22.10.11

Com Cavaco é mais mina antipessoal

Por Ferreira Fernandes

OS PRESIDENTES da República têm um poder, derrubar o Governo, a que os noticiários chamam "bomba atómica". O termo é ridículo e, diga-se logo, o actual primeiro-ministro, Passos Coelho, não vai tornar-se uma Hiroxima. Primeiro, porque é da mesma cor política do actual Presidente e, sobretudo, porque não vai com o carácter de Cavaco usar uma arma tão definitiva. Cavaco Silva, a ser qualquer coisa explosiva, é mais mina antipessoal.
Como sabem, o próprio destas armas (nas mais sofisticadas) não é matar. A mina antipessoal tem a dose de explosivo que não faz desaparecer a vítima (que rapidamente seria esquecida) mas que só lhe estilhaça uma perna. Passeando-se, ela e as muletas, a vítima transforma-se em propagandista de quem pôs a mina: "Vejam na minha desdita como ele é forte..."
Pois Cavaco é assim, uma mina aqui, um recado ali, com uma perfídia pelo meio. Uma sua vítima não é um morto; é a prova de vida, dele, Cavaco.
Esta semana, foi mais uma vez dessa arma que ele fez uso. Minou o Orçamento de Passos Coelho, concluíram alguns. Mas não, minou foi pessoalmente Passos Coelho. Sobre o acontecer, não muda nada: o corte dos dois subsídios vai passar (se fosse para não passar, uma conversa privada em Belém teria resolvido). Sobre o que pode acontecer, mudou tudo: Portugal que precisa de ser governado volta a ter, pairando, a sombra de Cavaco Silva.
Acreditem, é pior que a perda de três subsídios.

«DN» de 22 Out 11

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5 Comments:

Blogger Mg said...

Não se perdia nada se perdêssemos o nosso pr...

22 de outubro de 2011 às 13:44  
Blogger José Batista said...

Realmente, o nosso presidente é (tem sido) uma lástima.
E é assim de raiz. Não evolui nem melhora.

A mim o que me aborrece é que não nos basta ter Cavaco, como já vejo outros a prepararem-se para lhe suceder, lembrando-nos, de diversos modos, que existem. Como se nós não sentíssemos o incómodo de (ter que) reparar.

Se eu tivera capacidade de persuasão começava já a tentar convencer todos de que, para a próxima, mais nos valia não termos presidente.
Ficava em seu lugar uma cadeira vazia.

Sempre era uma forma de contribuir para os cortes no aumento da despesa.
E, para martírio, já nos bastava ter que ir ouvindo as opiniões da "quadra" dos que passaram à condição de "ex". Os quais nunca se terão apercebido do abismo para onde (confortavelmente?) nos conduziram e/ou deixaram conduzir.

E só elegeríamos alguém de novo quando maioritariamente lhe sentíssemos a falta.

Ah, mas isto sou eu, em estado de desânimo.
A origem dos nossos males é a crise internacional. Pois claro.

22 de outubro de 2011 às 20:01  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Como hoje alguém diz no «Expresso», o problema não é Cavaco ter razão - até pode ter.

O problema é ele vir dizê-lo em público (quando se farta de apregoar que estes problemas se resolvem no recato dos gabinetes), criando uma mini-crise institucional numa altura em que era bem dispensável.

O grande trunfo português (a nível internacional) tem sido o consenso (pelo menos aparente) entre governo, PS e PR no que toca às medidas em curso.

22 de outubro de 2011 às 20:34  
Blogger José Batista said...

Este comentário foi removido pelo autor.

23 de outubro de 2011 às 15:49  
Blogger José Batista said...

Agora reparo: lá (mais) acima em comentário que fiz, no antepenúltimo parágrafo, onde se lê ..."para martírio, já nos bastava ter que ir ouvindo as opiniões da quadra dos que passaram à condição de "ex"", devia estar algo assim:..."para martírio já nos bastaria ter que ir ouvindo as opiniões da quadra dos que, entretanto, teriam passado à condição de "ex"".
Por respeito, não apago aquele escrito. Mas penitencio-me por estar tão "malzinho".
PS: vamos lá a ver ser agora já atinei com a correção. O que nasce torto...

23 de outubro de 2011 às 15:53  

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