25.6.11

Semana em cheio

Por Antunes Ferreira

UMA SEMANA em cheio esta que ora finda. Parangonas informativas, mas sobretudo exclamativas, dado o que estava e está em causa. Há acontecimentos e pessoas que mobilizam as atenções da opinião pública, coisa que não se sabe muito bem o que é, mas lá que existe, existe. O rótulo é simpático para as massas populares que alegadamente a produzem e fica bem em qualquer escrito. E, além do mais, originou a saída à estacada de uns senhores que são a voz dela: os opiniadores públicos, numa tradução livre e pleonástica dos opinion makers, lá de fora.
Logo aqui nos debatemos com uma situação vulgaríssima em Portugal: o que vem da estranja é bom; mais do que bom: é óptimo. Confrontados com as declarações do Presidente da República, interrogamo-nos: então não é melhor consumir produtos portugueses, como ele aconselha? E como também afirma o Sr. Belmiro de Azevedo quando monta a sua feira na Avenida da Liberdade, e o Sr. Soares dos Santos igualmente, os tomates portugueses são excelentes. Em que ficamos?
Se pensam que estamos perante mais um texto de aplauso ao Dr. Passos Coelho, que até foi a Bruxelas em classe económica, tirem daí o sentido. Já tantos o escreveram que seria chover no molhado. De igual modo isso aconteceria – e entrados no Verão seria duplamente aborrecido – não estará em causa a eleição da Dr.ª Encarnação Esteves para Presidente da Assembleia da República. Aplaude-se, naturalmente, mas não entra para as contas deste rosário. Sobre a auto-imolação do Dr. supostamente Nobre, ponto final – pelas mesmíssimas razões.
O que tornou a semana que está no fim foi, real e verdadeiramente, o tema que mais preocupa os Portugueses: o futebol. A crise, essa, lá vai cumprindo a sua obrigação, mais troika, menos troika, menos austeridade, mais austeridade. Com um intervalo que se arrisca a ser menos entusiasmante, as férias possíveis, na expectativa do que está para vir. Preferencialmente nacionais, mas as agências de viagens continuam a pugnar pelas propostas exteriores. Complica-se o dilema. Que já nem se sabe se é trilema ou quiçá quadrilema.
O caso Villas-Boas abanou a falsa calma do defeso futebolístico. É óbvio que este estava a ter uma quanta agitação com as compras e vendas de jogadores, matéria quase sempre entusiasmante e fomentadora de grandes esperanças nos adeptos de diversas cores. Diga-se que a maior parte delas se esfuma no correr da época: os craques contratados não são tão estrelas refulgentes como se pretendia, as desilusões acabrunham sócios e simpatizantes, mas a vida, tal como a sorte, é madrasta.
A traição cometida e reconhecida pelo ex-treinador do FCP tem de ser lida no contexto financeiro complicado que o País vive. Adiante-se, já, que se trata de uma exportação de um produto nacional que rende ao clube da Invicta uns quinze milhões de euros e ao exportado uns cinco milhõezitos anuais. Há infidelidades perfídias bastante mais em conta, há que o reconhecer. Mas não têm o requinte de fazer ouvir o Sr. Pinto da Costa dizendo que não foi nada e que outros poderão sair, se forem batidos – o termo é dele – os euros constantes das cláusulas respectivas.
Surgiu depois o Benfica, pela voz do Sr. Luís Filipe Vieira, a anunciar que ele próprio, a SAD do clube e mais quatro administradores dela interpuseram acções judiciais, pedindo um total de 132 milhões de euros de indemnização a três empresas de comunicação social, três jornais, três directores e seis jornalistas. Em causa o que foi noticiado sobre a intervenção da Judiciária na vida dos encarnados, o que terá causado, de acordo com comunicado emitido que se tivessem levantado suspeições graves sobre os proponentes junto da várias varas cíveis da comarca de Lisboa.
Será preciso mais para justificar o que foi dito no início deste texto? Crê-se que não, que os ingredientes são mais do que suficientes, muito mais, portanto, do que o q.b. normalmente usado em receitas culinárias e noutras situações afins, correlativas ou concomitantes.
São bons exemplos de que vivemos quotidiana e corriqueiramente o quanto pior, melhor. Não se podia querer mais? Podia. Bastava que, para substituir o trânsfuga Sr. André Villas-Boas, os dragões tivessem vindo desviar o Sr. Domingos Paciência do Sporting. Não aconteceu. Mas, não se pode ter tudo.

Etiquetas: