14.5.10

Morreu o Zé Luís

Por Antunes Ferreira

SÓ QUANDO ALGUÉM MORRE, os que ficam apressam-se a afirmar que fulano era um homem de bem, amigo do seu amigo, muitíssimo competente, íntegro, vertical, coerente, honesto e coisas assim. Os que recebem tais encómios em vida têm o legítimo direito de duvidar, «não mereço, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, penso que não serei assim. Mas, de qualquer forma, agradeço». E de pensar que quando a esmola é grande – o pobre desconfia.

O Zé Luís era quase três anos mais novo do que eu. Foi na Faculdade de Direito que nos conhecemos. Fizemos umas quantas loucuras e outras tantas malandrices juntos, ainda que o pudesse considerar um puto. E era. E foi o que ele soube ser ao longo da vida, um puto porreiro e irreverente. Foram uns anos bons aqueles em que convivemos e em que acreditámos que o futuro seria muito diferente, para melhor. Enfrentámos a PIDE, ele muito mais do que eu. Sofremos as consequências. Ele muito mais do que eu. Anos de prisão contra três interrogatórios e uma detenção de dois dias. Em língua de râguebi, 86-3. (...)

Texto integral [aqui]

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1 Comments:

Blogger 500 said...

O chumbo para a agregação foi uma pulhice. Nunca lhe perdoaram o passado.

14 de maio de 2010 às 23:52  

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