24.10.11

Equidade

Por João Paulo Guerra

A EQUIDADE, ou idade da equidistância, entrou de supetão no discurso de Cavaco Silva. O chefe de Estado escolheu a questão do corte dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários e pensionistas do Estado para manifestar esta sua preocupação, considerando que o Governo está a praticar uma iniquidade ao penalizar os trabalhadores do sector público, poupando os do privado.

Ou seja, Cavaco Silva entrou em conflito com o Governo, no âmbito da discussão sobre um Orçamento brutal, que esmaga as pessoas, asfixia a economia e subdesenvolve o País, por achar que uma medida orçamental peca por defeito. Ora a verdade é que a questão da iniquidade marca todo este processo da austeridade, e do respectivo Orçamento, destinada a tapar buracos. Porque é sem dúvida iníquo que sejam os assalariados da classe média e os pensionistas, públicos ou privados, a pagar a crise da ganância e da delinquência financeira.

A questão quebrou o verniz nas relações entre Belém e São Bento, uma persistência que atesta a menoridade da vida democrática do País e da respectiva classe política, seja qual for o pólo que tenha aberto as hostilidades. Eanes contra Soares e vice-versa, Eanes contra Balsemão, Soares contra Cavaco e Cavaco contra as «forças de bloqueio», Sampaio contra o Guerreiro Menino, Cavaco a causar faísca na «cooperação estratégica» com Sócrates e, ao fim de 120 dias, a apresentar a Passos Coelho a factura da «magistratura activa». A novidade é que nunca um conflito institucional começara por uma denúncia de falta de equidade.

É talvez por isso que Portugal é o país mais desigual da Europa. O pior é que, com a iniquidade desta austeridade e deste Orçamento, a equidade tem tanto futuro como o 13.º mês. Para públicos como para privados.

«DE» de 24 Out 11

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