18.10.11

Sobre o valor facial da mentira

Por Ferreira Fernandes

UM PROFESSOR do Laboratório de Expressão Facial da Emoção, da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, vai propor que o próximo Código Penal permita a análise das expressões faciais nos inquéritos da polícia. Ele diz que os interrogatórios de suspeitos deveriam ser filmados, para que os especialistas possam separar a verdade da mentira: "Na face vê-se tudo", garante. Enfim, o "Lie to Me" a passar do canal Fox para a PJ.
Nada contra, e até simpatizo com a iniciativa do professor que faz pela vida (vai fornecer a lista de peritos que as polícias vão precisar). O que não entendo é a pouca ambição na escolha do nicho de mercado.
Já o patrono da universidade do professor - Fernando Pessoa ("O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente, etc.")... - se tinha dedicado às mentirinhas de um grupo social irrelevante. O professor eleva a fasquia dos candidatos a analisar, os criminosos (mais numerosos e com maior impacto social que os poetas), mas mesmo assim a léguas das preocupações actuais dos portugueses. Hoje, estes o que queriam era meter a análise das expressões faciais não no Código Penal, mas no Código Eleitoral.
Por exemplo, quando um político em campanha diz que não mexe nos subsídios, no caso de ser promessa vã, topa-se na face? Levanta as sobrancelhas? Gira os olhos? Passa a mão na melena?...
"Na face vê-se tudo", garante o professor. Chamou-nos ceguinhos.

«DN» de 18 Out 11

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2 Comments:

Blogger Carlos Antunes said...

O problema é que, em campanha, os políticos andam a iludir-se a si mesmos.
Estão convencidos de que serão magníficos, de que farão tudo de bom pelo povo e serão amados anos a fio.
Dizem, por isso, a verdade da altura.
Mas depois quando sabem a verdade que os governantes anteriores escondiam, desconvencem-se logo... da política!
Fogem para o estrangeiro, para cargos directivos de empresas privadas, etc...
Não funcionava o método!

18 de outubro de 2011 às 14:59  
Blogger José Batista said...

Alguém que diga a esse professor que não é por falta de se ver o que tantos criminosos fazem que lhes têm poupado o devido castigo.

As razões são outras. E essas também as vemos. Até com os olhos fechados.

Caro Carlos Antunes:
Eu acho que temos tido, e continuamos a ter, "resmas" de políticos que nunca, em nenhuma altura, disseram a verdade. Nem a eles próprios, talvez.
Mas concordo consigo, entre nós, o método não funcionava. Porque os hábitos estão muito arraigados.
Mas, um dia, quem sabe? Eu quero alimentar a esperança. Só espero, no entanto, que a eventual bruteza das reações não nos coloque em situação pior que antes...
Isso, eu não desejo.

18 de outubro de 2011 às 19:29  

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