Maldita a hora
Por Antunes Ferreira
MAL ENTREI no táxi ainda ajustava o cinto de segurança pois me sentara ao lado do condutor, e lhe dizia o destino, saiu-lhe um «maldita vida» carregado de pontos de exclamação. «Essa agora, porquê? Queria uma ida ao Porto, ou, pelo menos, a Coimbra?» E estava a milímetros de o mandar encostar ao passeio, para sair do carro, quando ele explicou «nada disso, Senhor, estou só a lamentar a minha vida, estou farto disto, fartíssimo!...»
O homem afivelava um ar desgraçado, pior do que o tempo que fazia, mais carregado do que as nuvens quase negras que cobriam completamente o céu. Cautelosamente, avancei com um pseudo caridoso «a vida está má, tem toda a razão». A minha mulher, no banco traseiro, optara por um concordar de aceno de cabeça. E seguíamos pela Avenida da República, com as bátegas o trânsito estava, se possível, ainda mais caótico do que o habitual. (...)
MAL ENTREI no táxi ainda ajustava o cinto de segurança pois me sentara ao lado do condutor, e lhe dizia o destino, saiu-lhe um «maldita vida» carregado de pontos de exclamação. «Essa agora, porquê? Queria uma ida ao Porto, ou, pelo menos, a Coimbra?» E estava a milímetros de o mandar encostar ao passeio, para sair do carro, quando ele explicou «nada disso, Senhor, estou só a lamentar a minha vida, estou farto disto, fartíssimo!...»
O homem afivelava um ar desgraçado, pior do que o tempo que fazia, mais carregado do que as nuvens quase negras que cobriam completamente o céu. Cautelosamente, avancei com um pseudo caridoso «a vida está má, tem toda a razão». A minha mulher, no banco traseiro, optara por um concordar de aceno de cabeça. E seguíamos pela Avenida da República, com as bátegas o trânsito estava, se possível, ainda mais caótico do que o habitual. (...)
Texto integral [aqui]
Etiquetas: AF
2 Comments:
Neste fado e longo comboio de penúrias que é Portugal, não são os taxistas da vida que nos "comem" o juízo, mas os taxistas timoneiros ao volante dos seus engraxados BMW's que nos desgraçam o humor.
Uma crónica bem disposta, amigo Antunes mas, bastante realista.
Lembro-me de ha um porradão de anos, assinar umas revistas na área do sobrenatural, misturada com a científica, ou pseudo-científica, onde apareciam uns testemunhos de caramelos que tinham testemunhado experiências extra-sensoriais e extra-terrestres.
Numa dessas revistas, rcordo-me já com pouca clareza, de um artigo que compilava as previsões (profetizações)de diversos cientistas e estudiosos do para normal, que apontavam para os finais dos tempos, nesta era que vivemos.
Uma delas afirmava que a população mundial, iría tornar-se alienada, que iríam surgir profetas apocalipticos, etc, etc.
Quando assisti ao filme "Mad Max", achei que aquilo era a ficção levada ao exagero da fantasia... hoje começo encontrar nas atitudes sociais, algumas semelhanças com cenas desse filme...
Sinais dos tempos, caro Antunes...
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