Escolhas
Por João Paulo Guerra
FALTA DIMENSÃO ética nas escolhas políticas, sentenciou D. José Policarpo. E a sentença é tanto mais incómoda quanto o Patriarca de Lisboa é uma pessoa serena e cordata, dialogante e de grande elevação intelectual, e não propriamente um fundamentalista que ande a pregar dos púlpitos a cruzada contra os infiéis e os hereges.
E o que mais poderá incomodar a classe política na avaliação do Cardeal é que ele tem toda a razão. As escolhas políticas perderam toda a dimensão ética porque os políticos em geral perderam todo o respeito pela palavra dada.
D. José tem um caso concreto que eventualmente inspirará a sua apreciação mas teve o cuidado de não o referir para que não se diga que anda a promover uma qualquer candidatura política da Igreja. (...)
Texto integral [aqui]
FALTA DIMENSÃO ética nas escolhas políticas, sentenciou D. José Policarpo. E a sentença é tanto mais incómoda quanto o Patriarca de Lisboa é uma pessoa serena e cordata, dialogante e de grande elevação intelectual, e não propriamente um fundamentalista que ande a pregar dos púlpitos a cruzada contra os infiéis e os hereges.
E o que mais poderá incomodar a classe política na avaliação do Cardeal é que ele tem toda a razão. As escolhas políticas perderam toda a dimensão ética porque os políticos em geral perderam todo o respeito pela palavra dada.
D. José tem um caso concreto que eventualmente inspirará a sua apreciação mas teve o cuidado de não o referir para que não se diga que anda a promover uma qualquer candidatura política da Igreja. (...)
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Etiquetas: autor convidado, JPG
2 Comments:
Ferreira Fernandes, um outro 'autor convidado' deste blogue, aborda hoje, no «DN», o mesmo tema.
Fá-lo assim:
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A contagem de crucifixos
Os partidos adoptaram, sabe-se, a expressão "contar as espingardas". Acontece quando se quer adivinhar, antes de ir a votos, quantos são arrastados por um líder ou uma facção. Geralmente sucede no ambiente quente dos congressos e a prática tem mais de póquer (bluff) do que de real contagem de forças. Também o país católico está, como já repararam, em pleno processo de "contar os crucifixos". Ao cardeal-patriarca deu-lhe para mensagens subliminares, a Santana Lopes deu-lhe para se chegar à frente, a Bagão Félix deram- -no como candidato e cem senhoras deram pela necessidade de alguém que "represente um povo maioritariamente católico". O moinho que move todas estas dádivas parece ser a promulgação por Cavaco Silva dos casamentos gay. Mas como acontece amiúde nas causas incertas este moinho é de vento. Ninguém quer abater Cavaco, com excepção da esquerda que esfrega naturalmente (e ilusoriamente) as mãos com esta imprevista divisão da direita. O que querem os promotores desta agitação é fazer prova de vida. Estes católicos não estão a pedir que se conte com eles, estão a dizer: "Contem-nos." Não um a um, com ábaco ou mesas de voto, mas no domínio da fé que lhes é próprio: eles contam com a mistificação de serem tomados pelas multidões que receberam o Papa.
A verdade é que, se Cavaco não promulgasse a lei, e ela regressasse ao parlamento e aí fosse votada por maioria, como se previa, o Presidente seria forçado a engolir o sapo.
Isso não invalida que mantivesse a sua convicção de não aceitar promulgar uma lei que autorize o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o que, transcende a meu ver, o âmbito eclesiástico.
Numa visão pouco voltada para as jogatanas políticas, não parece difícil, separarmos as águas.
A outra questão, a da ética, aquela que obriga as pessoas verticais, com carácter a manter a palavra dada, essa passou a sofrer de muitíssimas vicissitudes, na sua maioria, fruto do estilo de vida socio-política que o país vive desde ha uns tempos atrás.
Imaginemos que um candidato às próximas eleições presidenciais, apresentaria um programa onde dissesse: Caros cidadãos, candidato-me ao lugar de Presidente da República, porque me apetece, sei que o lugar a que me candidato é puramente representativo e vazio de qualquer poder de decisão, ou de intervenção. Sei que muito pouco, ou nada poderei fazer, com o fim de melhorar a vida dos portugueses, minorando os problemas que afligem a nossa sociedade, impondo estratégias, soluções, ou elaborando leis que, de acordo com a minha visão do país, tendam a resolver os problemas nacionais.
Candidato-me portanto, para cumprir o protocolo, recebendo no palácio onde passarei a habitar com todas as despesas pagas, para mim e a minha família, as altas personalidades que aceitarem o convite para os banquetes comemorativos, ou outros, que pretenda oferecer. Candidato-me para receber chefes de estado, reis, principes, etc. de países estranjeiros e posteriormente me deslocar ao país desses visitantes, acompanhado de uma comitiva que escolherei, com as despesas de viágem, alojamento e alimentação de primeira categoria, tudo pago pelo erário público.
Candidato-me para fingir que me apoquentam muitíssimo os problemas sociais internos, para me mostrar publicamente consternadíssimo sempre que sucedam desastres naturais, ou acidentes de maior escala.
Ah, é verdade (já me esquecia)... candidato-me ainda, para no final do primeiro mandato, caso não volte a ser eleito, já ter direito a um gabinete, carro de alta cilindrada, assessor, secretária, contínuo, motorista e segurança pessoal, assim como subvenção e todas as despesas com manutenção de instalações, pagas.
Uma completa maçada!
Não sei, mas secalhar um gajo destes, colhia o meu voto...
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