19.10.11

Mais uma discussão errada

Por Ferreira Fernandes

A RTP convidava gente para explicar-nos o mundo e o País e, feito o trabalho, a RTP pagava uma avença. Agora, veio o ministro da tutela, Miguel Relvas, e disse: se esse explicador tem cargo público deixa de se pagar. A RTP aceitou.
Esses, os factos. Diagnóstico do comentador deste cantinho: tudo errado.
A pergunta é: os políticos avençados pela RTP iam à televisão por serem políticos ou porque eram capazes de nos esclarecer?
Se o político é convidado a comentar porque nos forma e informa (e a Direcção de Informação da RTP deveria ser a única, gerindo o pouco ou muito dinheiro que tiver, a decidir se é assim), ele tem todo o direito em cobrar pelo bom serviço prestado. Se escrever um livro, apesar de ser deputado, não recebe uma percentagem pelas vendas?
Toda a questão está enviesada porque se parte do princípio - confirmado pela maioria dos casos reais (na RTP e outras estações televisivas) - de que o político é convidado, não pelos seus méritos, mas para preencher a quota do partido. Tipo debate de futebol com a camisola do clube vestida. E aí, de facto, o que surpreende é que seja necessário aconselhar a RTP a poupar, e não ela a lembrar-se de cobrar pela publicidade pessoal ou partidária permitida.
Um comentador televisivo é um sábio e um comunicador, uma cabeça que pensa, de quem podemos suspeitar ou conhecer as suas tendências mas com quem nunca ficamos a perder escutando. Um homem assim nunca nos pode ficar grátis.

«DN» de 19 Out 11

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