Desenganadinhos
Por Joaquim Letria
ANDÁMOS ANOS a fingir que não sabíamos de nada. Quando não podíamos desmentir ou pretender que não era bem assim, fazíamo-nos fortes, dizíamos que já na Monarquia assim ocorrera, que na I República era melhor nem falar, que o Soares já dizia o mesmo, e que o Ernâni Lopes salvara a Pátria.
Medina Carreira e Ferreira Leite eram “A bruxa” e o “Velho do Restelo” e fingíamos confiar que Sócrates estava lá como os guarda-redes, para, em última instância, defender para canto e com grande aparato.
Abanávamos as caudas de satisfação ao escutarmos as vozes dos donos a dizerem que “é verdade que o desemprego subiu, mas comparado com o período homólogo do ano passado, subiu muito menos”, enchíamo-nos de orgulho ao ouvir que “Portugal não é a Grécia”, acrescentávamos logo que “isto não é terceiro mundo, Lisboa não é Mumbai”, batíamos palmas quando nos diziam que “os nossos males não só não cresciam, como até estavam a diminuir”.
Estávamos por tudo e adorávamos que nos mentissem, mesmo com aldrabices tão mal esgalhadas e com diversos figurões a inventarem coisas diferentes para nos dizerem o mesmo.
Éramos como os doentes terminais, desejosos de sermos enganados pelos médicos. Agora fomos à consulta da alemã e ficámos desenganadinhos. Sem apelo nem agravo.
ANDÁMOS ANOS a fingir que não sabíamos de nada. Quando não podíamos desmentir ou pretender que não era bem assim, fazíamo-nos fortes, dizíamos que já na Monarquia assim ocorrera, que na I República era melhor nem falar, que o Soares já dizia o mesmo, e que o Ernâni Lopes salvara a Pátria.
Medina Carreira e Ferreira Leite eram “A bruxa” e o “Velho do Restelo” e fingíamos confiar que Sócrates estava lá como os guarda-redes, para, em última instância, defender para canto e com grande aparato.
Abanávamos as caudas de satisfação ao escutarmos as vozes dos donos a dizerem que “é verdade que o desemprego subiu, mas comparado com o período homólogo do ano passado, subiu muito menos”, enchíamo-nos de orgulho ao ouvir que “Portugal não é a Grécia”, acrescentávamos logo que “isto não é terceiro mundo, Lisboa não é Mumbai”, batíamos palmas quando nos diziam que “os nossos males não só não cresciam, como até estavam a diminuir”.
Estávamos por tudo e adorávamos que nos mentissem, mesmo com aldrabices tão mal esgalhadas e com diversos figurões a inventarem coisas diferentes para nos dizerem o mesmo.
Éramos como os doentes terminais, desejosos de sermos enganados pelos médicos. Agora fomos à consulta da alemã e ficámos desenganadinhos. Sem apelo nem agravo.
«24 horas» de 27 Mai 10
Etiquetas: JL
5 Comments:
Desenganadinhos? queria eu! E o JL, acredito.
Mas a ideia que tenho é que depois da consulta alemã, o Governo resolveu pedir uma segunda opinião. Pode ser que o Chavez ajude...
Repare-se no 'post' da lagosta, acabado de afixar:
Pelo menos no que toca ao assunto em causa, nem os mais fanáticos apoiantes do Governo (e conheço muitos) acreditam no que ele diz...
O problema agora é que a Merkel, essa malandra,calçou um par de sapatos ao Sócrates dois números abaixo. Ora, com os calos a gritarem por tudo quanto era sapato, este lembrou-se de pedir ao primeiro-ministro suplente que o ajudasse a pôr a pomada para os ditos. Daí ao tango a que assistimos foi uma penada.
:(
Pois, Graça Maciel. Só que com um elemento do par (primeiro ministro) irremediavelmente aflito dos calos e o outro (o líder da oposição) um confesso mau dançarino, a dança vai ser linda, vai.
E quem rodopia somos nós.
Daí as tonturas?
Meu caro Joaquim Letria, não poderia estar mais perto da verdade. O povo anda apático, quase dormente, enquanto isso, eles vão pregando-nos umas atrás das outras. Leia por favor este artigo que aqui lhe envio:http://www.sexonaparvalheira.com/2010/05/o-triunfo-do-cagufe.html e depois diga-me se, apesar da raiva furibunda, não tenho também razão no que lá digo?
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