24.6.11

Em frente

Por João Paulo Guerra

EM PORTUGAL, país com 600 mil desempregados matriculados, grande parte dos quais sem qualquer apoio, três em cada dez cidadãos está disposto a emigrar para arranjar emprego ou melhor emprego. A maioria dos potenciais emigrantes é constituída por jovens com formação superior, segundo dados de uma empresa internacional de estudo de mercados. Para além dos três em cada dez que admitem emigrar, quase metade da população activa está à procura de outro emprego. Este é o País que há, mais a expectativa do que está para vir.

Ora estes dados colocam Portugal no topo de uma tabela, o que é um caso cada vez mais raro: este é o país ideal para fugir daqui para fora e a sete pés, na opinião de uma parte boa da sua população, os jovens, e da sua população mais habilitada, os jovens com formação superior. A política mede-se pelos resultados e este é o resultado da política da sujeição do país ao império das negociatas e da sujeição ao ‘diktat' dos interesses das potências europeias, que agora ocupam o País e mandam nos governos.

Porque de facto é extraordinário que, nesta fase da competição, com o País à beira da ruína, a mesma classe política acorde para a necessidade da produção, depois de ter desmantelado tudo o que produzia; que descubra as vocações marítima e agrícola do País, depois de ter pago com fundos europeus o desmantelamento das pescas e da agricultura; que reinvente o carácter imperioso da formação, depois de ter desbaratado os respectivos fundos estruturais; que desperte para a urgência do emagrecimento do Estado, depois de ter canalizado para os caneiros estatais sucessivas gerações de ‘boys'.

Bem pode dizer-se que a classe política conduziu Portugal à beira do abismo; a ‘troika' empurra o País para o passo em frente.
«DE» de 24 Jun 11

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3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Ao longo de 30 anos de vida profissional, trabalhei por várias vezes no estrangeiro (nomeadamente na Holanda e na Alemanha, e por períodos relativamente longos), e de todas as vezes em que isso sucedeu regressei a Portugal bastante enriquecido em termos de conhecimentos (técnicos e humanos).

Assim, se os jovens licenciados forem para o estrangeiro, isso até é bom - desde que regressem mais tarde...

24 de junho de 2011 às 09:17  
Blogger José Batista said...

Portugal sempre foi o país ideal para "se fugir daqui para fora". As últimas décadas apenas atenuaram um pouco essa tendência devido à "mamadeira" dos fundos europeus, a maior parte deles, "devida e eficazmente encaneirados".

E não são apenas os jovens que pensam em fugir, o que acontece é que os velhos sabem que... não podem fugir. O país tornou-se uma ratoeira.

Agora, contraste-se esta situação com este título que extraio do "portal sapo": Estado esconde pensões políticas (DE)
Os nomes dos políticos que pedem ao Estado a atribuição da pensão mensal vitalícia passaram a ser secretos."

Ao menos assim salvam-se os nossos políticos aposentados vitaliciamente: esses não precisam de fugir.

Orgulhemo-nos.

24 de junho de 2011 às 10:17  
Blogger António Viriato said...

Desta vez, concordo bastante com o teor do artigo de JPGuerra.

Resta saber se ainda haverá capacidade de redenção, em ambiente democrático.

O escudo da União Europeia, até agora dado como infalível para prevenir fracassos democráticos, começa a não oferecer garantia suficiente.

De resto, até a própria UE corre sério risco de se desfazer e se tal acontecer, os saldo revelar-se-á, para nós, pouco menos que ruinoso : sem indústria metalo-mecânica, sem siderurgia, sem agricultura produtiva, quase sem pescas e com outras valências económicas em mãos alheias.

Acabaremos a forjar novo Plano de Nacionalizações ?

Seria o lado trágico da História, em dupla repetição.

Queira Deus, aqui também, o Marx não tenha razão.

Boa semana e continuação de inspiração jornalística.

27 de junho de 2011 às 01:04  

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