4.10.11

Filmes

Por João Paulo Guerra

TALVEZ porque andem a ver muitos filmes e séries de TV, ou por lerem muitos relatórios estrangeiros transcritos em boletins portugueses, a PSP e os serviços secretos prevêem para Portugal, 2011, um mês de agitação social.

Diz que é uma espécie de Outubro Vermelho. De maneira que foi declarada aberta a caça ao Outubro Vermelho, versão dobrada em português. Outubro 11 não será Abril 74 nem propriamente um PREC (processo revolucionário em curso, nos anos 70). Pelo sim, pelo não, a PSP e os serviços secretos já têm agentes a identificar grupos e protagonistas da contestação. É aquilo que lá fora, nas democracias musculadas, se designa e são "fichados" como ‘troublemakers', que em português se poderá traduzir por causadores de problemas ou suspeitos do costume: sindicalistas, comunistas e bloquistas, mais essa turba informal de bloguistas, recalcitrantes desalinhados, intelectuais de esquerda e outros companheiros de jornada, associações desnorteadas mais ou menos à rasca.

A teoria dos ‘troublemakers' é algo muito próximo de um fascismo a haver, já prefigurado por Scott Frank, argumentista do filme "Minority Report": todos são suspeitos, até prova em contrário, e com vigilância prévia detecta-se o criminoso antes do crime, como no caso presente o contestatário antes da contestação. E cidadãos são "fichados" e vigiados sem qualquer razão ou controlo judicial, pelo desígnio de pré-cogs que não passam de chicos-espertos, cabos-de-esquadra, ou intriguistas de serviço.

À margem dos filmes de terror que atormentam o poder, o que está em exibição é o exercício de direitos constitucionais, do protesto e da indignação, normais nas democracias e naturais na actual situação. Como diz o arcebispo de Braga, "nem sempre é possível segurar o povo".

«DE» de 4 Out 11

Etiquetas: ,

2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Já conhecemos este "filme" idiota:

Antes de alguns jogos de futebol, é a própria PSP que se encarrega de divulgar, amplamente, que será um "jogo de alto risco", e enumerar os dispositivos repressivos que tem em preparação.
Isso é 'música para os ouvidos' dos arruaceiros e 'hooligans', que apenas anseiam por um bom confronto.

Evidentemente, a ideia desses polícias (em geral comissários/as) não é tranquilizar ninguém, mas apenas mostrar que são necessários (porque, evidentemente, se trata de serviço pago).

É uma outra versão do bem conhecido «Eles são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam».

Só é pena que não se veja idêntico empenho da PSP na repressão de tantos outros casos que todos conhecemos - e que só não enumero porque seria gastar tempo e bits - além de que há limite de caracteres para os comentários...

4 de outubro de 2011 às 12:51  
Blogger Táxi Pluvioso said...

A tv sempre teve muita influência na formação dos nossos bófias. A década de 80, séries como Miami Vice, influenciaram a geração mais antiga, vestiam Hugo Boss e conduziam carros de alta cilindrada, esta de agora segue os CSI. E claro os filmes de porrada são a sua escola base. Na baixa lisboeta andam uns à paisana que operam nesse género cinematográfico. De facto, não é posto muito empenho na formação dos nossos bófias e a vida segue o seu rumo...

5 de outubro de 2011 às 07:26  

Enviar um comentário

<< Home