21.9.11

A Madeira como assunto

Por Baptista-Bastos

PARECE que o dr. Jardim se ensarilhou na política de intimidação e de terror com a qual se tem mantido no poder. Ao omitir e manipular números vultosos e importâncias consideráveis nas contas públicas, ele pensava continuar na impunidade desprezível, cumpliciada por governos e Presidentes da República. A prova do Direito é a justiça clara e consistente. Ao admitir que ocultou números e somas enormes de dinheiro, em nome de uma falaciosa e obtusa "legítima defesa", colocou-se sob a alçada da lei. Não há que escapar ao facto nem ao argumento.

É uma figura grotesca e ridícula, já o sabemos e quase todos o dizem. E tem servido o folclore político nacional com a desenvoltura e o escarcéu de um velho clown. Os políticos, quase todos, rilham nas suas costas, mas são abjectamente mesureiros na sua frente. Os jornalistas que se atrevem a comentar os seus desmandos e aleivosias incorrem nas suas iras e perseguições. Fui um deles. Escrevi, no Jornal de Negócios, um artigo sobre a xenofobia do senhor, que, num comício do PSD, gritara, congestionado como sempre, não querer nem chineses nem indianos na ilha. Três anos depois, talvez devido à circunstância de esse artigo ter percorrido o universo dos blogues, e obtido uma repercussão extraordinária, fui processado e enviado a juízo no Funchal. Tudo ficou em águas de bacalhau, por ausência de causa.

A vaidosa arrogância com que se move e comporta, as alusões escabrosas a que recorre para injuriar este e insultar aquele, criaram-lhe uma legião de inimigos poderosos e infatigáveis. Inclusive no seu próprio partido, em que muitos aguardam, arquejantes, uma ditosa mudança. Ele pode ganhar as próximas eleições; porém, as coisas não vão ser as mesmas. E já se agitam, aqui e ali, aqueles que sabem o que se impõe fazer e o que é necessário alterar. Talvez ele ainda desconheça ou nem sequer creia, mas é já um cadáver político adiado. As dores das pequenas vinganças é o preço por que vai pagar este homem sem amigos, vítima de uma sobranceria sem nome, afinal a causa da sua destruição.

Digo-o sem regozijo nem satisfação. E não gosto do caudal de retaliações com que, só agora, o cobrem oportunistas a retalho. Mas foi ele quem forçou a escolha. E a escolha não poderia ser outra se não a indiferença ou o desprezo pelo seu destino. A tragédia do poder traduz-se na solidão, ocasionalmente encoberta por aplausos momentâneos.

Será preciso, no entanto, estudar os métodos e os efeitos de um procedimento e de uma acção políticos, cujos excessos podem conduzir a tudo. Até a expressões de fascismo. A questão é a de se apurar quais as consequências do "jardinismo", qualquer que seja o significado da expressão. Contudo, as mudanças serão dolorosas e, até, assustadoras. Para o povo madeirense, claro.

«DN» de 21 Set 11

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