofrimento dos meus filhos e sofro com o sofrimento de tantos filhos, de tanta gente. Sabe porquê? - Porque além de ser pai sou professor, vai para duas décadas e meia...
Não leve pois a mal que lhe agradeça a boa educação que deu ao seu filho, como agradeço a boa educação que muitos pais deram aos seus filhos. É esse o caminho. Sempre. Mesmo que às vezes nos interroguemos como GMaciel o faz...
E gostava de lhe deixar um abraço, se não lhe repugnar aceitá-lo.
Sou: José Batista da Ascenção
Amigo Bartolomeu, ser pai é ser-se responsável pelo ser a quem demos vida e ser-se responsável é educá-lo o melhor que soubermos e pudermos. Que ninguém se convença que não errará, porque todos erramos, nem que seja por amor como já o afirmei.
Mas uma coisa é a educação que damos aos nossos filhos, outra muito diferente é o que essa educação fará por eles na sociedade em que se inserem. Não somos ilhas, no conceito de sociedade, sê-lo-emos no umbiguismo que nos cerceia a visão, mas esta sociedade está podre e eu começo a cansar-me de conversas da treta, sabe meu amigo? Dizer que temos de fazer mas depois não fazer um chavo, porque a mudança deve começar em cada um, é uma treta da qual estou saturada.
Estarei a ser, muito provavelmente, injusta, mas também não pretendo atingir quem quer que seja em especial, é o meu desabafo, o desabafo de quem vê muita conversa e nenhuma obra.
Há anos que escuto e discuto as mudanças prementes na Educação. Há anos que se aponta o que está errado, o que deve ser mudado, o que há a ser feito, mas... na prática? Fazem-se greves por salários, direitos, avaliações. Para quando uma greve pela implementação de uma Educação séria? Para quando uma greve às urnas, sancionando quem tem o poder e conjura pela mediocridade?
Se é para ficar pelas palavras, meu amigo, estamos tramados e mal pagos!
Caro José Batista, em nada me repugna o seu abraço ou as suas palavras, muito pelo contrário. Apenas fiquei magoada, talvez porque o assunto "meu filho" me toque de uma forma muito especial, por tudo o que sofreu e ainda sofre, por tudo o que quereria fazer por ele mas não posso, não só porque não estará nas minhas mãos, mas também porque não devo colocá-lo numa redoma, ele tem de construir as suas defesas.
Diz ser professor e, pelo que diz e eu entendo, é-o por vocação. Conheço a vossa realidade, acompanho-a de perto, sei que há os que lutam pela mudança e os que se afeiçoaram ao sistema. Há de tudo, como em todas as profissões. Sei como estão mergulhados em burocracia, sei como as instituições que deveriam trabalhar em prole da escola, trabalham contra ela, conheço os esquemas por detrás de cada "novidade"... porque simplesmente conheço quem trabalhe nelas e se sinta prostituído. É verdade, essa é a palavra.
Sabendo que é professor e pensando como pensa, restituiu-me alguma paz. Afinal não são meras palavras, quer mesmo mudar, não é? Como mãe, estive, estou e estarei ao lado dos docentes - mesmo os que não merecem. Lutemos juntos, lado a lado, porque cada um por si não levará a lado algum.
Um abraço sincero
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